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Análise | Teledramaturgia

Mundo caipira, política e religião: O que esperar das novelas em 2016

João Cotta/TV Globo

Sergio Guizé será o protagonista Candinho em Êta Mundo Bom!, próxima trama das seis - João Cotta/TV Globo

Sergio Guizé será o protagonista Candinho em Êta Mundo Bom!, próxima trama das seis

RAPHAEL SCIRE

Publicado em 2/1/2016 - 7h18

Após cansar o público com as favelas pseudorrealistas e assistir a um êxodo de telespectadores para a Record, a Globo resolveu se mexer e provocou uma mudança brusca na rota de suas novelas para 2016. Neste ano, saem de cena o mundo do crime, as tramoias secretas da facção de A Regra do Jogo e o Rio de Janeiro, e ganha destaque o interior, com direito a personagens caipiras e muito melodrama.

Benedito Ruy Barbosa volta ao horário mais nobre da emissora com aquele universo que ele, melhor do que nenhum outro autor, sabe representar: as raízes do país, com direito a coronéis e disputas de terra, entremeadas por romances proibidos e uma guerra entre duas famílias. Poderia ser a sinopse de O Rei do Gado (1996), mas trata-se de Velho Chico, novela que ocupará a vaga do atual folhetim de João Emanuel Carneiro.

A expectativa para a trama é grande, uma vez que traz de volta ao vídeo Rodrigo Santoro, ator bissexto em produções televisivas. Além disso, a direção criativa de Luiz Fernando Carvalho contribui para aumentar a cobrança que Velho Chico tem pela frente. É também a chance de Camila Pitanga, a mocinha da trama, se redimir pelo trabalho trôpego que apresentou em Babilônia (2015). E, claro, que a narrativa de Ruy Barbosa, dessa vez, vá além do desfile de gado e outros animais de um lado a outro do vídeo.

Outro horário que também ganha um forte sotaque caipira é o das seis. Walcyr Carrasco está prestes a estrear Êta Mundo Bom!, inspirada no filme Candinho (1954), de Mazzaropi. Carrasco é exímio autor do horário e é de se esperar que desta vez ele não derrape no texto como fez em suas excursões por outras bandas – Amor à Vida (2013) é o melhor exemplo do que ele não deve seguir.

Para evitar uma overdose interiorana, a Globo cancelou a novela Trem Bom, cuja trama se passaria ao redor do universo sertanejo universitário. Na sequência de Carrasco, Walther Negrão e Júlio Fischer assumem o posto com uma temática litorânea, especialidade de Negrão.

Às sete, a próxima produção tira a naftalina do armário e refaz um dos maiores sucessos do horário, Sassaricando (1987), de Silvio de Abreu, desta vez com o nome de Haja Coração. Mariana Ximenes encara pela primeira vez uma protagonista cômica, a cultuada Tancinha, papel que elevou Claudia Raia ao estrelato. Ainda que Mariana não tenha o tipo físico da personagem, a atriz é boa e tem chances de se destacar no papel. Daniel Ortiz, o autor, promete ainda novos desenrolares com novas tramas. É torcer para que a releitura seja mais bem-sucedida que a última empreitada de remake no horário, Guerra dos Sexos (2012).

A Record, por sua vez, promete não dar trégua à concorrência e investirá forte no filão religioso, que fez a alegria do bispado em 2015. Há a segunda parte de Os Dez Mandamentos – e espera-se que a enrolação seja menor e que, desta vez, os mandamentos sejam enfim revelados – e A Terra Prometida, com direção de Alexandre Avancini e texto de Renato Modesto.

Em paralelo, a emissora estreia A Escrava Mãe, uma novela de época, inteiramente gravada, indo totalmente contra um dos principais pilares do gênero, o fato de telenovelas serem obras abertas, que podem mudar de acordo com a resposta do público. O final da história já é de conhecimento de todos e a produção (terceirizada) não foi das mais calmas. A expectativa é que com ela a Record consiga consolidar seu segundo horário de novelas e torne-se uma verdadeira praga contra a Globo.

História também não deve faltar em Liberdade, Liberdade, que conta a trajetória de Joaquina, a filha de Tiradentes, mártir do movimento político da Inconfidência Mineira. Por fim, em ano eleitoral, política não poderia ficar de fora e a tarefa de levar ao vídeo uma trama com tal temática coube a Maria Adelaide Amaral e Vincent Villari, estreantes no horário das nove e que cederam espaço para Benedito Ruy Barbosa recuperar os índices de audiência que andam bastante cambaleantes pela Globo.

Em um ano olímpico, é de se estranhar que nenhuma produção em curso vá abordar o tema. Mas do jeito que as coisas andam, com novela sendo cancelada em cima da hora, não seria surpresa nenhuma se alguma trama afim pintasse no horizonte.


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