DIÁLOGO POTENTE
REPRODUÇÃO/TV GLOBO
Julia Lemmert na novela Em Família (2014): atriz interpretou a última Helena de Manoel Carlos
Sucesso absoluto nas reprises das tardes da Globo, Manoel Carlos se despediu das novelas com um fracasso: Em Família (2014). As características mais marcantes das obras do autor estavam lá. Diálogos cotidianos que beiram à poesia, a ambientação da classe média carioca, além da MPB e da bossa nova na trilha sonora. O que era o maior triunfo do autor fez com que a trama ficasse enrolada, cansativa e até ultrapassada.
A reexibição de História de Amor (1995) na faixa de edição especial da TV Globo trouxe à tona a discussão sobre o que os diálogos das novelas se tornaram. A trama que traz Regina Duarte e José Mayer como protagonistas é elogiada pelo primor das cenas e do texto. A novela não tem pressa de acontecer e não se preocupa em jogar alguns minutos fora com cenas dos personagens divagando ou sonhando acordados.
A marca de trazer a história para fora da tela, fazendo com que o telespectador se identificasse com as dores e amores, veio ainda em Por Amor (1997), Laços de Família (2000), Mulheres Apaixonadas (2003), e Páginas da Vida (2006). Manoel Carlos sempre manteve o estilo de seu texto, considerado pelos críticos "elitista demais" para o horário nobre.
O percalço já perceptível em Viver a Vida (2009) só foi concretizado na novela Em Família. O autor decidiu fazer um bom suco de suas melhores tramas românticas que haviam feito sucesso, como o triângulo amoroso entre mãe, filha e galã, de Laços de Família. O resultado foi um enredo desastroso que não empolgou o telespectador.
A última novela de Manoel Carlos trouxe Helena (Bruna Marquezine), que se envolve em um relacionamento abusivo com o primo, Laerte (Guilherme Leicam). Vinte anos depois, os dois seguiram caminhos diferentes e são bem-sucedidos em suas respectivas carreiras. Adulto, Laerte (Gabriel Braga Nunes) fica encantado pela filha de Helena (Julia Lemmertz), Luiza (Bruna Marquezine).
A lentidão da história fez com o público se afastasse. Os diálogos cotidianos e poéticos já não surtiam mais efeito, principalmente depois de uma bateria de novelas ágeis com enredos bem mais instigantes. Antes de Em Família, o horário nobre da Globo teve Fina Estampa (2011), Avenida Brasil (2012), e Amor à Vida (2013).
Foi inevitável se despedir do vilão Félix, personagem eternizado por Matheus Solano, e dar de cara com uma mocinha em que o maior dilema era decidir com qual homem ficar. Os diálogos mastigados e dinâmicos de Walcyr Carrasco deixou o público mal acostumado com o que poderia funcionar na década de 2000.
Maneco tentou promover mudanças sem êxito para acelerar a história e torná-la mais atrativa para o público que deu audiência para suas antecessoras. Se o caminhar pelas calçadas do Leblon e o barulho do mar ao som de bossa nova enchia os ouvidos em História de Amor e Laços de Família, naquele momento se tornou um convite para o telespectador dormir na frente da televisão.
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