Memória da TV
Fotos: Divulgação/Globo
Zacarias, Mussum, Renato Aragão e Dedé Santana na época em que foram para a Globo
THELL DE CASTRO
Publicado em 12/10/2015 - 7h06
No início de 1976, então na Tupi, o humorístico Os Trapalhões, já com Didi, Dedé, Mussum e Zacarias, começou a chamar a atenção da Globo. O programa incomodava o Fantástico nas noites de domingo. Era a primeira vez que a revista eletrônica semanal global, que tinha quase três anos de vida, era ameaçada pela concorrência. O fato culminaria, um ano depois, na transferência do quarteto para a Globo, que aceitou uma lista de três folhas de exigências feitas por Renato Aragão.
Exibido, até então, nas noites de quinta no Rio e aos sábados em São Paulo, a mudança no dia de exibição do programa aconteceu por acaso. Silvio Santos deixou as noites de quinta da Tupi para ingressar na Record, então restrita a São Paulo. Isso forçou a Tupi a mexer em sua grade de programação: em fevereiro daquele ano, o musical A Grande Parada foi deslocado para as noites de quinta e Os Trapalhões ganharam o domingo, das 20h às 22h, concorrendo diretamente com o Fantástico.
A trupe de Renato Aragão, reforçada por alguns números musicais, começou a encostar no "Show da Vida". De acordo com reportagem da Veja de 3 de março de 1976, após três apresentações no novo horário, a audiência da Tupi cresceu 40% no Rio de Janeiro e 20% em São Paulo.
A Globo se viu obrigada a reforçar o Fantástico. “O colorido show da vida mantém, ainda, uma média de 15 pontos de superioridade em audiência sobre o seu concorrente. Mas a escalada de Os Trapalhões já levou a Globo a uma substancial injeção de verbas no formidável orçamento do Fantástico, que agora chega a 1 milhão de cruzeiros por mês. E passou a prometer, em chamadas diárias, atrações, como o retorno de Chico Anysio e melhores reportagens, com a transferência de Hélio Costa para a Europa”, explicou a reportagem.
O temor da Globo era que o jogo virasse _em 1973, o Fantástico substituiu Chacrinha, após constantes desentendimentos entre apresentador e emissora. “O êxito quase imediato do Fantástico na época de seu lançamento acabou com o mito da eterna popularidade de Abelardo Chacrinha Barbosa e seus programas de auditório. E, agora, seus responsáveis temem, com razão, a perda da liderança para um programa de linha nitidamente popularesca”, continuava a Veja.
Apesar das constantes crises financeiras da Tupi, o sucesso de Os Trapalhões continuou durante o ano de 1976, e a Globo resolveu contratar o grupo. José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, então diretor de operações da Globo, convidou Renato Aragão, que, a princípio, não gostou da ideia. Ele tinha medo de perder a liberdade que tinha na Tupi frente ao engessado padrão Globo de qualidade.
Para escapar de dizer simplesmente “não” para a poderosa emissora, Aragão fez uma lista de exigências de três páginas, onde determinava diversos pontos, como integrantes da equipe e até o horário de exibição do programa. Para sua surpresa, os itens foram aceitos pela Globo sem nenhuma discussão e, dessa forma, Os Trapalhões mudaram de emissora.
A estreia na nova casa ocorreu com dois especiais, voltados ao público adulto, nos dias 7 de janeiro e 5 de fevereiro de 1977, nas noites de sexta. O tradicional programa dominical estreou dia 13 de março de 1977 e foi exibido até 27 de agosto de 1995, sempre precedendo o antigo concorrente Fantástico.
THELL DE CASTRO é jornalista, editor do site TV História e autor do livro Dicionário da Televisão Brasileira (Editora InHouse). Siga no Twitter: @thelldecastro
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