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ANÁLISE

Globo perde controle sobre o futebol nacional e se vê ameaçada

Cesar Greco/Agência Palmeiras

Willian e Víctor Cuesta em jogo de Palmeiras e Inter pela Copa do Brasil, torneio da CBF - Cesar Greco/Agência Palmeiras

Willian e Víctor Cuesta em jogo de Palmeiras e Inter pela Copa do Brasil, torneio da CBF

DANIEL CASTRO

Publicado em 30/4/2017 - 14h16
Atualizado em 30/4/2017 - 16h12

A demissão do jornalista Renato Ribeiro, número um do jornalismo esportivo da Globo, e a perda dos próximos amistosos da seleção brasileira de futebol demonstram que a área de esportes da maior rede do país tem desafios a enfrentar.

Absoluta até alguns anos atrás, a Globo está perdendo o controle sobre os direitos de transmissão de eventos esportivos relevantes como o Campeonato Brasileiro e os jogos da seleção. 

No centro dessa crise, emerge Roberto Marinho Neto, herdeiro do fundador Roberto Marinho (1904-2003), que vem sendo treinado para comandar o Grupo Globo em um futuro próximo.

Diretor-geral de esportes do grupo desde outubro de 2016, Marinho Neto já cuidava das negociações com clubes e federações esportivas. A partir de junho, também toma conta do conteúdo editorial, pois assumirá interinamente o cargo ocupado por Renato Ribeiro, que está se aposentando aos 60 anos.

A virada no futebol da Globo começou em 2010, quando o Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) impôs ao Clube dos 13, entidade que representava os principais times do país, um acordo em que acabava com um esquema que na prática garantia o monopólio da Globo sobre o Campeonato Brasileiro.

O Cade obrigou o Clube dos 13 a fazer uma concorrência aberta a todas as emissoras e programadoras de TV paga e a banir cláusula que dava à Globo o direito de manter a exclusividade sobre o Brasileirão desde que pagasse um centavo a mais do que as rivais. A Globo se viu, então, ameaçada pela Record e decidiu negociar com cada clube individualmente.

Esse novo modelo de negociação abriu espaço para o Esporte Interativo, adquirido no início de 2015 pela Turner, programadora de TV paga do poderoso grupo Time Warner. O Esporte Interativo passou a negociar os direitos do Brasileirão na TV paga clube a clube. Fechou com agremiações importantes, como o Palmeiras, o Santos e o Internacional.

Neste ano, a Globo levou outra canelada. A CBF (Confederação Brasileira de Futebol) resolveu ela mesma produzir e comercializar as transmissões dos amistosos que a seleção do técnico Tite fará com a Argentina e a Austrália em junho.

Roberto Marinho Neto em evento do Emmy em 2015

Nesse modelo, ao invés de repassar os direitos de transmissão para uma emissora de TV, no caso a Globo, a CBF vende ela mesma cotas de patrocínio, fecha parcerias com plataformas exibidoras (no caso, com o Facebook e com a TV Brasil), contrata locutores e comentaristas e capta as imagens do jogo. Tem total controle sobre a transmissão e, em tese, pode ganhar mais dinheiro. Para a Globo, esse jogo comercial (e editorial) não interessa.

Se esse modelo da CBF der certo, a entidade máxima da cartolagem nacional poderá expandi-lo para a Copa do Brasil, torneio que organiza. Sem a Copa do Brasil, que tem jogos nas noites de quartas-feiras, a Globo poderá se ver sem apuros.

Eventualmente, terá que apelar ao Cinema Especial para suprir o futebol. Pior, pode ver jogos importantes em emissoras concorrentes na faixa das 20h, 21h, disputando audiência com o Jornal Nacional e com a novela das nove.

Ironicamente, o artífice do novo modelo da CBF é Marcelo Campos Pinto, homem forte dos direitos esportivos na Globo nas últimas duas décadas.

Pinto foi o estrategista que fez a Globo ter o monopólio do futebol com o Clube dos 13. Também foi o homem  por trás da negociação direta com os clubes. Ele deixou a Globo em 2015, desgastado por escândalos envolvendo a compra de torneios internacionais.

Agora no comando pleno do esporte da Globo, Roberto Marinho Neto terá de resolver uma crise que não criou e de se relacionar com uma cartolagem perigosa, constantemente envolvida em escândalos.

Na opinião de analistas, Marinho Neto terá de rever o modelo de negociação de direitos esportivos e de produção, cujos custos estão altos demais. A saída de Renato Ribeiro pode ser um indício de que algo vai mudar.

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