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Memória da TV

Incêndio em 1976 obrigou Globo a produzir JN em SP durante 3 meses

Fotos: Reprodução/Memória Globo

Roberto Marinho (de bigode) e Walter Clark (de barba) na frente do prédio da Globo durante incêndio em 1976 - Fotos: Reprodução/Memória Globo

Roberto Marinho (de bigode) e Walter Clark (de barba) na frente do prédio da Globo durante incêndio em 1976

THELL DE CASTRO

Publicado em 16/8/2014 - 20h21
Atualizado em 17/8/2014 - 7h30

RESUMO: Há 38 anos, um incêndio destruiu boa parte das instalações da Globo no Rio de Janeiro. Na mesma tarde, os então apresentadores do Jornal Nacional, Cid Moreira e Sérgio Chapelin, foram enviados em jatos fretados para São Paulo, de onde apresentaram o principal telejornal do país durante três meses. O incêndio também destruiu capítulos de novelas, mas a Globo não saiu do ar

Na última quarta (13), os telespectadores do Jornal Nacional observaram um cenário diferente, menor, com o Congresso Nacional ao fundo. O principal telejornal da Globo foi apresentado diretamente de Brasília, de forma improvisada, já que William Bonner e Patrícia Poeta iriam entrevistar, ao vivo, a presidente Dilma Rousseff, o que acabou não acontecendo, por causa da morte do presidenciável Eduardo Campos.

Não foi uma situação inédita. Há 38 anos, o Jornal Nacional, que desde a estreia, em 1969, sempre foi gerado da sede da emissora, no Jardim Botânico, no Rio de Janeiro, teve que ser produzido em outro local _no caso, São Paulo.

No dia 4 de junho de 1976, durante a transmissão do Jornal Hoje, de repente a emissora saiu do ar. Um incêndio de grandes proporções havia começado em um curto-circuito no sistema de ar condicionado. O fogo se alastrou por dutos e atingiu boa parte das instalações da emissora.

Rapidamente, o sinal da Globo voltou, passando a ser gerado diretamente da capital paulista. Na mesma tarde, os então apresentadores Cid Moreira e Sérgio Chapelin, bem como boa parte da equipe responsável pelo Jornal Nacional, seguiram para São Paulo em jatos fretados.

No livro Boa Noite, de Fátima Sampaio Moreira (Prumo, 2010), Cid Moreira aborda o acontecimento. “Duas horas depois do incêndio, Alice-Maria [Reineger, então editora-chefe] foi para São Paulo disposta a garantir a exibição do JN. Ela foi munida com um rolo de filme com as imagens do próprio incêndio. Um pouco mais tarde, fomos eu e o Sérgio, juntamente com os editores de imagens, também para Sampa”, conta.

Durante 90 dias, tempo que levou para reformar e equipar novamente todo o prédio da emissora no Rio de Janeiro, o JN foi transmitido de São Paulo.

Cid Moreira na bancada do Jornal Nacional nos anos 1970; ele viveu na ponte aérea durante três meses

“Eu e o Sérgio tínhamos que viajar de ponte aérea todos os dias, então passamos mais uma vez por poucas e boas. Além de ter de organizar todos os nossos compromissos particulares com antecedência para chegar em tempo hábil no estúdio, ainda era preciso contar com o aeroporto sem problemas de neblina, que era o motivo que dificultava as chegadas e partidas”, relata o locutor no livro.

Novelas também não foram prejudicadas

Com duração de quatro horas, o incêndio causou um prejuízo de Cr$ 170 milhões, e os equipamentos que não foram consumidos pelo fogo acabaram perdidos por causa da água jogada pelos bombeiros ou da fumaça.

A Folha de S. Paulo de 5 de junho de 1976 trouxe grande cobertura do acontecimento, informando que o prédio e os equipamentos estavam cobertos por um seguro igualmente milionário.

As atividades no Rio de Janeiro não foram completamente paralisadas. Em tempo recorde, foi montada uma miniestação no hall de entrada de um prédio, com equipamentos não atingidos e outros enviados de Brasília e São Paulo.

A grande preocupação do público ficou por conta das novelas: elas seriam prejudicadas? A resposta veio em seguida: não houve grandes problemas.

Apenas três capítulos de Vejo a Lua no Céu, um de O Feijão e o Sonho e um de Anjo Mau, tramas exibidas naquela época, se perderam. As gravações passaram a ser feitas em outros estúdios do Rio de Janeiro, como o da TV Educativa e o da Cinédia. A edição foi feita em equipamentos da mesma TV Educativa, além da TV Gazeta, de São Paulo, e a TV Gaúcha, atual RBS, de Porto Alegre (RS).

Funcionários salvam rolos de fitas com imagens do arquivo da Globo durante incêndio em 1976

Arquivo prejudicado

Ainda de acordo com a Folha, 600 fitas de vídeo do arquivo foram salvas, mas muitas outras, bem como rolos de filmes, foram destruídos, resultando em perdas irreparáveis para a história da emissora e da televisão brasileira como um todo.

Alguns exemplos são os casos especiais em preto-e-branco, bem como capítulos de novelas como Irmãos Coragem e O Espigão. Se não existem muitas imagens da emissora até 1975, muito se deve a esse incêndio. Além dos funcionários, artistas como Jô Soares, Mário Lago, Tarcísio Meira, entre outros, auxiliaram a remover fitas e outros itens.

No final das contas, as perdas foram somente materiais, mas algo sério com o elenco da emissora poderia ter acontecido. No momento em que o fogo começava, alguém avisou no estúdio onde eram gravadas cenas da novela Anjo Mau que poderia estar ocorrendo um incêndio. O diretor Régis Cardoso pensou que se tratava de uma brincadeira e respondeu: “Deixa esquentar mais”. Em pouco tempo, com a fumaça, todos deixaram o local. Dois dias depois, foi rezada uma missa na sede em agradecimento pela não existência de vítimas fatais.


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