Mãe aos 50
Divulgação/Band
A apresentadora Marcia Goldschmidt em foto de divulgação do Jogo da Vida, dominical que apresentou na Band
DANIEL CASTRO
Publicado em 23/6/2014 - 19h06
Atualizado em 24/6/2014 - 6h38
Há quatro anos fora do ar, a apresentadora Marcia Goldschmidt, 51 anos, vive um drama pessoal. Depois que saiu da Band, no final de 2010, ela se casou com um advogado português e passou a morar em Portugal, naquilo que considera um "chamado do destino". Em 2012, aos 50 anos, descobriu-se grávida. Nasceram duas meninas, Victoria e Yanne. Aos cinco meses, Yanne foi diagnosticada com uma doença grave no fígado.
No final do passado, a pequena se submeteu a um transplante de fígado. Jimmy, de 19 anos, filho do primeiro casamento de Márcia, foi o doador. O transplante foi feito no Brasil. Marcia já voltou a Portugal.
"Estamos ainda naquela fase delicada do pós-transplante. Mas ela é uma garotinha alegre, meiga, que come muiiito. Os últimos dois anos foram sem dúvida os mais difíceis de minha vida. Hoje, quando alguém vem me contar um problema, olha para o que passamos e se conscientiza de que seu problema é bobagem", diz Márcia em entrevista exclusiva ao Notícias da TV.
Marcia virou personagem de dramas que fizeram sua carreira na televisão. Ela é pioneira em telebarraco. Para o grande público, surgiu em 1998, à frente do Marcia, um programa do SBT inspirado no talk show da norte-americana Ricki Lake. Foi com Marcia que a TV brasileira começou a discutir traições e intrigas entre vizinhos. Nos anos 2000, ela passou pela Gazeta e se fixou na Band, onde apresentou o Jogo da Vida, aos domingos, e o vespertino Marcia.
Há dois anos, Marcia tem sido mãe e dona de casa em tempo integral. Os cuidados com a filha tomam muito tempo. Não há espaço para projetos na TV. Nem muito interesse, aparentemente. Confira na entrevista a seguir, concedida por email:
Notícias da TV - Faz três anos e meio que você está fora do ar. Você não quer mais voltar ou faltam projetos na TV?
Marcia Goldschmidt - Honestamente, não sei ainda se quero voltar. Eu saí porque entendi que precisava mudar de vida, não percebi na época que era um chamado do destino. Estive no Brasil ano passado e recebi propostas, mas, devido ao momento delicado que estava passando, não havia espaço para o assunto.
Notícias da TV - Você ficou contratada da Band, mas sem programa, durante mais de um ano, e depois rescindiu com a emissora. Por que você se afastou da TV?
Marcia - Eu tive uma divergência com a Band, eu queria sair do formato diário e voltar pro semanal. Eles insistiam em me manter no diário. A Band é uma família para mim, eu amo aquela casa, foi muito difícil tomar essa decisão, mas sentia que precisava priorizar minha felicidade e naquele momento queria morar em Portugal, reinventar minha história.
Então, fiz o que muitos acham loucura, abandonar uma carreira sólida e um belo contrato, e outras pessoas, inclusive eu, acham um ato de coragem. Houve também um descontentamento com o meio. Eu queria fazer uma nova abordagem do meu trabalho e a agressividade da TV aberta não permite isso.
Marcia Goldschmidt com o marido, Nuno Rego, e as filhas gêmeas, que nasceram em 2012
Notícias da TV - Você participou do Domingo Espetacular, da Record, em 2013, mas recusou ir ao Domingo Show em maio. Por que negou participar do programa de Geraldo Luis?
Marcia - Eu tenho recebido vários convites, de vários programas, e tenho recusado todos por dois motivos: 1) Estou em Portugal sem previsão de volta ao Brasil e 2) Se aceitasse um teria que aceitar (quase) todos... Difícil. Portanto, minha recusa tem sido genérica e não objetiva.
