Sem fôlego e repetitiva, Cara e Coragem é tão empolgante quanto Horário Político

É bastante significativo que uma das protagonistas de Cara e Coragem, atual trama das sete da Globo, esteja em coma. A ironia reside no fato de que Clarice (Taís Araújo), assim como a novela de modo geral, simplesmente não acontece, e suas ações ficam restritas a pequenos inserts que servem para alimentar o mistério em torno de sua morte. Parada, sem um pingo de charme e completamente sem apelo popular, a novela de Claudia Souto padece para engrenar e, a julgar pelo ritmo atual, dificilmente emplacará em audiência e, principalmente, em repercussão. 

Muito focada no mistério de Clarice, Cara e Coragem gira em círculos. Capítulos após capítulos, a impressão que dá é a de que a novela não avança. Não é raro ver os personagens conversando em situações de pouco movimento sobre assuntos que só reiteram o que já foi dito, ou, para piorar, em ações de merchandising. Somado a isso, a profusão de flashbacks desgasta ainda mais a história. Toda a carga de adrenalina de seu início, com cenas que deixavam os personagens arfantes, parece ter se esvaído. 

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Cara e Coragem sofre de um mal fatal para qualquer folhetim: ela passa batido. Um exercício simples para entender o desinteresse que a novela tem é deixar a TV ligada enquanto é exibida e ir fazer outra coisa. Não há uma cena sequer que prenda a atenção do público, seja por um acontecimento inesperado ou então um diálogo mais profundo. Também não tem humor suficiente para fazer com que o espectador desligue da vida e caia na risada.

O que leva o capítulo adiante é tão somente a inércia da história. Os ganchos, tanto dos blocos comerciais quanto os finais, não surpreendem, os diálogos da trama são banais e nem mesmo o elenco se esforça em entregar atuações menos mecânicas.

As subtramas de Cara e Coragem são apáticas, os personagem mostram uma desconexão enorme com o público, e é extremamente difícil de se afeiçoar a qualquer um deles. Além disso, há algumas atuações que beiram o constrangimento, como a de Khaysar Dadour (Kaká Bezerra). 

Justiça seja feita, Kiko Mascarenhas é o único que realmente mostra um pouco mais de dedicação, muito por conta da dualidade de seu personagem. Duarte é também Bob Wright, um malandro que se passa por americano e engana boa parte do elenco, mas as confusões repetitivas do personagem também já começam a cansar. 

Situação pior vive o casal protagonista, Pat (Paolla Oliveira) e Moa (Marcelo Serrado). A falta de química entre a dupla é tão grande que nem mesmo a balada romântica de Marisa Monte que embala as cenas dos dois é capaz de despertar a torcida pelo romance. Fora isso, os conflitos entre eles são inexistentes --principalmente depois da separação de Pat e Alfredo (Carmo Dalla Vecchia).

Para completar, os vilões vividos por Mel Lisboa (Regina), Icaro Silva (Leonardo) e Ricardo Pereira (Danilo) não exalam charme, e falta aos personagens um mínimo de profundidade e motivação.  

Sem carisma, a novela ainda tem mais uns meses pela frente, e é muito pouco provável que uma mudança significativa chacoalhe a trama a ponto de fazer com que ela engrene. Cara e Coragem é tão empolgante quanto o Horário Político: a TV pode até ficar ligada, mas dificilmente alguém presta atenção no conteúdo.

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