Análise | Novela das nove
ALEX CARVALHO/TV GLOBO
Maria Clara Gueiros, Gabriel Braga Nunes, Camila Pitanga e Marcos Veras em cena de Babilônia
RAPHAEL SCIRE
Publicado em 18/4/2015 - 7h29
A situação é quase sempre a mesma: Clóvis (Igor Angelkorte) aparece seminu diante de Norberto (Marcos Veras), que invariavelmente está cozinhando algum prato na esperança de ganhar uma promoção como chef de cozinha. Norberto se irrita e implica com o amigo, com quem divide um apartamento, os dois batem boca e a confusão acaba com comida voando para todos os lados. O esquete pastelão poderia muito bem estar no Zorra Total, mas aparece com frequência em Babilônia.
O núcleo cômico da novela, que serviria para aliviar a tensão dramática de uma história marcada por vilãs diabólicas e pouco romance, está solto na trama. A única conexão que apresenta com o restante dos personagens de Babilônia é que Luis Fernando (Gabriel Braga Nunes) também circula por ali e ele é o pai da filha da protagonista Regina (Camila Pitanga).
Só que é exatamente em Gabriel que reside outro problema: o ator está extremamente desgastado e precisa descansar sua imagem. Desde que voltou para Globo, em 2011, integrou o elenco de uma história atrás da outra (cinco novelas e uma minissérie) e seu desempenho no vídeo é pífio, muito aquém do que ele já demonstrou. Sua atuação, além de preguiçosa, está tão arrastada quanto sua fala.
Veras, excelente comediante mas ainda trôpego no personagem, também está cansativo como o reclamão da história. As piadas de duplo sentido entre os mulherengos Clóvis e Luis Fernando não são muito engraçadas, e toda vez que o núcleo surge em cena, é praticamente um convite ao zapping. Repetitivos e sem graça, os três giram em círculos e a ausência dos personagens não traria prejuízo à trama.
Maria Clara Gueiros é outra que poderia melhorar, e no caso dela a solução é bem simples: basta apenas diminuir um pouco o tom de sua Karen, uma mulher que sustenta a casa sozinha e, por isso, gera identificação com muitas espectadoras. Ainda assim, dizer que ela está engraçada no papel seria forçar um pouco a barra.
Entre Karen e Luis Fernando, as únicas coisas que salvam são Zélia (Rosi Campos), a sogra fofoqueira que espalha notícias para outros personagens da trama, e a canção Tango do Mal, de Simone Mazzer, ótima escolha para embalar as puladas de cerca do personagem de Braga Nunes.
Dessa forma, o humor está indo natural e involuntariamente para a personagem de Arlete Salles (Consuelo), uma senhora religiosa e defensora da moral e dos bons costumes de cuja boca saem barbaridades.
Só que diferentemente da leveza pretendida no núcleo dos barbados, aqui a graça se faz pela ironia e pelo cinismo dos personagens, o que só aumenta a acidez de Babilônia _cabe apontar que Marcos Palmeira, o prefeito corrupto Aderbal, também está fora de tom. O personagem pede mais cinismo e desfaçatez, características que o ator ainda não soube imprimir em sua criação.
Com uma pontinha de boa vontade, dá até para rir um pouco de Ivete (Mary Sheila), a dona do salão onde Zélia trabalha. Quem sabe se ela se envolver com algum dos solteiros, finalmente o núcleo de humor da novela não ganha um tempero necessário?
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