Cineasta que reviveu Halloween encara meninas possuídas em novo Exorcista

David Gordon Green sequer era nascido quando o clássico O Exorcista chegou aos cinemas, em dezembro de 1973 --ele só viria ao mundo 16 meses depois, em abril de 1975. Apaixonado por filmes de terror, ele deu nova vida à franquia Halloween entre 2018 e 2022. A trilogia bem-sucedida o credenciou para reviver o terror de crianças possuídas no novo capítulo da saga, O Exorcista - O Devoto, que estreia nesta quinta (12) no Brasil.

"A experiência que eu tive com a [produtora] Blumhouse e a Universal Pictures na trilogia de Halloween me deu uma liberdade criativa que eu nunca tinha vivido antes", conta o cineasta ao Notícias da TV. "Filmes sobre possessão são um subgênero do terror, e dirigir um novo O Exorcista me deu a chance de me afastar do slasher [tipo de filme com um assassino sanguinário] e trazer o que eu havia construído no cinema independente para uma arena comercial."

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"O Exorcista original e aquela música icônica são um gatilho para algo primal em todos nós, e eu e toda a equipe que trabalhamos em O Devoto fizemos questão de respeitar a integridade da obra e ir além de um mero caça-níquel", diz Green, que se declara fã do original de 1973, um dos poucos longas de terror a serem indicados ao Oscar de melhor filme na história da premiação:

Eu vi o filme no colégio e, para mim, ele apagava a linha que divide terror e drama, cinema de arte e comercial. Amei como o diretor William Friedkin [1935-2023] pegou algo espetacular, inexplicável e sobrenatural, mas o colocou em um mundo real, com personagens que viviam situações corriqueiras. Aquilo entrou na minha mente e nunca mais foi embora.

Um dos pontos fortes de O Devoto é o retorno de Ellen Burstyn, atriz que interpretou Chris MacNeil (a mãe da menina possuída) no Exorcista original. Aos 90 anos, a veterana mostra fôlego de sobra no mesmo papel que lhe rendeu a segunda de suas seis indicações ao Oscar.

"Descobri que a personagem que queríamos retratar tem muito em comum com sua intérprete, porque a ideia era mostrar como os eventos de 1973 afetaram essas pessoas. E a vida de Ellen certamente mudou muito por causa de O Exorcista. Foi uma experiência mágica poder absorver sua sabedoria, e é sempre uma alegria encontrar artistas que têm confiança e vulnerabilidade ao mesmo tempo, que estão dispostos a entrar naquela dança com você", elogia.

Dessa vez, duas crianças são possuídas, em vez de apenas Regan (Linda Blair). Foi uma decisão do diretor e roteirista de confrontar não apenas homem e demônio, mas diferentes crenças e pontos de vista. "Ter essas duas possessões simultâneas e poder desenvolver essa conversa sob perspectivas múltiplas era algo que ainda não tinha sido feito e minha maneira de avançar no que Friedkin havia imaginado 50 anos atrás", justifica Green.

Filmar com as jovens Olivia O'Neill e Lidya Jewett, porém, trouxe outros desafios. Por lei, atores menores de idade trabalham uma quantidade limitada de horas por dia e precisam conciliar as gravações com os estudos --geralmente, um tutor especializado trabalha com eles nos bastidores. Mas, além disso, as duas precisavam encarar um processo longo de maquiagem e atuar em sequências bastante intensas de possessão.

"Fui atrás de Linda Blair e pedi qualquer conselho que ela pudesse dar para criar um processo saudável na hora de elas irem para lugares mais sombrios e perigosos. Juntamos um psicólogo infantil, os professores e os pais para que todos estivessem em um ambiente saudável e de confiança, que fosse provocador, mas divertido. E elas me surpreenderam a cada tomada, com atuações que pareciam muito naturais apesar de termos ensaiado bastante. Às vezes, em vez de gritar 'corta', eu simplesmente dizia 'obrigado'", valoriza.

O Exorcista - O Devoto estreia nesta quinta nos cinemas brasileiros depois de liderar as bilheterias norte-americanas no último fim de semana. Veja o trailer: