Ator de Mar do Sertão é médico e se desdobrou para chutar preconceito

Savinho se acha muito em Mar do Sertão, mas é um personagem atrapalhado, que caiu em alguns golpes. Bruno Dubeux, 41 anos, intérprete do dentista na novela das seis da Globo, é bem diferente dele. Extremamente focado, o ator é dois em um: ele concilia os trabalhos como médico nutrólogo e de atuação há 16 anos.

Na Medicina e no teatro, ele enfrentou preconceito: "Como pode ser médico e ator? Falavam", recorda-se Dubeux. Por um tempo, isso gerou angústia e fez o artista se questionar muito. Ele se perguntava se teria de escolher entre as duas profissões até que resolveu chutar isso para longe para viver bem com sua multiplicidade profissional.

"Eu fui um pouco vanguarda nesse história de multifunções. Mas isso não tira os preconceitos que eu enfrentei, porque eu vivi isso nos dois lados. Na Medicina, quando eu comecei a estudar teatro. Depois, quando eu comecei a trabalhar como ator, eu também senti o preconceito, por incrível que pareça. No meio artístico, aquela galera mais carteirinha de teatro estranhava eu ser médico", entrega.

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"Eu comecei a botar um pezinho na área artística quando recebi um convite para fazer campanha publicitária como modelo. Depois, fiz um teste para um comercial, tudo em publicidade, ator em publicidade e em campanhas veiculadas em Recife. Aí, eu comecei a ganhar muito espaço no universo da televisão e comecei a gostar. Falei: 'Quero experimentar'", conta.

Ser ator era um sonho cultivado por ele desde a infância. Durante a faculdade de Medicina, ele começou a fazer cursos livres de teatro e se apaixonou ainda mais pelo ofício. Não quis deixar os estudos para se tornar médico, profissão que também ama, e seguiu firme até se formar, aos 25 anos.

Não ser uma coisa só é algo que o acompanha do berço. O ator nasceu no Texas, nos Estados Unidos, e foi morar em Recife (PE) com apenas três meses de vida. Seus pais são nordestinos e estavam estudando fora quando ele nasceu. Agora, Dubeux tem a oportunidade de fazer um representante do Nordeste na TV, o que o enche de orgulho.

Dubeaux é médico nutrólogo e ainda dá aulas 

No último ano da faculdade de Medicina, ele também fez uma oficina de atores com a produtora Márcia Andrade, que é responsável pelo elenco de Mar do Sertão. A professora foi a pessoa que mais o estimulou a ter coragem de investir na atuação.

Ele se mudou para o Rio de Janeiro e, graças aos plantões em emergência de hospitais, pagava suas contas e pôde fazer uma segunda faculdade na cidade para virar ator. "Eu sempre me sustentei sozinho, nunca tive ajuda de família. Eu costumo dizer que a Medicina foi a madrinha da minha carreira de ator."

Jogo de cintura e organização

Fez pequenas participações na TV até viver Michel em Malhação: Intensa Como a Vida É (2012). Ele conta que, nessa época, foi reconhecido pelo trabalho na TV no meio de um atendimento na emergência. A paciente estava sendo costurada, mas fez a maior festa para tirar uma foto com o médico ator.

"Eu sou muito dinâmico, tenho uma inquietude, uma vontade de experimentar coisas. Então, chegou um momento na Medicina que eu percebi que essa questão de ficar dando plantão, trabalhando na emergência, já não estava mais me animando. Foi quando eu resolvi me especializar e fiz nutrologia", comenta o intérprete de Savinho.

Ele fez pós-graduação em São Paulo e tem título de especialista. Abriu consultório no bairro de Ipanema, na zona sul do Rio de Janeiro, onde atende pacientes até hoje e passou a dar aulas com foco em obesidade. "Tem de ter jogo de cintura. Tem hora que vai mais aqui, tem hora que vai mais lá, tem de ir de acordo com o momento."

Até março, ele está mais ligado à novela, mas afirma que consegue ter uma agenda organizada para atender seus pacientes. Depois de Mar do Sertão, quer colocar em prática um projeto que une o médico e o ator.

Em 2018, ele comprou os direitos para montar o espetáculo Amores Flácidos, mas aí veio a pandemia, e a história virou uma "peça-metragem", que está disponível no Youtube. Ele quer colocar a montagem no teatro em um formato novo, no qual o personagem opressor que faz na peça sai de cena no final e abre espaço para o médico falar do combate a gordofobia.

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