Notícias da TV - Foi noticiado recentemente que você estaria negociando com a TV portuguesa. Pretende apresentar algum programa em Portugal?
Marcia - Sim, fui procurada este ano, mas devido à situação de minha filha, adiei o assunto. A prioridade total é dela no momento. Porém, no futuro, não descarto a possibilidade de fazer alguma coisa aqui, seja para os canais brasileiros ou para os canais portugueses.
Notícias da TV - Você tem alguma mágoa da TV ou do público brasileiro?
Marcia - Nenhuma. Como poderia? Mágoa não existe no meu dicionário. Se alguma coisa não me agrada eu simplesmente apago de minha vida. Em relação à TV, só tenho a agradecer o público que me deu e que, nesse momento delicado que minha filha passou, demonstrou um grande carinho e torcida por nós.
Notícias da TV - Nos últimos anos, após sua saída da TV, você morou em Portugal. Pretende sair definitivamente do Brasil?
Marcia - Eu diria que já saí definitivamente do Brasil. Por enquanto minha vida é em Portugal. Se vou voltar? Não sei... Cada vez mais tenho certeza que o futuro é uma caixinha cheia de surpresas.
Notícias da TV - Como está sua vida longe da TV? A rotina em Portugal é diferente do Brasil?
Marcia - Os últimos dois anos foram sem dúvida os mais difíceis de minha vida. Estou super focada na saúde da minha filha e não tenho tempo para nada. A rotina aqui é outra que eu não conhecia. Sou mãe e dona de casa. É muito difícil, ainda mais sem família por perto. Tenho que segurar todas as barras sozinhas, mas se Deus me deu essa missão é porque sabe que posso dar conta. Trabalho tanto, o dia todo, que nem tenho tempo para pensar em mim. O tempo (pouquíssimo) livre que sobra dedico a pesquisas sobre ciência, alimentação, fitoterapia, astrologia etc.
Mas quando olho para as gêmeas vejo que se fizer o máximo ainda é pouco.
Marcia Goldschmidt à frente do Márcia, seu primeiro programa de sucesso, no SBT, em 1997
Notícias da TV - Que programa ou formato você gostaria de apresentar? Que tipo de programa você jamais apresentaria?
Marcia - Eu gosto de gente. As relações humanas me fascinam. Depois dessa experiência tão sofrida, acho que aprendi muitas coisas e gostaria de poder de alguma forma (não necessariamente TV) passar isso para as pessoas. Eu sou uma motivadora nata. Gosto de por as pessoas em ação, fazê-la buscar transformação e uma nova consciência. Sei que farei isso em breve, é uma obrigação que tenho com a vida, nunca poderei fugir disso.
Notícias da TV - Você apresentou na Band o Jogo da Vida, programa de auditório aos domingos, dia dominado por homens, como Faustão, Gugu e Silvio Santos. Também já apresentou programas chamados pejorativamente de telebarracos, com casos de família com muita discussão e até agressões físicas. Também apresentou game shows, como Fantasia. Voltaria a fazer algum desses programas?
Marcia - Sim, eu entrei com tudo nessa guerra dominical e deu certo, adorava o Jogo da Vida. Fiz os telebarracos, que hoje seriam brincadeira de criança, e também gostava. Sou versátil, mas, como disse, gosto de gente, histórias de vida. As pessoas gostam de me contar coisas, até mesmo no supermercado.
Com exceção do Fantasia, eu acho que voltaria a fazer qualquer um desses, porém diferente, com uma nova leitura, uma vez que esses programas já criaram seus filhotes por aí.
Notícias da TV - Você se arrepende de ter feito algo na TV? O quê?
