Atriz vê machismo em ódio pela Joy de Um Lugar ao Sol: 'Conservadorismo'

Lara Tremouroux tem despertado o ódio do público como a Joy de Um Lugar ao Sol. Nas redes sociais, tornaram-se comuns publicações desejando a morte da personagem --o que de fato vai acontecer nesta quarta-feira (26). O jeito rebelde da pichadora, somado às humilhações a Ravi (Juan Paiva) e o descaso com a maternidade são fatores para o ranço. A atriz não passa pano, mas vê machismo nas análises sobre a jovem. "Existe um conservadorismo", opina.

Aos 24 anos, Lara encara o seu papel de maior destaque na novela das nove da Globo. Mas, apesar da raiva dos telespectadores, ela não é hostilizada nas ruas. "Não me reconhecem. Eu sou muito diferente dela e estou sempre de máscara", brinca a intérprete de Joy, que usou peruca de dread em cena.

Para construir a recém-saída da adolescência, a atriz estudou a história de vida da garota. "Parte do exercício foi olhar para as faltas da personagem, que são muitas. Tem a vulnerabilidade social, o padrasto abusador, o machismo", entrega. 

LADRA

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Lara prefere não apontar os dedos para os defeitos de Joy, mas olhar o contexto socioeconômico em que a jovem está inserida. "No meu lugar de privilegiada, seria fácil olhar e pensar: 'Ela precisa de terapia'. Seria ótimo se ela pudesse fazer, mas falta muita coisa antes disso", analisa a artista, que cita educação e dinheiro como um dos fatores: "Isso já ajudaria a eliminar alguns dos problemas dela". 

Na trama, a personagem enfrentou uma maternidade indesejada após ser convencida pelo ficante a prosseguir com a gravidez quando estava prestes a abortar. "Ela disse várias vezes que não queria ser mãe", lembra a artista. "Existe um machismo e conservadorismo em relação a ela", observa. 

"Mas nada justifica algumas atitudes dela como, por exemplo, dizer que o Ravi não sabe escrever. Isso não se diz para ninguém", acrescenta a atriz, lembrando a cena cruel em que Joy vai embora com Damón (Ruan Aguiar). 

Divulgação/Marrom Glacê

Lara Tremouroux interpreta Joy

A morte de Joy 

No capítulo desta quarta-feira (26), a jovem despencará de um viaduto durante uma pichação com amigos. "Era uma das possíveis consequências. Eu fiz a pesquisa com uma pichadora que perdeu dois namorados também pichadores. Um morreu da mesma forma que a minha personagem, caindo de um prédio, e o outro levou um tiro, porque a pichação ainda é vista de forma muito marginalizada", conta a atriz.  

Lara tem acompanhado a repercussão nas redes sociais sobre o trágico desfecho de Joy. "É pesado desejar a morte de alguém, eu não desejo a morte de ninguém", afirma a artista. Mas ela confessa: "Acho graça dos memes".  

A atriz também acompanhará o final da personagem como telespectadora, já que o folhetim de Lícia Manzo está no ar todo gravado. "Eu acho bom, porque fico mais relaxada", comenta ela, que aproveita para acompanhar as tramas dos outros núcleos com os quais não teve contato nas gravações por causa dos protocolos sanitários devido à Covid-19. "É uma novela com muitos bons atores", completa.

Reprodução/Instagram

Lara posa com Juan Paiva nos bastidores

Carreira e redes sociais

Filha dos atores Thierry Tremouroux e Lorena da Silva, o Eugênio e a madame Lambert de Nos Tempos do Imperador, Lara cresceu nas coxias do teatro e começou a atuar profissionalmente aos 17 anos. Na TV, ela participou de Babilônia (2015), Sob Pressão (2017), Filhos da Pátria (2017) e Onde Nascem os Fortes (2018).

Para este ano, a atriz aguarda as estreias de dois filmes no circuito comercial, Ela e Eu, de Gustavo Rosa de Moura, e Medusa, de Anita Rocha da Silveira, pelo qual ganhou os prêmios de melhor performance no Festival de Cinema de Guadalajara (2021) e melhor atriz no Festival do Rio (2021).

No longa premiado, ela dá vida a Michele, uma blogueira que participa de um coral religioso e tem valores conservadores. "Bem diferente da Joy e bem diferente de mim. Tem um abismo", destaca. 

Muito politizada, a atriz protestou contra o governo de Jair Bolsonaro quando participou com o filme na Quinzena dos Realizadores do Festival de Cannes de 2021. Na ocasião, ela exibiu um cartaz pelos 533 mil brasileiros mortos por Covid-19 quando já existia vacina contra a doença. 

Nas redes sociais, Lara também usa seus holofotes para se manifestar, fugindo do lado da turma do "bloco neutro". "Com esse governo atual, eu estou em estado de desespero", desabafa ela, que deixa escancarada suas posições políticas na bio do Instagram. "Já é para filtrar", conclui, aos risos. 

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