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Memória da TV

Em 1999, incêndio, baixa audiência e piadas sem graça mataram sitcoms da Band

Fotos Reprodução/Band

Esther Lacava e Henrique Stroeter em A Guerra dos Pintos, versão de Married... with Children - Fotos Reprodução/Band

Esther Lacava e Henrique Stroeter em A Guerra dos Pintos, versão de Married... with Children

THELL DE CASTRO

Publicado em 19/6/2016 - 9h12
Atualizado em 19/6/2016 - 9h26

No Brasil, país das telenovelas, foram poucas as experiências bem-sucedidas de séries fora da Globo. A Band fez sua maior tentativa em 1999, com um projeto ambicioso, que previa adaptar sitcoms norte-americanas, mas que durou pouco em razão da baixa audiência e das piadas sem graça. Até um incêndio nos estúdios ajudou a encurtar a iniciativa, antes que a Band se arriscasse em uma versão nacional de Friends.

No dia 13 de junho daquele ano, a emissora estreou as séries A Guerra dos Pinto e Santo de Casa. Ambas foram produzidas em parceria com a Columbia TriStar International Television (Sony) e eram, respectivamente, versões de dois sucessos norte-americanos: Married... with Children e Who’s the Boss?.

A Guerra dos Pintos mostrava o dia a dia da família Pinto, que morava num subúrbio no Rio de Janeiro. A família era composta pelo pai, Zé (Henrique Stroeter), sua mulher, Neide (Esther Lacava), e os filhos adolescentes (Roberta Porto e Ricardo Gadelha). Inicialmente, a trama se chamaria Até que a Morte nos Separe. Partindo do tema central dos episódios do original dos EUA, as situações foram trazidas para o cotidiano dos brasileiros.

Já Santo de Casa era protagonizada por Kiko (Daniel Boaventura), que, após o fim prematuro da carreira de jogador de futebol e a morte da mulher, vai trabalhar como empregado doméstico na casa de uma executiva bem-sucedida. No original, o empregado era um atleta de beisebol. O destaque da série ficou para Ana Lúcia Torre, que vivia Gigi, mãe de Laura (Regina Remencius).

O investimento, na época, foi de US$ 8 milhões, divididos entre a Band e a Columbia. Seriam feitos 52 episódios de casa série, mas a produção das não foi nada fácil.

Daniel Boaventura na sitcom Santo de Casa

As gravações aconteciam no Polo de Cinema e Vídeo, complexo de estúdios localizado em Jacarepaguá, no Rio de Janeiro. Um mês antes da estreia, um incêndio destruiu boa parte dos estúdios, causando um prejuízo de R$ 500 mil e a perda de cenários e equipamentos.

As gravações foram suspensas por 30 dias, e o diretor de núcleo Del Rangel levou equipamentos de outros estúdios para retomar o trabalho, além de aproveitar o recesso para gravar externas. "Não nos abatemos. Continuamos com o mesmo pique", afirmou, à época, para a agência TV Press.

O então superintendente artístico da Band, Nilton Travesso, disse à Folha de S.Paulo de 13 de junho de 1999 que a emissora planejava lançar mais duas séries no ano seguinte. "A meta é ter dois programas em cada dia da semana". Um dos objetivos era adaptar nada menos que Friends.

A Band vinha de um investimento de US$ 13 milhões em um núcleo de teledramaturgia que foi precocemente abortado, após a exibição de apenas duas novelas, Serras Azuis e Meu Pé de Laranja Lima.

"As novelas ficam se repetindo indefinidamente, contando a mesma história. Está na hora de alguma coisa diferente ser feita, de procurar saídas", disse Johnny Saad, então vice-presidente da Band.

Nas primeiras semanas, as séries chamaram a atenção do público. Marcaram até quatro pontos no Ibope _o objetivo era o dobro. Posteriormente, a audiência mal chegava a um ponto, o que fez a emissora engavetar o projeto de novas séries e exibir menos da metade dos episódios previstos para as duas produções, que saíram do ar no início de dezembro de 1999.


THELL DE CASTRO é jornalista, editor do site TV História e autor do livro Dicionário da Televisão Brasileira (Editora InHouse). Siga no Twitter: @thelldecastro


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