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Análise | Chaves

Roberto Gómez Bolaños foi o Charles Chaplin latino-americano

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Roberto Gómez Bolaños como Chaves; humorista morreu nesta sexta-feira (28), no México - Reprodução

Roberto Gómez Bolaños como Chaves; humorista morreu nesta sexta-feira (28), no México

PAULO PACHECO

Publicado em 28/11/2014 - 20h32

Escrevo em primeira pessoa, com os olhos marejados, para agradecer uma pessoa que marcou a minha vida. Um ator, um escritor, um comediante, um artista, um fenômeno. Enfim, um gênio. Roberto Gómez Bolaños, criador de Chaves e Chapolin, que nos deixou nesta sexta-feira (28). Considerado o Charles Chaplin latino-americano, revolucionou o humor no continente e trouxe alegria para milhões de casas no mundo inteiro, como a minha.

Nasci em 1989, cinco anos depois da estreia de Chaves e Chapolin no Brasil. Porém, conheci as séries de Bolaños ainda no período pré-natal. Minha mãe assistia a Chaves no sofá da sala quando estava grávida. Na época, os dois programas já eram muito populares no México e na América Latina e começava a fazer sucesso no Brasil.

Como explicar o sucesso de Chaves? Nem o próprio Roberto Gómez Bolaños sabe explicar. Ele já disse em entrevista que o sucesso se faz com 10% de inspiração e 90% de transpiração. O fato é que Chaves se alastrou pelo mundo todo. O programa foi transmitido em mais de cem países e traduzido para mais de 50 idiomas. Chaves unificou a América Latina e deu aos latino-americanos uma identificação cultural até então inexistente.

El Chavo del Ocho, nome do programa no México, virou Chaves em 1984, graças a Silvio Santos, que comprou enlatados mexicanos para o SBT, e Marcelo Gastaldi (1944-1995), dublador de Roberto Gómez Bolaños, que acreditou no potencial da série. Eles formaram a base para o êxito dos programas de Chespirito (apelido de Bolaños) no Brasil.

Cresci nos anos 1990 assistindo a Chaves e Chapolin na hora do almoço, como quase todas as crianças brasileiras com TV. Sofri com as constantes mudanças de horário do SBT. Entretanto, me descobri fã de Chaves nos anos 2000, quando a internet me aproximou de desconhecidos (e hoje amigos), me trouxe conhecimento e me fez jornalista.

Lembro-me até hoje quando Chaves voltou ao SBT, às 17h30 de 8 de novembro de 2004, após dez meses fora do ar. Meu telefone não parava de tocar. Os colegas de escola me ligavam constantemente para avisar que estava passando o episódio de Acapulco, talvez o mais conhecido da série. Eu já estava lá, observando com Chaves a paisagem da praia mexicana.

Nos últimos dez anos, participei de fóruns de discussão, fã-clube, eventos ligados a Chaves. Esta década, aliás, foi a mais intensa de CH (como os fãs chamam as séries de Chespirito) no Brasil. Foi emocionante ver gente de tantos lugares do país unidas por uma paixão. Chaves transcende a simples admiração. O fã adora. O fã ama.

Por isso, choro a morte de Bolaños. Assim como lamentei todas as centenas de boatos sobre a morte dele nos últimos anos. Assim como me preocupei com cada foto do comediante com tubo de oxigênio. Aos poucos, a tristeza se vai e a alegria ao lembrar as piadas de Chaves voltam à lembrança de todos os admiradores.

Obrigado, Roberto Gómez Bolaños. Parafraseando Buenas Noches Vecindad, música que embala o final do episódio de Acapulco, prometo despedir-me de você sem dizer adeus jamais.


PAULO PACHECO, 25 anos, é repórter do Notícias da TV.


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