Atriz resgata dor milenar para não abaixar a cabeça como serva em Reis

Roza Haydêer fugiu do clichê do passado como um lugar idealizado --e, às vezes, até nostálgico-- ao voltar até a Antiguidade para interpretar Urit em Reis. A atriz recusou olhar para a serva de Nabal (Vinícius Reed) apenas como uma mulher submissa. Ao contrário, ele enxergou a oportunidade de se unir às colegas para formar um dos núcleos mais empoderados do folhetim bíblico.

"Tivemos muitas conversas sobre o papel da mulher na época, sobre misoginia [ódio ou aversão ao feminino]. Elas, no entanto, têm um caráter transgressor, empoderado, que uniram a sabedoria como uma forma de mostrar a um homem o que fazia de errado", ressalta ela em entrevista ao Notícias da TV.

Nabal não vai dar mais trabalho para Urit e as suas irmãs --Ariela (Malu Falangola), Elza (Isabela Arruda), Heidi (Giovanna Abbud) e Eleora (Natália Lummertz-- na próxima temporada. Morto, ele dará espaço para que Abigail (Maiara Walsh) se torne uma das principais mulheres de Davi (Cirillo Luna).

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"Existia a relação de solidariedade entre essas mulheres, um apoio mútuo para que sobrevivessem. Ou seja, mesmo em um meio patriarcal, elas encontraram uma forma de ter voz. Foi incrível saber de cada detalhe disso. Crucial", diz.

Roza, aliás, alerta que o público não deve olhar para a trama com o mesmo filtro dos dias de hoje:

O ato de servir era visto como um trabalho honroso, o prazer em cuidar da casa, em cuidar do próximo, os servos são parte da família e desse núcleo. O dia a dia delas é sempre retratado na leveza e felicidade em servir, mas, claro, com toda a dureza do trabalho braçal, árduo e pesado que as mulheres tinham como dever, objetos pesados e de manuseio difícil, sobretudo com orgulho e propósito, são figuras de importância com um trabalho de respeito e de grande valor.

Profissão de fé

Roza não conhecia tão a fundo a história de Davi, surpreendendo-se com os dons musicais do rei. Ele é o autor de ao menos 73 salmos na Bíblia Cristã. "Acho linda e emocionante essa parte, com o canto e a harpa. Aprendemos que a expressão artística era ligada ao feminino. As mulheres aprendiam para entreter seus maridos. Então é legal ver essa quebra de padrão na história", conta.

Em sua segunda produção bíblica, ela afirma que se sente tocada de alguma forma por uma força superior em seu trabalho:

Sou uma pessoa muito ligada a energia. Tenho muita fé em Deus e confio muito no que Ele tem reservado para mim. Todo dia é dia de agradecer e sentir sua presença lá dentro. Gênesis [2021] veio em um momento muito conturbado, em que havia sido aprovada para outra obra no SBT e a mesma caiu. Passei por um processo de frustração, ressignifiquei e busquei olhar por outra ótica: a da vitória.