Arlete Montenegro
Reprodução/Viva
A atriz Arlete Montenegro, que sofreu com a ira dos telespectadores ao ser vilã de novela em 1964
REDAÇÃO
Publicado em 25/6/2019 - 5h15
Há 55 anos, ser vilã de novela no Brasil era uma profissão muito perigosa. A atriz Arlete Montenegro, de 80 anos, deu depoimento à série documental As Vilãs que Amamos, do canal Viva, e contou como foi sua experiência como a antagonista de Ambição, trama de 1964. Ela sofreu com vários ataques e com a "energia pesada" do público.
Em Ambição, Arlete vivia Belinha, primeira grande vilã da teledramaturgia brasileira. Irmã da mocinha Guida (Lolita Rodrigues), ela era uma moça pobre que sonhava em ser muito rica. Já Guida, que não ligava para bens materiais, encontrou o amor com um homem de posses. Belinha não aceitou isso e fez de tudo para prejudicar a irmã e a família toda. Sobrava para sua intérprete enfrentar a ira do público.
"Ela fazia qualquer coisa pra ganhar. Queimava o vestido da irmã para ela não ir ao baile, atropelou o próprio pai... Tanto que uma mulher me agarrou no supermercado para me bater. Eu não estava esperando, embora eu recebesse muitas cartas de pessoas me amaldiçoando", lembrou a atriz na série documental.
"Na época, eu vivia resfriada, gripada, e caía sozinha, do nada, na rua. Olha a energia ruim que eu recebia do Brasil inteiro. Foi assustador", confessou Arlete.
A novela da Excelsior fazia tanto sucesso com os telespectadores que a emissora decidiu anunciar onde seriam gravadas algumas sequências do último capítulo e convidar o público para assisti-las, na Igreja da Consolação, em São Paulo. Para Arlete, isso foi uma "besteira".
As cenas eram do casamento dos protagonistas, e o diretor havia pedido para Arlete ficar atrás de uma coluna, fazendo cara de má como Belinha. "Eu falei: 'Não vou, porque vão me bater'", disse Arlete.
A equipe da novela quis até levar policiais para protegê-la, mas o noivo da atriz achou que o público poderia tacar pedras nela e machucá-la mesmo assim.
"Eu não fui. Briguei com o diretor e fui embora para Peruíbe [litoral de São Paulo]. Vieram piquetes de toda São Paulo pra bater na Belinha. Imagina se eu tivesse ido. Quebraram parte do altar da igreja. Foi uma coisa assustadora", ressaltou.
Mesmo assim, Arlete se orgulha muito de ter interpretado a terrível Belinha. "O papel da vilã é muito forte, muito poderoso", defendeu.
Apesar dos transtornos, Arlete continuou trabalhando como atriz de TV nos anos seguintes. Atuou na Excelsior e na Tupi entre os anos 1960 e 1970 e no SBT entre as décadas de 1980 e 2000. Na Globo, fez duas novelas: O Profeta (2006) e Páginas da Vida (2006). Ela também é dubladora e foi a voz brasileira de Meryl Streep no filme O Diabo Veste Prada (2006).
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