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ERROU FEIO

Guida forja surra e premia machistas em Travessia: Vingança despreza vítimas reais

REPRODUÇÃO/TV GLOBO

Alessandra Negrini caracterizada como Guida em Travessia; ela usa uma camisa rosa e colares dourados e tem o semblante transtornado em cena da novela

Guida (Alessandra Negrini) em cena de Travessia; ela forjou uma surra para se vingar do ex

SABRINA CASTRO

sabrina@noticiasdatv.com

Publicado em 25/1/2023 - 6h35

Guida (Alessandra Negrini) extrapolou todos os seus atos anteriores e optou por uma medida drástica para se vingar de Moretti (Rodrigo Lombardi) em Travessia: denunciá-lo por violência doméstica. Ela chegou a se atirar contra uma parede para incriminar o ex-marido e, com isso, só deu mais munição aos machistas que assistem à novela das nove da Globo.

Afinal, não é de hoje que as verdadeiras vítimas de violência, feminicídio e até assédio sexual são desacreditadas socialmente. Agora, contudo, quem já credita as leis de proteção à mulher como mecanismos de vingança terá um exemplo perfeito na TV aberta para justificar seus argumentos errôneos.

A ideia de que as mulheres denunciam os homens para se vingar é tão difundida que já tem até um nome: o mito da falsa acusadora. Organizações públicas e privadas que prestam apoio às vítimas se esforçam para driblar esse narrativa, enraizada no imaginário social. O site oficial do Instituto Maria da Penha, por exemplo, criou uma sessão específica para rebater esse tipo de afirmação:

A Lei Maria da Penha cria mecanismos para enfrentar e combater a violência doméstica e familiar contra a mulher, ou seja, trata-se de uma lei elaborada para proteger as mulheres [...] Portanto, é preciso fazer o registro de ocorrência para que a autoridade policial realize os procedimentos necessários tanto para a proteção da vítima quanto para a investigação dos fatos. Diante disso, em vez de falar em 'vingança', deve-se falar em justiça.

Por outro lado, as próprias instituições podem perpetuar o mito da falsa acusadora. Diversos relatos de vítimas ressaltam a experiência traumática de ser desacreditada não só pela família e amigos, mas também por agentes públicos. Essas pessoas ou tentam justificar o ato de violência cometido, ou tentam dissuadir a mulher de fazer a denúncia.

Assim, não é de se espantar que a violência doméstica seja tão subnotificada. Estima-se que 70% das mulheres vítimas de feminicídio no Brasil nunca tiveram o apoio devido do Estado --seja por não terem feito o Boletim de Ocorrência, seja por omissão dos profissionais envolvidos.

Dados da Central de Atendimento à Mulher, da SPM (Secretaria de Políticas para as Mulheres), mostram que a reclamação dos serviços da rede de atendimento à mulher totalizaram 5.302 registros em 2012 --85% deles relacionados à segurança das denunciantes. A falta de providências sobre o Boletim de Ocorrência (939), a recusa em registrar o B.O. (925), a omissão (691), o atendimento inadequado (563) e o despreparo em casos de violência doméstica (536) foram mencionados na pesquisa.

Desserviço da novela

Num cenário em que as vitimas são constantemente questionadas e seus relatos traumáticos desacreditados, é impossível não se perguntar: qual o benefício em reforçar a ideia de denúncia por vingança numa novela das nove da Globo?

Afinal, o produto mais visto da TV brasileira já se mostrou capaz de influenciar a sociedade, para o bem e para o mal. Basta lembrar do aumento de 4.400% nas doações de medula óssea em 2000, quando Laços de Família abordou a leucemia por meio do drama de Camila (Carolina Dieckmann).

A própria violência doméstica já foi alvo do chamado "merchandising social" na teledramaturgia --enredos que se ancoram em temas sociais para promover a conscientização e o debate entre os telespectadores. Durante o período de exibição de A Favorita (2009), a SEPM (Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres) registrou aumento de 22,3% nos relatos de violência recebidos pela Central de Atendimento à Mulher em relação ao ano anterior.

Quatorze anos depois, o caminho é justamente o inverso. É quase como se Travessia desse um argumento perfeito para uma pessoa desacreditar das denúncias por violência. Claro que é possível que as mulheres forjem a agressão, mas não parece ser uma boa ideia fortalecer a exceção em vez da regra no programa mais assistido do Brasil --país em que 699 mulheres foram vítimas de feminicídio só no primeiro semestre de 2022. 

Existe a possibilidade de Gloria Perez, a autora, estar começando a trabalhar a Síndrome de Münchausen na personagem de Alessandra Negrini, como o Notícias da TV já havia adiantado. O transtorno se dá quando uma pessoa faz de tudo para ter a atenção da outra, inclusive machucar a si própria, e tem prazer em enganar os outros. Mas não havia outra forma de falar sobre isso na novela, considerando a gravidade de uma denúncia falsa sobre um problema tão sério? 

Aliás, a vingança de Guida já tinha rendido o suficiente. Ela chegou a transar com o ex-melhor amigo e maior rival do marido, Guerra (Humberto Martins). Não tinha necessidade de ultrapassar esse limite. Parece, mais uma vez, que faltam boas histórias no folhetim.


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