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Aposentadoria

Aos 86 anos, Lolita Rodrigues se 'exila' da TV: 'Envelhecer é uma indignidade'

Divulgação/TV Globo

Lolita Rodrigues em foto promocional da novela Viver a Vida (2009), seu último trabalho na TV - Divulgação/TV Globo

Lolita Rodrigues em foto promocional da novela Viver a Vida (2009), seu último trabalho na TV

JANAÍNA NUNES

Publicado em 5/11/2015 - 6h03

Pioneira da TV brasileira, atriz e apresentadora de sucesso, Lolita Rodrigues, aos 86 anos, se exilou numa praia do Nordeste porque não encontra mais espaço para trabalhar no veículo que ajudou a fundar. “O que vou fazer na TV agora? Não tem papel para velhos. A velhice é uma indignidade. Ninguém vai me ligar para me convidar”, lamenta.

Lolita tem uma vida tranquila em João Pessoa (PB). Mora no mesmo andar do apartamento de sua única filha, a médica e professora Silvia Rodrigues (aliás, Lolita também se chama Silvia). As duas fazem as refeições juntas, mas não dividem o mesmo espaço. “É um tal de abrir e fechar a porta, mas é melhor assim. Cada uma tem sua privacidade. Minha vida aqui é ir ao banco, ao médico ou dentista e assistir televisão. Sou implacável com o controle. Mudo de canal o tempo todo, ninguém aguenta ficar ao meu lado”, diverte-se.

A mudança para a capital nordestina ocorreu neste ano. “Minha empregada, que estava havia 47 anos comigo, se aposentou. Minha filha já mora aqui há 12 anos e me convenceu a deixar São Paulo. Aluguei meu apartamento e estou aqui. Achei que não me acostumaria. Me enganei. Viver sem poluição é muito bom. Quando posso, vou ao teatro. Acabei de ver um show da Maria Bethânia aqui. Foi maravilhoso”, conta.

Sem espaço na TV, Lolita se aposentou após 76 anos de carreira. “Comecei cantando no rádio músicas espanholas. Tinha dez anos. Cantei muito e, logo depois, veio a TV. Sonhava em ser atriz e consegui. Acabei virando também apresentadora. Quando não estava no programa, estava fazendo novelas. Amava e amo, mas não dá mais. Tenho dificuldade para andar, uso bengala, moro longe e não tenho mais condições ficar na ponte aérea”, desabafa.

O Almoço com as Estrelas, que Lolita apresentava na extinta TV Tupi com o marido, Airton Rodrigues (1922-1993), durou 23 anos. Nesse período, ela fez algumas pausas na apresentação para trabalhar como atriz em novelas.

REPRODUÇÃO/TV GLOBO

Nair Bello, Lolita Rodrigues e Hebe Camargo são entrevistadas por Jô Soares em 2000

Lolita enfrenta os problemas de saúde com bom humor. “Tenho tudo que velho tem: osteoporose, fibromialgia, diabetes, pressão alta etc. Acordo pensando: ‘Deus, que dor eu vou sentir hoje?’ A Hebe, quando já estava bem mal, me disse, quase em tom de despedida: ‘Você tinha razão. Envelhecer é uma indignidade’. E é mesmo! Não é a melhor idade coisa nenhuma. A melhor idade é quando a gente está jovem.”

Por falar em Hebe, ela e Lolita se divertiam com um fato ocorrido no dia da inauguração da primeira TV brasileira, a Tupi, em 18 de setembro de 1950.  A loira tinha sido convidada para cantar o hino da televisão brasileira. Hebe não apareceu, e Lolita teve de substituí-la às pressas. Foi um sufoco, mas o assunto era motivo de gargalhadas.

“Sinto muito falta da Hebe e da Nair [Bello]. Éramos um trio do barulho. Lá no Céu deve estar uma festa com as duas e tantos outros colegas que já se foram. Quero participar disso, claro. Vai ser uma farra. Não quero nem reencarnar. Quero me divertir com meus amigos”, afirma.

Brincadeiras à parte, Lolita reclama de outro problema de ficar mais velha. “É muito triste ver as pessoas queridas indo embora. Fiquei muito abalada com a morte da Yoná Magalhães [1935-2015], uma pessoa muito maravilhosa, e também do meu grande amigo Elias Gleizer [1934-2015] e tantos outros. Isso é uma tristeza”, completa.

Sem falsas esperanças

Apesar da distância, Lolita conversa com Agnaldo Rayol toda semana. Também liga para o autor Silvio de Abreu (atual diretor de Dramaturgia diária da Globo) em seu aniversário. “Sinto saudades da TV, dos amigos, do ambiente de trabalho, porém não tenho ilusões. Sei que ninguém vai me ligar. Não tem papel para minha idade. Simples assim”, completa.

Sua última novela foi Viver a Vida (2009), de Manoel Carlos. Avisou que ali, aos 80 anos, seria sua despedida e prometeu se dedicar muito ao papel. “O problema é que fui cansando. Já não tinha mais pique de trabalhar. Queria fechar com chave de ouro. Não consegui. Queria explicar, mas nunca fui de ligar para autor. Nunca pedi um papel para nenhum deles. Era um sonho fazer uma novela do Maneco e ele me deu essa oportunidade”, conta.

reprodução/tv globo

Em Sassaricando (1987), Lolita Rodrigues interpretava mãe da personagem de Claudia Raia

A atriz não se anima com uma possível volta à televisão nem ao falar da nova versão de Sassaricando (1987), que se chamará Haja Coração e será escrito por Daniel Ortiz. Na trama, Lolita interpretava a mãe de Tancinha (Cláudia Raia), personagem que marcou a TV por seu jeito expansivo.

“Nem se me chamarem para fazer uma ponta eu vou. Não quero. Prefiro ficar aqui assistindo todas as reprises. Está passando Despedida de Solteiro no canal Viva, que eu fiz”, sentencia.

Lolita curte a aposentadoria como noveleira convicta. Não perde um capítulo de Caminho das Índias, em reprise na sessão Vale a Pena Ver de Novo. “Adoro essa novela. Sempre gostei das tramas das nove. Só não gosto da atual [A Regra do Jogo]. O elenco é ótimo, mas tem muito tiroteio. Agora, vou ter de desligar. Não quero perder a novela da Glória [Perez]”, encerra.


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