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CRÍTICA DO FILME

Novo Jogos Vorazes cala Katniss para dar voz a vilão com o coração partido

REPRODUÇÃO/INSTAGRAM

Rachel Zegler e Tom Blyth em cena de Jogos Vorazes: A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes

Rachel Zegler e Tom Blyth: protagonistas de novo Jogos Vorazes mostram outra face de Panem

IVES FERRO

ives@noticiasdatv.com

Publicado em 15/11/2023 - 6h30

Jogos Vorazes - A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes é um filme controverso até para os fãs mais ávidos do universo criado pela autora Suzanne Collins. Esperança da Lionsgate para recuperar a bilheteria de seus blockbusters, a obra adaptada do livro de mesmo nome estreia nesta quarta (15) como uma obra independente, com um aceno discreto à franquia de sucesso, mas pequena demais para se impor à história ofuscante de Katniss Everdeen, vivida por Jennifer Lawrence em quatro filmes estrondosos.

A obra cinematográfica é ótima e cumpre os requisitos para a expansão do universo de Panem em suas quase três horas de duração. O público se depara com um cenário pós-apocalíptico, extremamente fiel ao livro, mas muito diferente das fotografias exuberantes coloridas e de arquitetura exagerada que chamavam a atenção e ultrapassavam as telas nos outros longa-metragem de Jogos Vorazes. O tom soturno, tanto no roteiro quanto na fotografia, é essencial para o surgimento de Coriolanus Snow (Tom Blyth), aos 18 anos.

O filme retrocede para décadas antes de Katniss despontar como a figura de uma revolução. Aqui, na décima edição dos Jogos Vorazes, os distritos são punidos e têm de oferecer dois tributos, um menino e uma menina, para serem jogados em uma arena e lutarem até a morte. A espetacularização, no entanto, não existe. O povo de Panem pouco liga para os jogos, que chegam a durar míseros minutos e não empolgam.

É neste cenário que Coriolanus Snow é apresentado. O futuro presidente tirano de Panem é um garoto jovem que vive com a avó e a prima, Tigris (Hunter Schafer, de Euphoria), em um apartamento decadente. A fortuna dos Snow acabou e não há sequer o que comer. O garoto, cheio de ambição para ser novamente uma pessoa rica e devolver o prestígio da família, dá tudo de si para abocanhar o prêmio de uma bolsa de estudos que assegurará seu futuro.

O plano dele vai por água abaixo quando a premiação é suspensa para, pela primeira vez na história dos Jogos Vorazes, testar acadêmicos ascendentes na sociedade da Capital como mentores dos 24 tributos. Snow reluta quando é designado para cuidar da magricela e esquisita Lucy Gray Baird (Rachel Zegler, de Amor, Sublime Amor), uma garota do Distrito 12 que rouba a cena com seu talento de cantora.

Snow está passando fome e precisa desesperadamente vencer o prêmio que será dado ao universitário que servir como melhor mentor. O jovem, então, decide virar os Jogos Vorazes a seu favor: ele desenvolve uma relação com Lucy, para aproximar os telespectadores, cria seu próprio roteiro dramático para transformar a cantora numa artista de rede nacional e até trapaceia.

A manobra dele faz com que os jogos voltem a ter prestígio em Panem. O filme deixa claro que não requer o perdão nem a compaixão do público com as atitudes egoístas e um tanto maniqueístas do vilão, muito menos explica com profundidade o motivo para tanta maldade --o roteiro joga a culpa da ira de Coriolanus no clássico "garoto de coração partido" que não gera empatia.

Talvez a ideia de Suzanne Collins ao fazer um dossiê sobre o fim da adolescência de Snow tenha sido mostrar uma Panem diferente, deixando de lado a voz do protagonista.

A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes é um filme independente, sem qualquer ligação com a franquia original, e é por isso que se torna tão perigoso nos cinemas.

A tentativa do diretor Francis Lawrence em alcançar notas satisfatórias foi apostar todas as fichas na personagem de Rachel Zegler, uma figura extremamente doce e carismática que destoa do caos, e no affair com o futuro presidente. Rachel é colorida, viva, talentosa, e carrega a esperança de Katniss na ação e no olhar. Não à toa, fãs da saga acreditam que Lucy Gray pode ser uma antepassada da "garota em chamas".

A chance de fazer conexões mínimas com a trilogia vem de poucas menções à planta katniss e de uma versão da canção The Hanging Tree (A Árvore Forca), música criada por Lucy que se tornou um ícone do Distrito 12 e símbolo da revolução. O motivo da escolha é unicamente para o foco da história ser o desenvolvimento pessoal de Coriolanus Snow. Algumas situações vividas por ele explicam, inclusive, sua obsessão por Katniss.

O filme quer ser parte da franquia Jogos Vorazes, mas está a passos distantes. É uma obra independente que poderia ser um bom início para a série caso já não existissem adaptações da trilogia distópica. A película, apesar de ótima para entreter, usa apenas o nome do blockbuster para atrair mais pessoas à bilheteria. Vale a pena ver e se atentar aos detalhes.


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