Disponível no Globoplay
REPRODUÇÃO/GLOBOPLAY
Leland (Michael Emerson), David (Mike Colter) e Kristen (Katja Herbes) em cena da série Evil
HENRIQUE HADDEFINIR
Publicado em 3/2/2020 - 4h40
Esqueça monstros, demônios e criaturas fantásticas. O grande mal da humanidade parte principalmente do próprio ser humano. Na série Evil, esse mal aparece em diversas formas, em inúmeros graus de impacto e é distribuído por uma assustadora rede de agentes malignos que podem ser tão comuns quanto eu ou você.
A premissa é uma criação do casal Robert e Michelle King, que já tinha alcançado muito prestígio com a premiada The Good Wife (2009-2016) e mais recentemente com a derivada The Good Fight. Ambas falavam sobre ambientes jurídicos e políticos, vertentes sempre presentes em suas obras, mesmo que indiretamente.
Os Kings (como são chamados pelos fãs) demoraram até revelarem para o mundo seus argumentos menos "realistas". Em 2016, eles tentaram emplacar uma série chamada BrainDead, que mostrava uma entidade alienígena que possuía membros do alto escalão político de Washington, nos Estados Unidos. A metáfora era tão absurda e ousada que não conquistou a audiência.
Agora, os roteiristas voltam a uma abordagem fantástica, embora muito mais próxima da realidade. Em Evil, a cética psicológica forense Kristen Bouchard (Katja Herbes) é contratada para oferecer uma visão científica dos casos investigados pelo quase padre David Acosta (Mike Colter) e seu assistente Ben Shakir (Aasif Mandvi).
Se isso te faz pensar imediatamente em Arquivo X (1993-2018), não fique surpreso. A ideia por trás de Evil se relaciona diretamente com o imenso legado da série da Fox. A relação entre Mulder (o agente que acredita) e Scully (a cientista que duvida) é exatamente a que Evil tenta reconstruir em seus episódios.
Porém, a coisa toda funciona muito mais como uma referência elogiosa do que como uma cópia. Sobretudo porque, enquanto Arquivo X investigava todo tipo de caso, em Evil o centro da narrativa tem como foco casos sobrenaturais, em busca de manifestações do mal que muitas vezes têm explicações mais práticas do que qualquer um gostaria.
A cada episódio em que Kristen vai conhecendo melhor o impacto do trabalho de David, a cabeça dela vai se abrindo para as muitas possibilidades que podem não ser explicadas pela ciência. Espertamente, a série também acaba envolvendo sua mãe e suas filhas na maneira como ela lida com as descobertas.
A grande sacada de Evil, enfim, é justamente a dinâmica de compreensão do conceito maligno. Ainda que lidem com grandes casos, o mal pode aparecer em tudo, inesperadamente, até mesmo na fala de uma avó quando convence a neta de que bullying tem que ser combatido com mentira e violência. Os pequenos atos de maldade são tão graves quanto os maiores. Mas e se alguém pudesse criar uma rede que conecta todas essas manifestações?
Leland Townsend (Michael Emerson) surge como um possível catalisador, mas enquanto as atuações de Katja e Mike são corretas e emocionais, Emerson não consegue ser enigmático de várias formas diferentes e acaba invocando o Ben Linus que viveu durante cinco anos na série Lost (2004-2010). Isso enfraquece a proposta para o personagem e afeta, inevitavelmente, o grande plano para a produção.
Outra das grandes qualidades da série é seu texto, que sempre foi um dos maiores prós do trabalho dos Kings. Elegante e inteligente, o roteiro encontra uma direção inspirada, que deseja tanto representar o extrafísico que acaba atravessando os tons em alguns momentos.
Com uma segunda temporada já confirmada, a revelação de que existe uma rede de atos malignos conectados por meio de um poder ainda desconhecido deixou suas pistas maiores. Kristen ultrapassou os limites em busca da segurança das filhas? Uma delas pode fazer parte dessa rede do mal? Estaria a própria Kristen corrompida a ponto de causar o repúdio divino? Esperamos que no segundo ano a série responda essas questões sem perder sua medida metafórica.
Evil é uma produção que pode parecer inofensiva à primeira vista, mas que esconde uma verdade aterradora sobre o curso da humanidade: o mal pode ser muito mais perigoso quando está escondido nos inexpressivos atos da rotina.
A série está no catálogo do Globoplay, e os episódios da primeira temporada foram disponibilizados sempre com uma semana de atraso em relação aos EUA.
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