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Primeira no mundo

Repórter com Síndrome de Down quer entrevistar Marília Gabriela

Divulgação/TV Brasil

Fernanda Honorato, primeira repórter com Síndrome de Down, em gravação para o Programa Especial - Divulgação/TV Brasil

Fernanda Honorato, primeira repórter com Síndrome de Down, em gravação para o Programa Especial

PAULO PACHECO

Publicado em 30/5/2014 - 16h15
Atualizado em 31/5/2014 - 7h06

No ar na TV Brasil desde 2006, Fernanda Honorato foi reconhecida em maio como a primeira repórter com Síndrome de Down do país pelo RankBrasil, órgão que homologa recordes brasileiros. Surpresa com o feito, a carioca de 34 anos quer ir mais longe: entrar no Guiness Book, ter seu próprio programa e entrevistar Marília Gabriela, "sua musa inspiradora".

"Agora é oficial mesmo! Vou ser sincera, para mim foi uma grande honra. Gostaria de agradecer o RankBrasil por ter acreditado em mim", comemora.

A Síndrome de Down, alteração genética no cromossomo 21 que dificulta a capacidade intelectual, atinge cerca de 270 mil brasileiros, segundo estimativas do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). A deficiência, entretanto, não prejudicou Fernanda Honorato, que demonstrava ter vocação para comunicação desde cedo.

Quando criança, imitava a jornalista Marília Gabriela e fazia entrevistas com familiares. A admiração pela apresentadora, que completa 66 anos hoje (31), continua na vida adulta: "Eu, na verdade, já nasci com esse dom. Quando eu era pequena, vivia entrevistando minhas primas, brincando de ser Marília Gabriela. Ela é minha musa inspiradora, queria muito entrevistá-la no meu programa".

Fernanda Honorato começou como repórter no Programa Especial, atração da TV Brasil voltada à inclusão social de pessoas com deficiência. Dançarina e nadadora, ela participou do programa como entrevistada e impressionou a equipe com sua desenvoltura à frente das câmeras. A produção, empolgada, teve a ideia de chamá-la para trabalhar no programa.

"Chamei a Fernandinha para um teste e a achei muito desenvolta, comunicativa, daria uma boa repórter. Achava importante ter uma pessoa com deficiência intelectual como repórter, porque é uma visão que só ela pode dar", explica Angela Reiniger, diretora do Programa Especial.

O começo, entretanto, não foi fácil. Por ter uma deficiência que pode dificultar a habilidade cognitiva e até provocar retardo mental, a capacidade de Fernanda Honorato foi vista com descofiança e descrédito.

"Algumas pessoas na época acharam que era uma loucura, mas achei que valia a pena e, graças a Deus, estava certa, a Fernandinha arrasa nas entrevistas", comemora Angela Reiniger.

O programa, que comemora dez anos no ar em 2014, tem mais duas pessoas com deficiência, ambos cadeirantes: a apresentadora Juliana Oliveira e o repórter José Luiz Pacheco, que fala sobre esportes radicais.

Fernanda Honorato, por sua vez, adora falar sobre cultura e colher histórias inspiradoras, e recebe de volta a admiração de seus entrevistados: "Eles dizem que sou uma inspiração, tem gente que não tem nenhuma deficiência e me adora".

Fernanda Honorato entrevista o geneticista Zan Mustacchi para o Programa Especial (Divulgação/TV Brasil)

Em seu currículo, estão reportagens com Zezé Di Camargo & Luciano, Fagner e o nadador paralímpico Clodoaldo Silva. Durante uma entrevista com a cantora Maria Bethânia, publicada pelo jornal O Globo, foi descoberta por jornalistas italianos, que se supreenderam com a repórter. Foi o primeiro passo para ela e sua equipe irem atrás do recorde mundial.

"Queremos inscrevê-la no Guiness Book, porque pelo que a gente sabe ela é a primeira repórter com Síndrome de Down no mundo. Internacionalmente não está homologado, mas já está no Brasil", afirma Angela Reiniger.

Fernanda Honorato já conquistou seu espaço no Brasil: participou de dois filmes (Cromossomo 21 e Entre Amores) e planeja ter seu próprio programa de TV. "Quem sabe um dia eu posso ter um programa com meu nome. Se depender da Angela... (risos)", torce.

A principal luta da repórter, porém, é contra a discriminação. Ela reconhece que o respeito e a admiração que conquistou como repórter não é privilégio de todos os portadores de Síndrome de Down, e acredita que a principal causa do preconceito é a desinformação.

"As pessoas devem colher mais informações sobre pessoas com deficiência para diminuir mais o preconceito", alerta.

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