OPINIÃO
Reprodução/Globoplay
Marinete Francisco, mãe de Marielle Franco, exibe álbum de fotografias da festa de 15 anos da filha
"Minha filha, o que fizeram com você?". A mensagem, enviada para o celular de Marielle Franco (1979-2018) por Marinete Francisco 45 dias depois da morte da filha, é um dos momentos mais preciosos de Marielle, o Documentário, série jornalística de seis episódios que estreia no Globoplay na madrugada desta sexta (13), logo após a exibição do primeiro episódio na Globo.
Dá um aperto no coração ver uma mãe tentar comunicação com uma filha morta, e essa cena ilustra o esforço da Globo em humanizar Marielle, a menina pobre do Complexo da Maré, conjunto de bairros e favelas do Rio de Janeiro, que virou símbolo da luta contra racismo, feminicídio e desrespeito aos direitos humanos.
Durante o processo de produção da série, jornalistas da Globo conquistaram a confiança de familiares e tiveram acesso a mensagens de texto e de áudio trocadas pelo WhatsApp, principalmente entre Marielle e a mãe, Marinete, e entre a socióloga e sua mulher, Mônica.
Com esse material inédito na mão, os produtores de Marielle, o Documentário, conseguiram uma narrativa que aproxima a personagem do espectador. O primeiro episódio mostra a trajetória de Marielle e, por meio de mensagens de WhatsApp, reconstrói como um thriller as últimas horas de sua vida, encerrada com três tiros numa rua do centro do Rio de Janeiro, pouco antes das 22h de 14 de março de 2018.
Tratamento semelhante recebe o motorista Anderson Pedro Mathias Gomes. O documentário reproduz áudios que ele enviou à mulher. Poucas horas antes de morrer no ataque contra Marielle, ele demonstrava cansaço e preocupação com o filho, que necessita de cuidados especiais.
No primeiro episódio, o documentário busca retratar quem era Marielle, uma mulher alegre e "de luta", que encarou uma gravidez quando fazia pré-vestibular comunitário e mesmo assim conseguiu cursar Estudos Sociais na PUC (Pontifícia Universidade Católica), uma universidade privada, com uma bolsa 100%.
Entre depoimentos e áudios de WhatsApp, a série revela que ela teve uma festa de debutante, resultado dos esforços de seus pais, católicos frequentadores de igreja, e que Marielle achava que formava um "casal cafona" com Mônica Benício.
Em um raro momento de distensão, o documentário sugere que a combatividade da vereadora estava no DNA: durante uma gravação, sua mãe dá uma bronca no marido, daquelas que não deixam dúvidas sobre quem manda na casa.
REGinaldo teixeira/tv globo
Ricardo Villela (produtor-executivo), Eliane Scardovelli (roteirista) e Caio Cavechini (diretor)
Marielle, o Documentário não se propõe a descobrir quem matou a vereadora do PSOL. Busca, sim, respostas para o fato de até hoje, dois anos depois, ainda não sabermos porque ela morreu (tudo indica que foi vítima de milicianos incomodados com sua militância pelos direitos humanos nas favelas) nem quem mandou matá-la.
Além da vida de Marielle e da repercussão internacional de sua tragédia, o documentário se ocupa da investigação sobre o crime. E assim expõe uma série de falhas das autoridades que ajudam a entender a falta de respostas às perguntas acima. Indiretamente, mostra que Marielle Franco está "viva", parafraseando a esquerda que se apropriou de sua imagem.
Com produção executiva de Ricardo Villela, um dos principais executivos do Jornalismo da Globo, e direção de Caio Cavechini, formado no Profissão Repórter, Marielle, o Documentário não parece programa da Globo. Tem linguagem e estrutura de documentário, com a narrativa construída por depoimentos, vídeos e áudios. Não há narrador. Seu primeiro episódio é delicado (não há imagens do crime), tenso e emocionante. Cativante, dá vontade de assistir mais --como pede o streaming.
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