INTELECTUAIS DO FOLHETIM
ARQUIVO/BELAS ARTES
Estúdio da faculdade Belas Artes onde os alunos realizam seus projetos audiovisuais
Como parte das comemorações dos 70 anos da telenovela brasileira, que serão comemorados em dezembro, a faculdade Belas Artes criou um curso de pós-graduação em Teledramaturgia, o primeiro do Brasil. A ideia é transformar a academia em um espaço de excelência no estudo dos folhetins no país.
O curso será coordenado por Guilherme Bryan, professor da Belas Artes há nove anos, escritor, jornalista de formação, um dos coordenadores do curso de Produção Fonográfica e criador do projeto BA em Cena, que desde 2018 convida profissionais da dramaturgia para palestrar aos alunos da faculdade.
"Pessoas incríveis já falaram com a gente, como Tony Ramos, Gloria Pires, Zezé Motta, Eva Wilma [1933-2021], Irene Ravache... Começamos a mapear a dramaturgia através desses encontros, e então surgiu a necessidade de criar um curso voltado especificamente para a teledramaturgia", afirmou.
Segundo Bryan, uma paixão nacional de 70 anos merece uma pós-graduação voltada especialmente para a área. Especializações em telenovelas já existem, mas como mestrados e doutorados de outros cursos de graduação. A pós da Belas Artes é inédita por ser voltada especificamente para a teledramaturgia, sem estar associada a outro curso de Comunicação ou Arte.
Feito à distância, o curso tem duração de um ano e meio e pretende capacitar o aluno para desenvolver projetos de teledramaturgia em atuação, produção, roteiro, cenografia, figurino, direção, efeitos visuais e sonoros.
"Diferentemente de um mestrado ou doutorado que você vai fazer uma pesquisa específica em um tema, aqui de fato fazemos um grande painel que torne o profissional capaz de conhecer esse universo da teledramaturgia", afirma o coordenador do curso.
Em sua concepção, o curso pretende unir professores e pesquisadores da própria Belas Artes com pessoas que trabalham ou já trabalharam no mercado da teledramaturgia. Neste sentido, mistura três frentes: a parte histórica da teledramaturgia no Brasil; o mercado, a tecnologia e os rumos que esse tipo de produção está tomando atualmente e também as partes específicas da ficção seriada, desde o roteiro inicial até a pós-produção.
"É uma tentativa de transformar a BA em um espaço de excelência no estudo de teledramaturgia no Brasil e buscar uma internacionalização, ou seja, se aproximar das produções e dos estudos de teledramaturgia em outros lugares do mundo", relata Guilherme Bryan.
Um dos professores que fará parte da iniciativa é Mauro Alencar, doutor em teledramaturgia pela USP e autor do livro A Hollywood Brasileira, obra que traça um panorama histórico da telenovela no Brasil. Segundo ele, no momento atual, 70 anos depois da origem da teledramaturgia no Brasil, existe uma demanda muito grande para novos profissionais.
"Eu passei pela TV Cultura, SBT e, só de Globo, foram 30 anos! Isso fora minha experiência internacional estudando telenovelas. O que me entusiasmou na Belas Artes? Ser um curso pioneiro de pós-graduação em Teledramaturgia, isso me pareceu uma coisa inusitada", afirma o especialista em novelas.
Para ele é necessário transmitir conhecimento para a nova geração da teledramaturgia. "Como diz Lima Duarte: há muita informação e pouca formação. Ficam ideias muito jogadas e muito soltas que demandam estudo. Quando a Belas Artes me propôs isso, eu achei sensacional", relata Alencar.
O doutor em teledramaturgia promete unir a academia ao cotidiano e ficará responsável pelo estudo histórico das telenovelas da década de 1950 até a década de 1990. Segundo Alencar, o curso não ficará restrito às telenovelas: "O curso é de Teledramaturgia, então será abordada a série, a minissérie, a soap opera norte-americana e o unitário, que são os especiais, mas eu compreendo que no Brasil e na América Latina ainda o eixo central é a telenovela".
Outro nome convidado pela Belas Artes é a atriz Tuna Dwek, uma das autoras do livro Telenovela - História, Características e Perspectivas, coletânea de artigos que será lançada juntamente com a pós-graduação. Ela é madrinha do projeto BA em Cena e acredita que o curso chega em boa hora.
"Imagina o que é ter em uma faculdade a possibilidade de estudar teledramaturgia, que é uma coisa que você tinha que estudar sozinha e não tinha essas ferramentas todas que uma universidade te dá", afirma. Para ela, o curso não se limita à formação apenas de atores ou diretores e vai possibilitar um estudo intelectual da teledramaturgia.
Ela conta que a diversidade de olhares de pesquisadores e produtores em um só curso é muito útil e rica. "É uma imersão. Um curso como esse abrange toda a parte técnica, a parte humana, a parte teórica e a parte prática. Então a pessoa que faz esse curso tem todo um arsenal que faz com que ela vá pro mercado mais preparada", afirma a atriz.
Os realizadores do curso ressaltam a atualidade do estudo da teledramaturgia, apesar de muita gente ter a concepção de que novela é coisa do passado. "Para alguém que pretende trabalhar e viver de audiovisual, pensar com carinho na teledramaturgia é quase que obrigatório", afirma Bryan.
Para ele, as plataformas e a forma de produzir podem mudar, mas as pessoas seguirão apaixonadas por contar histórias neste formato. Alencar concorda com a visão. "Eu vejo muita série no streaming que me remete às produções de novelas dos anos 1970 da Globo e da Tupi. [Têm] Menos personagens, apenas dois ou três cenários, você não se perde na história... E os autores não tinham condição de ficar esticando", afirma o especialista em telenovela.
Ele é categórico ao afirmar que o curso é atual porque esse é o gênero de ficção que melhor funciona no Brasil, na América Latina e que exporta o país para o mercado estrangeiro. "O que eu não posso me privar de dizer é: a história mudou, o contexto da indústria cultural hoje é outro", afirma Alencar.
ARQUIVO/BELAS ARTES
Estudantes aprendem a produzir dramaturgia
Tuna Dwek segue a mesma linha. Para a atriz, a teledramaturgia não é só um segmento da cultura nacional: é uma linguagem, uma forma de expressão e de construção do texto mundialmente reconhecida.
"Não é à toa que no mundo inteiro tantas produtoras querem fazer algo parecido com a telenovela brasileira. Da mesma maneira que, de uns tempos para cá, os seriados brasileiros querem se igualar às coisas que a gente vê nos norte-americanos enquanto linguagem", afirma ela, que aposta que o formato não está com os dias contados. "A telenovela está indo para o lugar que sempre foi, o da comunicação em massa", finaliza.
As inscrições para participar do curso estão abertas e podem ser feitas online. A matrícula custa R$ 500, e o investimento total para quem quer fazer os três semestres da pós-graduação é de R$ 15.300, que são divididos em mensalidades a combinar com a faculdade.
As aulas começam em 19 de outubro e serão realizadas às terças e quintas, das 19h às 22h40. A grade do curso e mais informações sobre como se inscrever estão disponíveis no site da Belas Artes.
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