Sem Glamour
Reprodução
Pedro Andrade, apresentador de documentário, posa para fotos e relembra tempos de modelo
Em tempos de discussões fervorosas sobre equiparação salarial entre homens e mulheres, o canal GNT exibe o documentário Sem Glamour - A Verdade Nua Sobre os Modelos Masculinos, que expõe um dos poucos _senão o único_ setor em que essa lógica é invertida: o mercado da moda. O jornalista e ex-modelo Pedro Andrade entrevistou profissionais para mostrar o que acontece nos bastidores dessa área em que mulheres podem ganhar até 20 vezes mais do que homens e que os modelos masculinos são alvo de preconceito, principalmente sexual.
A atração foi lançada em junho do ano passado no site do canal Fusion, do grupo ABC, e será exibida pela primeira vez no Brasil neste sábado (16), às 23h30, como parte da programação dedicada à moda que o canal pago exibe durante todo o mês de abril. Além de atuar como apresentador do canal americano, Pedro Andrade faz parte do time do Manhattan Connection, da GloboNews, e comanda o programa de viagens Pedro pelo Mundo, exibido pelo GNT desde março deste ano.
A seguir, entrevista concedida por Pedro Andrade, conhecido não só pela beleza, mas também pela inteligência:
Notícias da TV - Como foi revisitar o mundo da moda, já que trabalhou como modelo?
Pedro Andrade - Tenho muito orgulho do trabalho que fiz como modelo. O preconceito contra modelos masculinos é algo que sempre me incomodou muito e talvez por isso eu tenha tido a iniciativa de retratar essa realidade de forma mais esclarecedora. Esta história de que todo modelo é burro, narcisista, gay ou vendido é uma grande bobagem e tenho total convicção de que boa parte dessa ideia equivocada vem das inseguranças de quem espalha esse tipo de comentário. Há uma série de noções equivocadas com relação a esse universo. Não é porque você está em um outdoor ou na capa de uma revista que esteja rico. Muito pelo contrário.
O que o mundo dos modelos masculinos tem de peculiar? O que o diferencia se comparado ao feminino?
Para começo de conversa, a disparidade entre os salários. Ano passado Gisele [Bündchen] lucrou mais de 45 milhões de dólares. O modelo masculino mais bem-sucedido do mundo, Sean O'Pry, ganhou 1,8 milhão [de dólares]. Além da prostituição, não há ofício que pague mulheres tão mais que homens. Quero deixar claro que acredito em oportunidades e salários iguais em todos os setores. Historicamente falando, mulheres sempre foram injustiçadas e até hoje são merecedoras de mais dinheiro e respeito do que geralmente recebem. No entanto, nesse caso específico, gostaria de ver um equilíbrio um pouco mais justo.
Por que a diferença de cachês é tão grande?
Um motivo crucial para que mulheres tenham sempre sido mais bem pagas do que homens no universo da moda é que há mais interesse, oportunidades e investimento no setor feminino. Mulheres compram mais que homens e há um número maior de lojas, cosméticos, maquiagem e tratamentos dedicados a mulheres. Por isso, o valor de uma modelo tende a ser desproporcional ao de um homem. Com isso dito, é fundamental lembrar que hoje em dia a indústria masculina também cresceu. A vaidade masculina nunca foi tão aceita quanto é nos dias de hoje; por isso, o salário dos modelos masculinos deveria ter crescido proporcionalmente.
Existe a ditadura da magreza também para os modelos masculinos?
Não. Existe a ditadura do six packs [barriga tanquinho]. O homem geralmente tem que ser mais sarado. Isso demanda mais horas na academia e cuidados com a alimentação. A obsessão com a magreza no universo feminino pode gerar problemas de saúde, algo que já não ocorre com os meninos.
Homens enfrentam muito preconceito nessa área?
Sim. Enfrentam. Talvez, em parte, graças ao fenômeno do filme Zoolander [comédia de 2001 estrelada por Ben Stiller], muita gente vê modelos masculinos como alguém que não consegue sustentar uma conversa e passa o dia se olhando no espelho da academia. É um preconceito idiota que diz mais sobre quem critica esses profissionais que sobre os próprios modelos.
REPRODUÇÃO
Pedro Andrade entrevista o modelo Cameron Keesling, de 23 anos, para o documentário
Qual foi o principal desafio para fazer o documentário?
Diria que o maior desafio foi mostrar a realidade desse mundo deixando claro que as agências não são os vilões da história. Os bookers e agentes querem que esses meninos se deem bem, as intenções são as melhores. Eles descobrem um talento, o trazem para uma grande cidade (Nova York, Milão, Londres, Paris, São Paulo ou Miami), investem nele, mas isso custa dinheiro. Geralmente, as agências têm que financiar as passagens aéreas, os vistos, comida, moradia etc. Se o modelo não trabalhar bastante logo nos primeiros meses, inevitavelmente, a dívida cresce. É uma realidade ingrata para ambas as partes.
Sou grato a todos os bookers e agentes com quem trabalhei. Sei que 99% das vezes eles investem tempo e energia para que o modelo conquiste sucesso. No entanto, diferentemente de outras indústrias, nem tudo depende dos profissionais envolvidos nessa equação. Por exemplo, um médico ou advogado que rala, estuda e passa em todas as provas necessárias, provavelmente vai ser um profissional de sucesso. Já no mundo da moda, esses meninos precisam estar no lugar certo, na hora certa e ter a aparência adequada para os modismos da temporada. Não é tão simples quanto parece.
Alguma das histórias te marcou mais?
Busquei mostrar a realidade de meninos que poderiam contar uma história maior que a deles próprios. Queria um modelo que estivesse na fase da ralação, um que teve muita sorte e acabou ganhando bastante dinheiro em pouco tempo, outro cuja carreira acabou repentinamente, outro que tornou a carreira de modelo em uma história de sucesso. Esta é minha paixão: seja no Pedro Pelo Mundo, no Manhattan Connection ou neste documentário, quero mostrar todos os ângulos da moeda. Relato os fatos. As conclusões ficam por conta do telespectador.
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