Análise | Teledramaturgia
Edu Moraes/Record
Gabriela Moreyra em Escrava Mãe; protagonista oscila entre bons momentos e derrapadas
RAPHAEL SCIRE
Publicado em 25/6/2016 - 8h13
A abertura de um novo horário para exibição de novelas e a fuga da temática bíblica já configuram um avanço e tanto na teledramaturgia da Record. Ainda que sua produção seja notoriamente reconhecida pela instabilidade, a exibição de Escrava Mãe dá à emissora a chance de crescer e tornar-se de fato uma alternativa às novelas da Globo.
Já totalmente gravada, Escrava Mãe conta a trajetória de Juliana (Gabriela Moreyra), desde seu nascimento até outro parto, o de Isaura, a escrava mais famosa da TV brasileira, passando pelas agruras da escravidão e pelo amor de Miguel (Pedro Carvalho), que não estará imune às vilanias de Almeida (Fernando Pavão) e Maria Isabel (Thaís Fersoza).
Sem a vantagem da correção que uma obra aberta como a telenovela permite fazer, por já estar gravada, Escrava Mãe aposta fundo em outros ingredientes folhetinescos: não abre mão dos ganchos nem tampouco de deixar bastante claro quem é bonzinho ou malvado na história. O maniqueísmo não cede espaço para nuances de caráter e ali também não há lugar para invencionices narrativas. É justamente aqui o ponto alto da história: sem fugir do feijão com arroz, Escrava Mãe mostra-se uma novela correta.
Logo no começo, Escrava Mãe surpreendeu ao misturar cenas fortes, como o estupro de Luena (Nayara Justino) no primeiro capítulo, com sequências de ação e violência que deixaram clara a marca da direção bem acabada de Ivan Zettel, principalmente ao não apostar na pirotecnia brega de Os Dez Mandamentos _isso por si só conta muitos pontos a favor da trama.
É perceptível o esmero da produção, embora a novela preze demasiadamente por uma assepsia fotográfica que no vídeo soa falsa. Para se ter um efeito de comparação, Liberdade, Liberdade, a novela das onze da Globo, se passa no mesmo período histórico, e ainda que em cidades diferentes, a sujeira na caracterização e a degradação dos cenários são bem mais evidentes, o que traz um pouco mais de veracidade.
Se o dramalhão de Escrava Mãe, à primeira vista, conclama o público às lágrimas, vale a atenção ao trabalho de Jussara Freire (Urraca) e Luiza Tomé (Rosalinda), responsáveis por trazer um pouco mais de leveza. Jussara está à vontade em cena e forma uma ótima dupla com Fernando Pavão. Bete Coelho (Beatrice) e Zezé Motta (Joaquina) também mostram segurança nos papéis.
O texto de Gustavo Reiz foge da empostação, derrapa aqui e ali num certo maniqueísmo, é verdade, mas escapa de didatismos. A edição ritmada também contribui positivamente para a trama. A novela sofre, porém, com o elenco B da Record. Juno Andrade (Capitão Loreto), por exemplo, não tem um pingo de expressão. Gabriela Moreyra, a protagonista, alterna bons momentos com pequenas derrapadas.
Sem dúvida alguma, o grande trunfo da Record com Escrava Mãe é voltar a incomodar a concorrência como ocorreu com a primeira temporada de Os Dez Mandamentos e mostrar que tem força também na produção de histórias não bíblicas. A audiência estacionou na casa dos 12 pontos, motivo a se comemorar nos bastidores. Mesmo que ainda não represente uma ameaça à Globo, na disputa pelo horário das sete, quem sai ganhando é o telespectador.
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