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Ousada, inovadora e controversa: Por que Girls marcou época na TV?

Divulgação/HBO

As quatro protagonistas de Girls, cuja última temporada estreia hoje (12) na HBO - Divulgação/HBO

As quatro protagonistas de Girls, cuja última temporada estreia hoje (12) na HBO

FERNANDA LOPES

Publicado em 12/2/2017 - 7h22

Girls, que estreia sua sexta e última temporada neste domingo (12), na HBO, não foi apenas mais uma produção na grade da TV norte-americana. Ousada e polêmica, a série conquistou espaço na mídia e fez história ao exibir elementos inusitados até então nas comédias da TV, como personagens sem filtro e sem rumo na vida e cenas de sexo nuas e cruas, além de influenciar outras personagens e produções televisivas, como Broad City.

Nos últimos cinco anos, a série fez questão de provocar discussões sobre questões sociais (como gordofobia e racismo) e causar impacto entre o público jovem. Confira por que Girls marcou época na televisão:

divulgação/hbo

Sem saber o que fazer, Marnie (Alisson Williams) vai andar de metrô após briga com o marido

Versão imperfeita da vida
Jenni Konner, produtora executiva de Girls, já admitiu em entrevista ao jornal The Guardian que a série seguiu, sim, o caminho de Sex and the City (1998-2004), no sentido de mostrar quatro mulheres independentes e diferentes entre si cujos relacionamentos são grande parte da trama. "Nós não existiríamos sem Sex and the City", reconheceu.

Porém, as diferenças entre as duas séries são mais significativas do que as semelhanças. De acordo com depoimento para a revista The Hollywood Reporter, Lena Dunham ofereceu para a HBO uma sinopse sobre algo que não via na TV: sua geração representada de forma real. Ou seja, pessoas na casa dos 20 anos, que tentavam entrar no mercado após uma crise econômica nos Estados Unidos e lidavam com dificuldades financeiras e relações complicadas.

Esses elementos deram profundidade aos personagens _sem exceção, todos oscilam entre conquistas importantes e erros crassos durante as temporadas. Esse traço até então era muito pouco visto em séries que retratavam pessoas na mesma faixa etária, como Friends (1994-2004) e Will & Grace (1998-2006).

reprodução/hbo

Lena Dunham em uma de suas inúmeras cenas de nudez que fez ao longo de Girls

Sem vergonha
Lena Dunham era uma estreante na TV em 2012, mas não teve problemas em aparecer nua logo nos primeiros episódios. A criadora da série exibe seios, barriga, bumbum, celulite e pelos pubianos sem pudor e até sem sexualização _é comum ver em Girls cenas dela nua em seu cotidiano, tomando banho ou se trocando.

Ao mostrar seu corpo gordinho, Lena se coloca como representante de um movimento que há anos luta contra a hipersexualização da mulher e a representação de padrões de beleza na mídia. As críticas em relação à nudez excessiva foram muitas (até o Globo de Ouro fez graça com a situação), mas a ousadia de Lena de se aparecer como uma mulher imperfeita colabora para a diversidade na TV, necessária para um público tão heterogêneo como o norte-americano.

reprodução/hbo

Shoshanna (Zosia Mamet) frustrada ao ser rejeitada por Matt (Skylar Astin) por ser virgem

Sexo real
Em Girls, as protagonistas não transam apenas porque estão apaixonadas, e nem apenas com seus parceiros. Hannah, Marnie, Jessa e Shoshanna já fizeram sexo por desejo, por curiosidade, por frustração, por interesse ou simplesmente porque não tinham nada melhor para fazer.

As cenas de sexo frequentes, muitas vezes constrangedoras e sem a bela estética de Hollywood, também fazem parte da intenção de Lena de fazer uma série baseada em experiências dela e de amigos em Nova York. Girls também foi criticada e inovadora nesse ponto: o sexo quase explícito, com discussões sobre DSTs e genitália, também era inédito para personagens jovens que ainda estão descobrindo sua sexualidade (nem sempre de forma prazerosa).

divulgação/hbo

O personagem Adam, odiado no início de Girls, se destacou e cresceu ao longo dos anos

Coadjuvantes relevantes
Inicialmente contratados apenas para papéis secundários, os homens de Girls assumiram personalidades mais densas e se estabeleceram como coadjuvantes muito importantes para a série, com seus próprios caminhos. Adam (Adam Driver) é o que teve evolução mais marcante: começou apenas como um péssimo namorado, mas demonstrou sentimentos, teve sucesso na carreira e virou o centro de um tenso triângulo amoroso entre Hannah e Jessa.

As participações especiais em Girls também tocaram em questões sociais importantes. O racismo foi discutido no papel de Sandy (Donald Glover), namorado negro de Hannah. Tad (Peter Scolari), pai da personagem, descobre sua homossexualidade já na meia-idade e recebe apoio de Elijah (Andrew Rannels) nos momentos de crise. Já a discussão sobre saúde mental é representada por Caroline (Gaby Hoffmann), irmã de Adam que se afasta da filha por ter ímpetos suicidas e homicidas.

divulgação/hbo

Hannah chegou a ser professora em Girls; série inspirou e abriu caminho para outras atrações

O legado de Girls
Assim como foi influenciada por Sex and the City, Girls também abriu caminho para outras séries e personagens que beberam de sua água. Broad City (Comedy Central), comédia escrachada que conta os tropeços e acertos na vida de duas melhores de Nova York é o exemplo mais claro. As comédias Crazy Ex-Girlfriend (Netflix), Insecure (HBO) e Love (Netflix) também seguem no sentido de mostrar personagens menos estereotipados e previsíveis, com humor em situações constrangedoras.

Lena Dunham também tem proximidade com atrizes como Mindy Kaling (que interpreta uma médica gordinha e sem noção em The Mindy Project) e Amy Schumer. A comediante costumava mediar debates e abrir eventos de Lena com seu número de stand up e hoje tem seu próprio humorístico feminista no Comedy Central, o Inside Amy Schumer.


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