Jornalismo
Reprodução/TV Globo
William Bonner e Renata Vasconcellos no Jornal Nacional da última quarta: edição nervosa
DANIEL CASTRO
Publicado em 22/5/2017 - 5h29
Ainda obrigatório para a elite e para as massas, o principal telejornal do país é um elefante belo e vigoroso, mas lento, incapaz de se sobressair na competição com a velocidade dos portais e dos canais de notícias. As falhas apresentadas na semana passada com as denúncias contra o presidente Michel Temer confirmam: o Jornal Nacional não sabe correr contra o tempo.
Na quarta-feira (17), a equipe que produz o telejornal foi surpreendida, uma hora antes de entrar no ar, com a revelação bombástica do jornal O Globo de que Temer havia caído na teia da Lava Jato. Conseguiu produzir uma edição quente, tensa, mas que nada acrescentou ao que já estava na internet, como bem observou o crítico Mauricio Stycer.
No ar, William Bonner se deparou com um texto que chamava Temer de "ex-presidente". Por pouco, o apresentador e editor-chefe do JN não escorregou na casca da banana plantada pelo redator, que havia colocado o "ex" no teleprompter. Sua colega de bancada Renata Vasconcellos parecia nervosa, passando ao telespectador a impressão de que não se sentia segura do que tentava informar.
Nos dias seguintes, muita coisa mudou. Apesar de cometer "imprecisões", como relatar que contas no exterior do delator premiado Joesley Batista seriam dos ex-presidentes Dilma Rousseff e Lula, o JN deu show de edição.
Na quinta (18), traçou um painel completo da crise durante uma hora e meia. E, prova de que prendeu o interesse do público, teve 35,4 pontos de média na Grande São Paulo, seu melhor ibope desde a Rio 2016.
Não foi a primeira vez (nem terá sido a última) que o Jornal Nacional foi atropelado pela notícia de última hora. Na cobertura da crise política que se arrasta desde 2014, os apresentadores do JN já se viram lendo diálogos de grampos da Polícia Federal porque não teria havido tempo de editar e legendar as falas originais, coisa que a GloboNews já tinha feito horas antes.
O canal de notícias da casa, aliás, vive dando banhos de cobertura no telejornal, apesar de ter menos recursos.
O Jornal Nacional sofre quando se depara com uma notícia de última hora porque é extremamente amarrado. Tudo o que veicula, até mesmo uma nota pelada (como são chamadas as notícias lidas pelos apresentadores, sem imagens), passa pelo crivo de Silvia Faria, diretora nacional de jornalismo, e Ali Kamel, diretor responsável por seu conteúdo.
Os textos do JN "sobem e descem" diversas vezes durante a edição. Nesse processo, perde-se agilidade e a capacidade de surpreender o público com uma edição mais criativa e bem acabada. Quando a edição do dia começa a ser planejada às 9h da manhã, e não às 19h, tudo sai perfeito. E telejornal não deveria ser só edição. O JN ainda nos deve um grande furo da crise política.
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