Reginaldo Leme em Senna, ator usa série para resgatar memórias que nunca teve

O ator Miguel Roncato tinha apenas um ano quando o acidente em Ímola tirou a vida de Ayrton Senna (1960-1994). Assim, a escalação para interpretar Reginaldo Leme na série Senna, da Netflix, veio como uma oportunidade de o jovem galã recuperar lembranças que nunca chegou a ter oficialmente. "Foi uma forma de eu resgatar minhas memórias", aponta.

"Eu me perguntei muito, durante todo o processo da série, se eu tinha alguma lembrança do Senna. Mas eu só tinha um ano quando ele morreu, na minha cabeça de criança pequena eu nem entendia muito bem o que tinha acontecido. Tenho uma coisa sonora de ouvir minha família falando sobre o Senna, de escutar conversas entre meus pais, entre pessoas que eu conhecia. O Senna era um tema muito presente", conta Roncato ao Notícias da TV.

De qualquer forma, o artista não precisou ir muito longe nas lembranças para encontrar seu personagem, já que Reginaldo Leme segue vivo e na ativa, cobrindo Fórmula 1 pela Band. Se isso facilitou a pesquisa do ator, também tornou a sua responsabilidade ainda maior.

"O Reginaldo tem uma credibilidade muito grande, é uma responsa fazer um personagem real e vivo. Tive uma preocupação de me associar a ele, me aproximar dele, mesmo sem ter um contato direto. Fui exposto a registros antigos, imagens de arquivos, momentos das grandes corridas", lembra.

"Foi um mergulho intenso não só na pessoa que o Reginaldo é, mas também no registro vocal dele, no timbre da voz, porque a voz dele é o elemento que permeia as cenas. Eu me preparei muito com uma fonoaudióloga, a Deborah Feijó, para manter a linha da atuação", valoriza o ator, que é formado em Jornalismo, mas nunca exerceu a profissão.

Muito do trabalho de Roncato na série ocorreu em dobradinha com Gabriel Louchard, intérprete de Galvão Bueno. "Nós até fizemos uma preparação especial em dupla, porque há um bate-bola intenso entre os dois."

Com a minissérie lançada há uma semana, Miguel Roncato celebra o bom desempenho de Senna com o público e com a crítica --a produção foi até indicada ao Critics Choice Awards, feito inédito para uma atração televisiva do Brasil. "A gente sempre espera que as pessoas vejam, se emocionem. E acho que é legal apresentar o Senna para uma nova geração também. Eu mesmo acabei conhecendo muito mais sobre ele enquanto gravava."

Da boate Kiss ao grande herói brasileiro

Senna é o segundo trabalho de Roncato na Netflix: ele já tinha aparecido na minissérie Todo Dia a Mesma Noite (2023), inspirada no incêndio da boate Kiss. Nascido no Rio Grande do Sul, o ator tinha lembranças mais vivas --e dolorosas-- da tragédia em Santa Maria.

"Eu tinha amigos que moravam lá na época, conheci figuras muito parecidas com o Felipinho [seu personagem na atração], passei a infância ao lado de pessoas como ele. A tragédia em si tinha me impactado bastante, e foi difícil separar o meu senso crítico do meu lado ator", admite.

"No geral, o artista é acostumado a não se abalar com o que interpreta, porque temos que acessar e desacessar aquilo de maneira muito rápida. Você tem que desenvolver essa habilidade de ligar e desligar, senão enlouquece. Mas, no caso da Kiss, eu carreguei aquilo durante os três meses de gravação. Pela primeira vez, eu dei uma titubeada de energia. Acho que nós devíamos esse respeito à dor das vítimas, das famílias, da cidade", reconhece.

"Com o Senna, era o outro lado da moeda, algo mais leve, porque a gente está falando de um ídolo, e em uma série sobre velocidade, com muita ação. Foi um outro registro de atuação", arremata ele.

A minissérie Senna está disponível na íntegra na Netflix desde a sexta-feira passada (29). Confira o trailer da superprodução nacional: