Memória da TV
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Geraldo Del Rey, que era inicialmente o vilão de A Gata de Vison, novela que arruinou Glória Magadan
THELL DE CASTRO
Publicado em 24/8/2014 - 7h22
Uma novela mexicana nos bastidores de uma produção da Globo. Pode-se definir assim o que aconteceu ao longo das gravações de A Gata de Vison, exibida pela emissora entre 26 de junho de 1968 e 6 de janeiro de 1969. Além de não ter feito sucesso, a trama ficou marcada por um fato inusitado: a autora, Glória Magadan, se apaixonou por um dos artistas do elenco, Geraldo Del Rey, e fez seu personagem crescer, tomando o lugar de protagonista de Tarcísio Meira, que, descontente, pediu para sair. A produção arruinou a carreira de Magadan.
A história de A Gata de Vison já não ajudava: gângsteres e mafiosos na violenta Chicago de 1920. Ainda era a época das tramas rocambolescas, longe da realidade nacional, que terminariam em seguida, a partir de Véu de Noiva, de Janete Clair, em 1969.
O público e os anunciantes também rejeitaram uma troca de casais realizada pela Globo. Até então, os pares românticos sempre eram formados pelas duplas Tarcísio Meira e Glória Menezes e Carlos Alberto e Yoná Magalhães. A Globo resolveu misturar: Tarcísio e Yoná protagonizaram A Gata de Vison, enquanto Carlos Alberto e Glória foram para Passo dos Ventos. Não deu certo, refletindo no Ibope e no faturamento.
Mas o grande fato que marcou a produção foi a paixão de Magadan por Del Rey. Os dois tiveram um romance no período. O personagem do ator, Gino Falconi, inicialmente um vilão, foi crescendo e se transformando, a ponto de se tornar protagonista, papel que cabia a Bob Ferguson (Tarcísio Meira).
O crescimento de Falconi causou efeito reverso para Ferguson. O personagem de Meira foi se descaracterizando, a ponto de ficar perdido entre ser um mocinho ou o verdadeiro vilão da novela. Meira, grande astro das produções da época, evidentemente ficou descontente e pediu para deixar a trama. Foi substituído por Milton Rodrigues.
A partida no trem e a chegada da irmã gêmea
Como conta o portal Teledramaturgia, quanto maior era o ardor entre Magadan e Del Rey, mais Ferguson ia mudando de características e personalidade. “Um dia, ao receber os capítulos para gravar na semana seguinte, Tarcísio Meira leu e foi direto ao departamento de produção. ‘Ou grava a minha morte esta semana, ou meu personagem pega o próximo trem e não volta’. O personagem não voltou”.
Tarcísio Meira e Yoná Magalhães em material promocional de A Gata de Vison
O caráter de Falconi continuou sendo remodelado e a solução encontrada pela autora foi criar uma irmã gêmea da personagem de Yoná Magalhães para ser o par romântico do personagem.
Falconi se entrega à polícia e assina uma confissão em que se diz responsável por todos os crimes que cometeu. A prisão ameaça a Máfia, que teme que seus segredos sejam revelados. Mas Gino Falconi se recusa a ser um delator. Condenado à morte, é inocentado a poucas horas de sua execução, graças às provas contra a organização criminosa que são encontradas.
Episódio ratificou saída da autora
Em decadência junto à direção da Globo, Glória Magadan praticamente cavou sua demissão da emissora após esse episódio, aliado a outros acontecimentos. Depois de sucessos em 1966 e 1967, as tramas de 1968 e 1969 não iam bem. Ao mesmo tempo, Janete Clair, que salvara Anastácia, a Mulher Sem Destino com o famoso terremoto que dizimou seu elenco, ganhava cada vez mais espaço.
Magadan deixou a Globo ainda em 1969. A autora foi para a Tupi, onde escreveu uma trama com história contemporânea, E Nós, Aonde Vamos, que, no entanto, foi um fracasso.
Descontente, ela se mudou para Miami, nos Estados Unidos, onde continuou sua carreira, mais focada em livros e artigos para revistas. Em 1996, Magadan foi convidada para escrever uma novela para a extinta Rede Manchete, chegando a entregar uma sinopse, mas o projeto não foi em frente em virtude da eterna crise financeira do canal.
Glória Magadan morreu em Miami no dia 27 de junho de 2001.
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