VIDA REAL
REPRODUÇÃO/PRIME VIDEO
O assassino Francisco de Assis Pereira na série Maníaco do Parque: A História Não Contada
As séries documentais ganham força a cada ano. Em 2024, não foi diferente, e dois casos policiais do passado voltaram a ser notícia e promoveram importantes reflexões --também porque retrataram falhas gritantes da polícia durante as investigações. Assistir aos documentários Maníaco do Parque: A História Não Contada (Prime Video) e Volta Priscila (Disney+) faz o espectador mergulhar numa era que nem é tão distante, mas desprovida de cobranças e exatidão na conduta dos agentes da lei em um nível que impressiona.
Como a sociedade mudou nas últimas três décadas, essas duas séries, mais do que uma aula de História recheada de dor e erros, também são importantes para refletir sobre o papel da imprensa na cobertura de casos policiais.
Principalmente quando se transforma um assassino como Francisco de Assis Pereira em uma celebridade, que vende muito jornal. O Maníaco do Parque é um dos casos mais alarmantes de polícia do país. Um serial killer que aterrorizou São Paulo no final dos anos 1990.
O midiático estuprador e matador de mulheres tem sua história retratada em cima de fatos, mas a série impacta muito porque mostra como seus alvos eram tratados com descaso pela polícia. O machismo fez vítimas também.
Os depoimentos de quem cobriu, sobreviveu ou testemunhou o que aconteceu trazem detalhes terríveis, como o de um delegado que não prendeu o estuprador em flagrante porque ele disse que era namorado da vítima, enquanto a jovem atacada negava qualquer relacionamento.
O rosto de uma das garotas mortas pelo bandido também estampou durante muito tempo manchetes de jornais como se ela fosse namorada do assassino, já que o criminoso disse isso ao depor na delegacia, intimado por usar cheques dela e colocar seu pager como contato.
E ele só acabou pego pelo cheque sem fundo porque foi denunciado por um pai incansável na busca pela filha dada como desaparecida pela polícia. O maníaco entrou e saiu da delegacia pela porta da frente.
Fazer uma análise sobre o contexto social é dolorido, mas faz o espectador entender melhor como esse monstro da vida real agiu impunimente durante tanto tempo e como a conduta falha de quem devia proteger as vítimas corroborou esse desastre.
Já o desaparecimento de Priscila Belfort ocorreu em 2004 e foi amplamente divulgado em programas de TV porque ela é irmã do lutador de MMA Vitor Belfort e cunhada de Joana Prado, que foi musa da TV como a personagem Feiticeira. No documentário Volta Priscila, os depoimentos dos familiares levantam uma linha de investigação que não foi adotada pela polícia.
Parentes cogitam um possível aborto e apontam uma mudança de comportamento e no depoimento do namorado dela na época. Priscila namorava Luiz Cláudio Corrêa Fortes, filho de Márcio Fortes, ex-deputado federal e ex-presidente do BNDES.
Nesse caso, a polícia também tropeçou absurdamente, caiu em lorotas e fez operações gigantescas, que paralisaram parte do Rio de Janeiro, mas nunca deram em nada. O pior é que fake news sobre Priscila se espalharam e criaram uma imagem que não condizia com o comportamento verdadeiro dela.
Essas duas séries documentais são bons exemplos de importantes contribuições do audiovisual nacional para a história. A exemplo de outros bons documentários estrangeiros que merecem ser conferidos, como O Caso dos Irmãos Menendez (Netflix).
© 2024 Notícias da TV | Proibida a reprodução
Mais lidas