ABUSO INFANTIL
REPRODUÇÃO/RECORD
Bacci no Balanço Geral; Record exibiu reportagem de seis anos atrás sobre abuso infantil
A Record resgatou uma reportagem especial exibida em 2017 e a colocou no ar como se fosse atual nesta sexta (23). As imagens retratam a exploração sexual de crianças na Ilha de Marajó, no Pará --assunto que ganhou as redes sociais nas últimas semanas. No entanto, a exibição do material apenas colaborou para a circulação de fake news. Procurada pelo Notícias da TV, a emissora ainda não se pronunciou.
Na programação de jornais da emissora de Edir Macedo, o mesmo trecho da reportagem, que foi originalmente produzida para o Jornal da Record há seis anos, foi exibido no Balanço Geral São Paulo e Cidade Alerta.
"As denúncias de exploração sexual infantil na Ilha de Marajó, no Pará, estão provocando comoção em todo o Brasil. Nós estivemos no local --este caso volta a chamar a atenção, famosos entraram também no caso, e estão fazendo um alerta dos problemas graves que estão acontecendo na Ilha de Marajó", comentou Luiz Bacci, antes de exibir as imagens de seis anos atrás.
"O Jornalismo da Record está atento a isso, sempre denunciou a situação, com reportagens recentes, e um registro em foto das denúncias, feitas desde a década de 1980. Até hoje, ninguém tomou providências", acusou o jornalista.
A fala do profissional corroborou para uma onda de desinformação que toma as redes sociais e é, inclusive, alvo de repúdio por organizações que cuidam a Ilha do Marajó. A ONG Observatório do Marajó, que atua na luta contra a vulnerabilidade da população local, afirmou que a população não normaliza as práticas e que providências têm sido efetivamente tomadas.
"No primeiro semestre do governo Lula, práticas concretas foram anunciadas e tomadas: doação de equipamentos e veículos, formações e treinamentos, articulação com o governo do Estado do Pará para fortalecimento da rede de proteção à criança na região", afirmou a ONG.
O Notícias da TV tentou contato com a Record, que não respondeu até a publicação desta reportagem. O texto será atualizado caso a emissora se pronuncie.
Recentemente, um vídeo da música Evangelho de Fariseus, da cantora gospel Aymeê, viralizou na internet e reacendeu a discussão sobre as supostas violações de direitos humanos no arquipélago.
Em sua apresentação, a artista alegou que as práticas são consideradas normais na região --algo repudiado pelas organizações que atuam na Ilha de Marajó-- e que haveria uma rede de tráfico de órgãos no local, o que já foi desmentido pelo Ministério Público Federal.
A pauta, porém, foi utilizada para disseminar desinformação sobre o tema. Nas redes sociais, internautas da extrema direita resgataram um discurso de 2022 da ex-ministra do governo de Jair Bolsonaro, Damares Alves (Republicanos), sobre supostas práticas de tortura e mutilação de crianças para abuso sexual no Marajó.
Além disso, foram utilizados vídeos de crianças no Uzbequistão, nos quais uma motorista aparece transportando alunos de uma escola infantil de forma irregular, para ilustrar as mentiras.
A nota de repúdio às fake news da ONG Observatório do Marajó reforçou que o local não deve ser associado ao turismo sexual infantil. "A propaganda que associa o Marajó à exploração e o abuso sexual não é verdadeira: a população marajoara não normaliza violências contra crianças e adolescentes. Insiste nessa narrativa quem quer propagá-la e desonrar o povo marajoara", afirmou o documento.
"Enquanto ministra de Estado, Damares Alves não destinou os recursos milionários que por diversas vezes prometeu para a região, para fortalecer comunidades escolares", confirmou a instituição.
"Não espalhe mentiras sobre o Marajó nas redes e nem caia em desinformação e pânico moral! Procure, siga e fortaleça organizações da região, como Marajó Vivo, Comissão Pastoral da Terra, MALUNGU e as demais organizações que compõem o Fórum da Sociedade Civil do Marajó", pediu a instituição.
As notícias falsas que tomam conta das redes sociais também sugerem que o governo suspendeu as ações voltadas ao combate do abuso infantil na Ilha de Marajó --o que foi desmentido pelo Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania do Brasil, que continua com o Programa Cidadania Marajó.
O atual ministro da pasta, Silvio Luiz de Almeida, solicitou uma investigação do caso à Advocacia-Geral da União (AGU). "Solicitei à AGU que avalie a tomada de providências legais diante de mais uma tentativa de vincular Marajó ao grave problema do abuso e exploração infantil. É preciso saber a quem interessa a divulgação de mentiras sobre a atuação dos governos na região", escreveu no X, o antigo Twitter.
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