Marcia - Não me arrependo de nada. Não sou mulher de chorar o leite derramado. Como poderia? Deu certo, construí uma carreira sólida. Se pudesse mudar alguma coisa, certamente, mas não se vive a vida pelo retrovisor. Então no futuro, se houver chance, mudarei naturalmente. E certamente seria o medo da fama. Sentia pavor. Sou muito tímida (low profile) e ninguém acreditava nisso. Gosto muito de reclusão, sossego, o oposto do que se espera de alguém da mídia.
Eu nunca entendia porque o fato de ser uma comunicadora me obrigava a ser uma extrovertida. E era muito cobrada por isso. Levou muito tempo (e muita pancada) para que as pessoas me conhecessem e aceitassem.
Notícias da TV - O que você gosta de assistir na TV? E o que não gosta?
Marcia - Adoro séries, sou uma fanática, de Sex and the City a Body of Proof. Gostava de novelas também, mas estão tão fraquinhas... Que saudade do Gilberto Braga! Detesto os ‘realities’. Uma ideia bacana que se perdeu completamente desde que virou fábrica de ‘celebridades’ instantâneas.
Notícias da TV - O achou de diferente na TV brasileira em sua última estada no país? A televisão mudou muito desde 2010? Para onde ela vai?
Marcia – Infelizmente, vivemos um momento com excesso de formatos e escassez de talentos. Óbvio que não pode e não dá para continuar assim. A voracidade da web tem contribuído muito também para essa crise da TV. A TV vai precisar se reinventar e voltar a investir em talentos e conteúdo. O fácil e vazio já não cabe, o povo não aguenta mais.
Marcia apresenta quadro de transformação no Jogo da Vida, programa que apresentou aos domingos
Notícias da TV - Como está a recuperação de sua filha, Yanne, que passou por um transplante de fígado?
Marcia - Yanne está vencendo cada etapa dignamente. Já sofreu demais. Estamos ainda naquela fase delicada do pós-transplante. Mas ela é uma garotinha alegre, meiga, que come muiiito. É, sobretudo, uma vencedora. Tem sido uma grande lição de vida para todos nós. Hoje, quando alguém vem me contar um problema, olha para o que passamos e se conscientiza que seu problema na maioria dos casos é bobagem.
Notícias da TV - Você sofreu algum tipo de preconceito por ter escolhido ser mãe aos 50 anos? Foi alertada de que poderia ser uma gravidez de risco? Por que decidiu seguir em frente?
Marcia - Preconceito nenhum. Ao contrário, fiquei surpresa em ver que virei referência para as mulheres. O risco vem da gravidez gemelar e não da idade. Eu não escolhi engravidar, a vida escolheu. Eu simplesmente fui em frente. Não sou mulher de recuar. O problema de minha filha não tem nenhuma relação com a idade ou gemelaridade. Tanto que a Victoria tem saúde perfeita.
Notícias da TV - Como descobriu que sua filha precisava de transplante? E qual foi sua reação ao ver seu filho, Jimmy, aceitando ser o doador?
Marcia - Descobri no Brasil ‘por acaso’, quando ela passou em consulta com [a médica] doutora Gilda Porta, por indicação do doutor Ben-Hur [Ferraz Neto]. Esse acaso salvou a vida dela.
O Jimmy me surpreendeu demais pela generosidade. Que grande alma. Estávamos na lista de espera do SUS e fazendo testes e ele se propôs [a ser doador]. Ficamos todos muito emocionados, principalmente por ser um garoto de apenas 19 anos. Ainda choro e vou chorar sempre quando penso no encontro dos dois após a cirurgia. São nesses momentos únicos em que percebemos a força do amor verdadeiro.
Notícias da TV - Por que fez a cirurgia no Brasil e não em Portugal?
Marcia - O problema da minha filha deve se em grande parte a uma infecção hospitalar e negligência diagnóstica em Portugal. No Brasil, a equipe do doutor Paulo Chapchap [médico do Hospital Sírio-Libanês], uma das melhores do mundo, me passou a segurança necessária. A confiança neles me permitiu suportar o momento mais doloroso da minha vida.
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