Isabelly Morais
Reprodução/Fox Sports
A narradora Isabelly Morais, de 20 anos, fará locução de jogos da Copa do Mundo na Fox Sports
FERNANDA LOPES
Publicado em 23/5/2018 - 6h10
Aos 20 anos, Isabelly Morais já tem histórias para contar sobre sua carreira. Foi a primeira mulher a narrar jogos de futebol em Minas Gerais, na emissora de rádio em que é estagiária, e será a mulher mais jovem a ancorar partidas da Copa do Mundo na TV. Ela foi uma das vencedoras de concurso da Fox Sports que selecionou três narradoras para o Mundial da Rússia. Já se arma para mandar bem e não dar espaço a ataques machistas.
"A mulher que decide trabalhar com futebol é testada diariamente. Eu já estava de olho na Copa, mas agora intensifiquei. Estudo todos os dias, uma seleção por dia, estou fechando os grupos. Estudo também o retrospecto em Copas passadas, questões históricas, políticas, treinadores, curiosidades, composição do elenco em si. Estou montando um banco de dados das seleções, um superarquivo", conta.
"Não sei como vai ser na Fox, mas se eu tiver algum erro, quero que não se justifique com 'porque ela é mulher'. Não, acontece do ser humano errar. Quantos narradores já falaram besteiras no ar, e ninguém comenta 'só porque é homem'. Se eu errar como narradora, me critique como profissional. O fato de ser mulher virar justificativa para o erro é um absurdo", afirma.
Aluna do curso de Jornalismo da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), Isabelly sempre quis trabalhar com esportes. Além de narrar jogos de campeonatos locais, é repórter de campo.
Ela relata que já passou por várias situações desconfortáveis, tanto com jogadores entrevistados quanto de comentários machistas que ouvintes publicaram em suas redes sociais.
"Na primeira vez que narrei em Minas, vi muitos comentários de gente sem noção, mas tem que saber lidar com isso. Eu decidi me expor numa área e eu sabia que teria consequências. E aí tem que saber mapear o que é bom pra você e o que não é, o que tem de falar e o que é melhor deixar para lá. Muita gente negligencia a mulher [no futebol] e não tem nada a ver, a gente tem que ser levada a sério", declara.
reprodução/fox sports
Isabelly Morais durante narração em exercício do concurso Narra Quem Sabe, da Fox Sports
Mais de 300 mulheres se inscreveram para participar do concurso Narra Quem Sabe, e seis foram selecionadas para passarem por um treinamento intensivo de 45 dias. Elas tiveram palestras de profissionais, aulas sobre narração esportiva para televisão e exercícios práticos em cabines de estádios, por exemplo.
Isabelly e outras duas narradoras, Renata Silveira e Manuela Avena, foram escolhidas para trabalhar no canal, que fará uma cobertura feminina da Copa. Mas não foi fácil para a mineira passar em todos os testes.
"Eu não tinha prática em TV e vinha com marcas muito forte de rádio. Descrevia muito o lance, situava muito onde o jogador estava no campo e falava em um tom alto demais. Eles falaram pra baixar o tom e eu baixei muito, ficou uma narração morta. Esse foi o momento mais crítico, teve jogo que voltei arrasada. Minha principal dificuldade foi encontrar um meio termo [de voz] para TV, e eu encontrei", lembra.
A menos de um mês da Copa, Isabelly divide seu tempo entre a faculdade, o estágio e os estudos sobre as seleções. Ela espera que os caminhos para as mulheres na narração sejam abertos ainda mais após o campeonato.
"O jornalismo esportivo carece de mais mulheres. Na narração [o problema] é ainda mais escancarado, não tem mulher narrando. Isso é pura falta de oportunidade. Então acho que a gente tem que mostrar pra todo mundo que tem que ter espaço pra mulher. Futebol é um espaço que tem que ser democrático", discursa.
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