Túnel do Tempo
Divulgação/HBO
Sean Bean no primeiro episódio de Game of Thrones; ator britânico era um dos protagonistas do drama
JOÃO DA PAZ
Publicado em 20/3/2019 - 5h35
Confusa e cheia de personagens. Há oito anos, boa parte da mídia americana não recebeu Game of Thrones com tanto aplauso quanto nos dias de hoje. Veículos prestigiados, como os jornais The New York Times e The Wall Street Journal, massacraram o drama da HBO. Com um breve olhar ao passado, percebe-se que algumas críticas não envelheceram bem.
Uma das avaliações mais ferrenhas partiu justamente do Times. A jornalista Ginia Bellafante descarregou acidez em sua análise. Ela alertou para seus leitores que seria preciso ter uma memória muito boa para conseguir acompanhar o desenrolar da trama. Ginia sentenciou: "Se você não tem essa capacidade, vá assistir reprises de Sex and the City [1998-2004, comédia da HBO]".
Enquanto descascava a mirabolante ideia de criar um idioma para a série, como o dothraki, e escrever sobre jogos eróticos do drama de fantasia, a jornalista fez uma dura observação, mas compreensível dentro de um contexto. Ela questionou a presença da atração no canal pago: "O que Game of Thrones está fazendo na HBO?".
Isso porque, segundo Ginia, a HBO era uma vitrine de séries com propósitos sociais claros, como "a corrupção política em The Wire (2002-2008), o fundamentalismo religioso em Big Love (2006-2011) e o poder da máfia em Sopranos (1999-2007)."
Além do Times, outros jornais também embarcaram na onda negativa. O concorrente New York Daily News bateu na tecla de que o excesso de personagens prejudicava a série: "Se você está no terceiro episódio e não sabe ainda a qual família tal personagem pertence, cabe pensar se o esforço [em assistir à série] vale a pena", sugeriu o jornalista David Hinckley.
O Washington Post, representado por Hank Stuever, insistiu que "os inúmeros personagens e a densidade da história deixam a série complicada de acompanhar, de ficar por dentro de tudo". Por sua vez, o USA Today arriscou uma previsão que, oito anos depois, se mostra uma grande furada.
O jornalista Robert Blanco, que chegou a elogiar a série ao compará-la à saga do cinema O Senhor dos Anéis, quebrou a cara ao cravar que, "diferentemente de True Blood (2008-2014) e Lost (2004-2010), duas séries que transcendem os limites da TV pela força de seus respectivos personagens, Game of Thrones depende da trama para alcançar o sucesso. Seus personagens não conseguirão levar o drama ao topo."
Prestes a acabar, com a estreia da última temporada marcada para o próximo dia 14, Game of Thrones inseriu no imaginário popular nome de personagens que ficarão eternizados, como Jon Snow (interpretado por Kit Harington), Arya Stark (Maisie Williams), Hodor (Kristian Nairn) e Daenerys Targaryen (Emilia Clarke). Personagens que também transformaram seus atores em astros mundiais.
Alguns jornalistas, porém, tiveram a visão de que Game of Thrones marcaria época. Matt Roush, da revista TV Guide, elogiou a entrada da HBO no mundo da fantasia com uma série "magnífica, encantadora, com visual de cinema."
Tim Goodman, experiente e respeitado analista do The Hollywood Reporter, comentou: "Game of Thrones tem todos os elementos para atrair os fãs de Sopranos". Ele percebeu que "logo nos primeiros minutos da série é possível notar que há algo grandioso na sua frente". Ainda por cima, refutou colegas de profissão ao dizer que não é tão complicado assim compreender a trama de GoT.
As avaliações negativas da primeira temporada fizeram a nota de Game of Thrones ser relativamente baixa no site Metacritic, que compila resenhas da imprensa norte-americana: o drama recebeu 80, de um máximo de 100. A segunda e a terceira temporada, por exemplo, tiveram as notas 90 e 91, respectivamente.
O curioso disso tudo é que todos os analistas receberam um bom material antecipado para fazer suas avaliações. Na época, a HBO liberou seis episódios para a imprensa, algo impensável hoje em dia. Isso porque depois do vazamento online de quatro episódios (quase metade) da quinta temporada, o canal parou de ceder para a mídia os capítulos com antecedência.
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