Com Cecília no olho do furacão, Maeve Jinkings defende mudança em Vale Tudo

Personagem Maeve Jinkings, Cecília viverá dias tensos no remake de Vale Tudo. Ela será baleada e também sofrerá um grave acidente de carro na próxima semana. A ativista ficará entre a vida e a morte, mas, ao contrário do que ocorreu na primeira versão da trama, exibida em 1988, a personagem não morrerá: ela ficará em coma para depois despertar. A autora Manuela Dias opta, assim, por seguir um novo caminho, mudança que é vista pela atriz como necessária para os tempos atuais.

A história da personagem, que é casada com Laís (Lorena Lima), começa a girar agora em torno da adoção de Sarita (Luara Telles), uma menina que vive em um abrigo. Essa também é uma novidade do remake.

"Fiquei feliz, não só como atriz, mas como membro da comunidade [LGBTQIA+] e como cidadã progressista. A gente vive um momento extremamente conservador, e a novela é, acima de tudo, um produto comercial. Bancar essa trama é admirável", afirma Maeve.

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Para ela, é fundamental que a televisão aberta continue trazendo discussões relevantes para a sociedade, e a adoção por um casal de mulheres é uma delas: "A função da telenovela também é colocar assuntos em cima da mesa".

Maeve também discute o impacto de participar da "remontagem" de Vale Tudo, que é um clássico da teledramaturgia brasileira. "Quando você traz [a obra] para outro momento histórico, isso gera a necessidade de uma série de atualizações éticas, morais e políticas. Ainda somos o Brasil, mas é outro tempo. Esse atrito entre o que fomos, o que ainda somos e o que não somos mais é o que me interessa", reflete.

A atriz destaca ainda a importância da representatividade na escalação: tanto ela quanto Lorena Lima fazem parte da comunidade LGBTQIA+.

Eu e a Lorena somos casadas com mulheres. Mas não acho que atores precisam ser aquilo que fazem. O barato da atuação é justamente fazer o exercício de se colocar num lugar do outro. Ainda assim, entendo que essa demanda por representatividade tem uma importância política.

Embora não considere confortável ter que falar sobre sua sexualidade em entrevistas, a intérprete reconhece o impacto que a exposição de sua vida pessoal tem.

"Eu falo porque sei que tem alguém escutando que precisa ouvir isso. Tem gente que vive em famílias conservadoras, ou em lugares violentos para a nossa comunidade. A novela entra onde eu não entro, e isso tem um poder."

Maeve também comenta a introdução cuidadosa do casal na trama. Cecília e Laís apareceram desde o terceiro capítulo de maneira natural, como um casal casado há dez anos.

"Desde a primeira cena está claro: 'Minha esposa'. Isso é um avanço. A ideia foi gerar empatia, para depois a gente mergulhar na curva dramática das duas", observa a atriz.

Apesar da exposição e do risco de ataques nas redes, Maeve se mostra disposta ao embate. "Eu vivo em uma bolha acolhedora, mas sei que isso não é o Brasil. Então, tenho um papel de botar a armadura e dizer: 'Vamos lá'."

Ao refletir sobre as críticas e o avanço da pauta LGBTQIA+ na televisão, ela é enfática: "Sim, demos muitos passos. Essa mudança na trajetória da Cecília prova isso. Mas ainda é uma tensão. Nosso trabalho é puxar o tempo todo para frente".

Leia também -> Resumo dos capítulos da novela Vale Tudo.

Vale Tudo foi exibida em 1988 e é um dos grandes sucessos da teledramaturgia brasileira. O remake da novela celebra os 60 anos da Globo. A autora Manuela Dias está responsável pela atualização da trama, e Paulo Silvestrini assina a direção artística.

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