COM MUITA MANTEIGA
REPRODUÇÃO/TV GLOBO
Preciosa (Marina Ruy Barbosa) em Fuzuê; novela das sete se assume como comédia rasgada
Fuzuê cumpre bem a missão de manter a Globo na liderança, mas tem sofrido nas comparações com Vai na Fé (2023). Ao contrário da antecessora, o folhetim de Gustavo Reiz caiu primeiro nas graças do público do que na crítica, que geralmente torce o nariz para a "farofa" --gíria para histórias que não têm vergonha de apelar para os clichês mais populares.
A novela das sete da Globo ficou abaixo dos 20 pontos em apenas um capítulo, aproveitando-se dos bons índices deixados pela trama de Rosane Svartman. A autora teve um pouco mais de dificuldade para emplacar a saga de Sol (Sheron Menezzes), já que herdou o horário da mal-sucedida Cara e Coragem (2022).
Se Vai na Fé marcou 20,1 de média na primeira semana, Fuzuê chegou a 21,8 no mesmo período. A história de Luna (Giovana Cordeiro) conseguiu fidelizar os telespectadores rapidamente, crescendo para 22,3 de média já na segunda semana. A antecessora manteve-se estável.
A diferença entre as tramas é visível, já que Fuzuê deixou o realismo de Rosane para trás para apostar em uma estética quase de desenho animado. Em pouco menos de um mês, Poderosa (Marina Ruy Barbosa) já levou um banho de doces, se jogou de uma cachoeira e foi perseguida por gansos.
Reiz também aposta em bastante comédia física, como quando Miguel (Nicolas Prattes), Alícia (Fernanda Rodrigues), Cláudio (Douglas Silva) e Francisco (Michel Joelsas) acertam um no nariz do outro. Um dos momentos mais histriônicos, porém, é o barman Gilmar (Eber Inácio) --que sai de dentro da parede para servir drinques de maracujá.
A supervalorização de tramas mais realistas em detrimento de comédias como Fuzuê tem uma razão histórica. O Brasil até começou a ter uma identidade nacional na literatura a partir do Romantismo, como a Canção do Exílio de Gonçalves Dias (1823-1864); entretanto, foi durante o Realismo que ela se cristalizou.
Machado de Assis (1839-1908) foi um dos responsáveis por narrar esse país que buscava desesperadamente se tornar uma nação --e não uma extensão de Portugal-- da Independência em 1822 à proclamação da República em 1889.
O escritor também foi responsável por fundar a Academia Brasileira de Letras e, quase um século depois, ainda é um "fantasma" que assombra o imaginário brasileiro.
A influência dos Estados Unidos, sobretudo com a Doutrina Monroe, também explica a primazia do drama sobre a comédia. Hollywood ajudou a criar uma "gramática" para o público que migraria mais tarde do cinema para a televisão --alimentando esse imaginário com dramalhões como Imitação da Vida (1959), de Douglas Sirk (1897-1987).
Para se ter uma ideia dessa valorização do drama na escola norte-americana, apenas uma comédia venceu o Oscar de Melhor Filme nos últimos 20 anos. E, mesmo assim, No Ritmo do Coração (2022) foi considerado um azarão, ainda mais por ser uma versão do filme francês A Família Bélier (2014).
A comédia tem mais prestígio na escola europeia, da companhia britânica Monty Python à estranha popularidade do francês Jacques Tati (1907-1982). Dos franceses, o Brasil herdou o desejo de se tornar a "Paris dos Trópicos" com o projeto de Pereira Passos (1836-1913) para reurbanizar a então capital Rio de Janeiro.
Além de inúmeras obras como a Praça Paris, no bairro da Glória, essa influência francesa se estendeu também aos hábitos da própria cidade. Os espetáculos de Vaudeville --que misturavam música e comédia-- eram bastante populares por lá e aqui.
Contudo, o preconceito em relação a esse estilo --por ser popularesco e contar com populações que eram rejeitadas sistematicamente, como os ciganos-- acabou ajudando a criar o estigma da comédia como algo "menor". Essa questão de classe permanece até hoje, até como diferenciação social.
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