ANÁLISE | O RICO E LÁZARO
Reprodução/RecordTV
Vitor Hugo é o profeta Jeremias em O Rico e Lázaro; novela aposta na pregação no seu início
RAPHAEL SCIRE
Publicado em 18/3/2017 - 8h34
Truncada: assim pode ser definida a primeira semana de O Rico e Lázaro, a nova novela bíblica da Record. Com um elenco pra lá de inflado em personagens de pouca complexidade, a história deixa de lado o caráter folhetinesco e um certo ganho no texto que a antecessora A Terra Prometida havia dado ao principal produto da casa. Parece uma sucessão de cenas com um fio condutor ainda frágil.
O Rico e Lázaro parte de uma parábola bíblica sobre dois homens que morrem no mesmo dia. Um deles ganha os céus, ao passo que o outro vai direto para o inferno. Os dois são vividos por Igor Rickli (Zac) e Dudu Azevedo (Asher) e, por não serem protagonistas da Bíblia, espera-se, tendem a ter um pouco mais de contornos dramáticos, escapando do maniqueísmo latente das novelas da Record.
Zac e Asher disputarão o amor de Joana (Milena Toscano), e a triangulação amorosa cumpre uma cota folhetinesca que ainda falta na novela, ao menos na primeira fase. Como pano de fundo, a trama abordará os anos de dominação do povo hebreu pelo rei Nabucodonosor (Heitor Martinez), o grande vilão da vez.
Por ter sido apresentada sem intervalos comerciais na primeira semana, ficou uma sensação de poucos ganchos, um recurso primordial a qualquer folhetim e que aqui foi reservado apenas aos finais dos capítulos. Ainda assim, fracos.
O número elevado de personagens contribuiu também para gerar uma certa confusão na identificação de cada um deles. Se levarmos em conta que boa parte do elenco da Record é de rostos semiconhecidos do público, isso só ajuda a aumentar o nó na cabeça de quem assiste.
É claro que, com o tempo, o telespectador se acostuma com personagens de nomes pouco usuais, e os rostos vão se tornando mais familiares, mas a identificação inicial é uma premissa para cativar logo de cara quem assiste.
Falta também aquilo que damos o nome de contaminação: uma discussão ou atitude que leva a uma ação na cena seguinte, que por sinal desencadeia outra sequência e assim por diante.
Afora as cenas de guerras, que não foram poucas, as trivialidades do cotidiano dos hebreus e dos babilônicos são de pouco impacto. Os diálogos preocupam-se, sobretudo, com a evangelização, o que de certa forma limita o público mais interessado em acompanhar uma história e não um sermão.
É interessante notar que O Rico e Lázaro repete ainda uma cena presente em praticamente todas as novelas bíblicas da emissora: o corre-corre, com figurantes para lá e para cá, poeira sendo levantada e uma cidade à beira da destruição depois do ataque de algum exército rival. No caso, Judá em polvorosa com o avanço dos babilônicos.
Mas há pontos de destaque, obviamente: a produção da Casablanca segue esmerada, com efeitos especiais mais aprimorados do que nas novelas anteriores. O recurso de multiplicação dos figurantes em cenas de guerra funciona, assim como a caracterização dos atores, sem aquela sensação de perucas e barbas falsas.
Alguns atores também merecem reconhecimento em seus papéis. É o caso de Heitor Martinez, Denise Del Vecchio (Elga), Lucinha Lins (Zelfa), Vitor Hugo (Jeremias) e Cássia Linhares (Shag-Shag).
O Rico e Lázaro ainda tem tempo de entrar nos eixos. A Record conquistou um público fiel para suas novelas e deve apresentar a ele histórias com cada vez mais qualidade. Melhor deixar o sermão para os templos.
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