Memória da TV
Divulgação/Globo
Da esq. para a dir., José Augusto Branco, Arlete Salles e Lúcio Mauro, em Alô Brasil, Aquele Abraço
THELL DE CASTRO
Publicado em 14/6/2014 - 0h47
Atualizado em 15/6/2014 - 8h25
RESUMO: Em 1970, em uma tentativa de melhorar a audiência de Alô Brasil, Aquele Abraço, a Globo fingiu que o programa havia sido gravado na Itália. Para tanto, simulou até que apresentadores embarcavam em um avião. O desmentido só aconteceu oito dias depois de a atração ir ao ar, quando Boni admitiu que era uma brincadeira de um programa especial
Em 1970, muito antes da existência do Pânico e do CQC, um programa da Globo fez uma brincadeira com o público, naquela que podemos considerar a mais antiga “trollada” (pegadinha, trote) de uma atração regular que se tem conhecimento. A primeira pegadinha da história da TV brasileira, no entanto, ocorreu 13 anos em uma ação publicitária.
O programa Alô Brasil, Aquele Abraço estreou em 30 de setembro de 1969, com apresentação de Maria Cláudia e José Augusto Branco. Era exibido todas as terças-feiras, às 20h30. O formato era simples: uma competição entre os Estados brasileiros, com apresentações musicais e números circenses. O público escolhia os melhores por telefone ou carta.
Cada região tinha seu representante oficial, como Lilico (Rio de Janeiro), Renato Corte Real (São Paulo), Célia Biar (Minas Gerais), Arlete Salles (Bahia), Paulo Silvino (Rio Grande do Sul), Paulo Araújo (Paraná e Santa Catarina) e Lúcio Mauro (Norte e Nordeste), entre outros. Quem ficasse na última colocação recebia um castigo.
A “trollagem” aconteceu em uma fase em que o formato da atração dava sinais de desgaste. Na edição de 20 outubro de 1970, foi exibido um programa supostamente transmitido diretamente da Itália. Os apresentadores e artistas apareceram embarcando em um avião da Varig e anunciando atrações italianas.
Luís Carlos Miele apresentou Rita Pavone. Renato Corte Real anunciou Catherina Caselli, e Arlete Salles trouxe Rocki Roberts. Ao fim da atração, não foi informado que se tratava de uma brincadeira.
Arlete Salles durante participação no Alô Brasil, Aquele Abraço; ela representava a Bahia no programa
Brincadeirinha especial
Alguns dias depois, dada a repercussão da exibição, a revista Veja revelou: o programa foi todo gravado no Brasil. Não houve viagem alguma à Itália. O especial havia sido idealizado pelo produtor João Lôredo para quebrar a rotina.
À revista, José Bonifácio Oliveira Sobrinho, o Boni, então diretor da Globo, esclareceu: “Foi uma brincadeira para encaixar gravações de shows da Rádio Televisão Italiana [RAI], com a qual temos um acordo”. O executivo também anunciou que seriam feitos programas similares com clipes do México e dos Estados Unidos, além de viagens reais aos Estados brasileiros.
Mesmo em decadência no Ibope, o Alô Brasil, Aquele Abraço ainda sobreviveu mais de um ano após a falsa viagem à Itália. Foi ao ar até 27 de dezembro de 1971.
Invasão de ETs
Elmo Francfort, curador da Pró-TV, a Associação dos Pioneiros, Profissionais e Incentivadores da Televisão Brasileira, afirma que, em 1957, na TV Tupi de São Paulo, uma ação publicitária, idealizada pelo próprio Boni, tornou-se a primeira pegadinha da televisão brasileira.
“A ação foi inspirada na polêmica narração de Orson Welles no rádio americano, que fez com que o povo acreditasse na invasão de extraterrestres. O Boni, na época funcionário da agência Lintas, criou para a Lever uma campanha para o lançamento da primeira série de ficção-científica brasileira, a Lever no Espaço”, diz Francfort.
Antes da estreia do programa, foram ao ar chamadas com propositais interferências e chuviscos. Durante a exibição, parecia que o canal saía do ar repente. No final, surgia a assinatura: “Atenção, terráqueos, estamos chegando dia 12”.
A Tupi recebeu um número expressivo de telefonemas e cartas de pessoas preocupadas com a tal invasão, o que fez com que, mais próximo do lançamento da série, a chamada recebesse um esclarecimento.
Ingenuidade
Francfort fala que brincadeiras como a feita pelo programa especial Alô Brasil, Aquele Abraço sempre existiram na TV brasileira, mas não eram feitas de forma regular. “Algumas serviam para mostrar ao público inovações tecnológicas da época, como o videotape e o chroma-key. Há casos, dessa época, até de imagens pirateadas de um canal com áudio de outro, mas eram fatos isolados”, explica.
Atualmente, de acordo com o pesquisador, a “trollagem” tem de ser muito bem feita para dar certo. “A vigilância era maior no passado, até pela existência de um censor supervisionando a programação dos canais (durante a ditadura militar). Ao mesmo tempo, a repercussão era maior, uma vez que parecia ter mais veracidade, já que as redes sociais não existiam, e desmentir uma brincadeira era mais difícil”, afirma.
Na opinião do especialista, as brincadeiras mais ingênuas do passado nem repercutiriam atualmente. “Hoje, uma pegadinha tem de ser muito mais bem acabada. Tem de fazer o telespectador ficar com uma forte dúvida sobre o conteúdo.”
Segundo Francfort, uma pegadinha da história recente da TV que deixou o público na incerteza foi a do sexto dedo de Daniella Cicarelli, em 2005, quando ela estava na extinta MTV Brasil. O programa Pânico, então na RedeTV!, causou um burburinho ao afirmar que a apresentadora tinha seis dedos em um dos pés. “Foi uma zoeira muito bem feita.”
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