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FOGO SOBRE TERRA

Censura em novela tirou autora da Globo do sério: 'Tive que rasgar 12 capítulos'

DIVULGAÇÃO/TV GLOBO

Juca de Oliveira em foto preto e branco como o personagem Pedro Azulão na novela Fogo sobre Terra (1974)

Pedro Azulão (Juca de Oliveira) em Fogo sobre Terra (1974); personagem foi alvo da Censura

DÉBORA LIMA

debora@noticiasdatv.com

Publicado em 8/5/2023 - 6h25

Há 49 anos, Fogo sobre Terra (1974) estreava na faixa das oito da Globo depois de enfrentar uma batalha contra a Censura Federal. Janete Clair (1925-1983) havia escrito a novela um ano antes, com o título de Cidade Vazia, mas a sinopse foi totalmente vetada. Os problemas com os censores continuaram ao longo da exibição do folhetim. "De uma só vez, tive que rasgar 12 capítulos", reclamou a autora.

A trama girava em torno dos irmãos Pedro (Juca de Oliveira) e Diogo (Jardel Filho), separados na infância após a trágica morte dos pais. Pedro acabou criado pela tia Nara (Neuza Amaral) em Divinéia, no sertão do Mato Grosso. Já Diogo foi morar com o engenheiro Heitor (Jaime Barcelos) no Rio de Janeiro.

Eles se reencontraram após 30 anos, mas na condição de rivais por disputar o amor da mesma mulher e terem opiniões opostas sobre o destino da cidade fictícia. Diogo voltou com a missão de chefiar a construção de uma represa na área em que estava Divinéia --que seria inundada pelas águas do rio. Mas Pedro Azulão confrontou o irmão por não querer ver sua cidade desaparecer.

A primeira intervenção dos censores aconteceu quando Pedro convocou os cidadãos a pegar em armas para evitar a demolição de Divinéia. Os agentes consideraram a cena um estímulo à guerrilha e a proibiram.

Janete Clair teve de reescrever em poucos dias capítulos já gravados para se adequar aos cortes impostos pelo departamento. A escritora mudou o rumo do protagonista, que terminou preso após ser acusado de invasão de domicílio, sequestro e tentativa de homicídio.

A intenção da autora era que o herói se sacrificasse junto com a cidade, mas os agentes do Governo Federal não permitiram que o personagem virasse um mártir. No final, Pedro acabou desistindo do plano antes da inundação. Mas Janete deu um jeito de manter sua posição e fez com que Nara morresse afogada como protesto à chegada da represa.

A novelista não poupou os censores de críticas: "É preciso dizer que não tem sido fácil escrever Fogo Sobre Terra. Por vezes o telespectador deve ter achado um capítulo sem nexo, truncado, e deve ter imaginado que eu enlouqueci. Não é fácil dizer a verdade. E, às vezes, ela vai ao ar mutilada por mil injunções. De uma só vez, tive que rasgar 12 capítulos. E muitas cenas saíram de minha máquina e não chegaram ao vídeo".

"Fogo Sobre Terra não chegou a acontecer. Foi escrita com carinho, com boa vontade, mas não rendeu aquilo que eu esperava. Foi minha novela mais prejudicada pela Censura, porque, apesar de Selva de Pedra [1972] ter sido vetada em cerca de 20 capítulos, depois eu consegui engrenar de uma maneira muito feliz e sem outras amolações. Com Fogo Sobre Terra, tive problemas com a Censura do início ao fim da novela", declarou ela em 1980.

Dois anos depois, Janete resolveu peitar a Censura pelos cortes em Duas Vidas (1976). A autora reclamou das mudanças feitas na trama e escreveu uma carta aos censores, na qual se disse "perplexa e desorientada" e ainda afirmou ser incompreensível o critério dos agentes.


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