NOVA LINHA
Reprodução/CNN Brasil
O jornalista Mathias Brotero em cobertura do ataque à escola de São Paulo no Arena CNN de segunda
Depois de registrar um rombo de mais de R$ 330 milhões em seus três primeiros anos e ter que demitir 120 profissionais, a CNN Brasil enfrenta o desafio hercúleo de conquistar mais audiência. Essa é a única saída para aumentar o faturamento com publicidade e tirar o canal de notícias do vermelho. Para tanto, vale dar espaço a casos de polícia e até ao reality show Big Brother Brasil, da Globo.
Para "fechar a conta" no fim do mês, a CNN Brasil passa por um sutil processo de "popularização", visando ampliar seu público além da elite política e econômica do país. Dez meses atrás, o canal, que se apresentava no mercado como uma "boutique de notícias", ignorou uma operação policial que resultou na morte de 23 pessoas na Vila Cruzeiro, no Rio de Janeiro, manchete daquele dia em todos os portais e jornais. Hoje, a mesma CNN exibe até assaltos flagrados por câmeras de segurança.
A mudança ocorreu em novembro, quando o vice-presidente de Jornalismo, Leandro Cipoloni, assumiu o comando da produção de conteúdo do canal, simultaneamente à demissão de 120 profissionais, entre eles os âncoras Monalisa Perrone e Sidney Rezende e a então CEO, Renata Afonso.
Uma das primeiras medidas de Cipoloni foi trazer de volta à Redação da CNN monitores com a medição de audiência em tempo real feita pela Kantar Ibope. Os números que saem dessas telas têm pautado decisões de investimento em assuntos que dão melhor resultado, como a história da professora que foi esfaqueada por um aluno em uma escola pública de São Paulo, nesta semana.
A lista das mais lidas de portais como UOL e G1 e assuntos mais comentados em redes sociais também passaram a pesar nas escolhas da CNN. O que for trend tem que estar no canal. Foi sob essa lógica que, pela primeira vez, informou a seus seletos telespectadores que dois participantes de BBB 23 haviam sido expulsos da atração da Globo por importunação sexual, no último dia 16.
A CNN diz que só noticiou a expulsão no BBB porque virou caso de polícia e que não pretende voltar a falar do reality show. Já a cobertura policial só não aumenta porque lhe faltam braços. A GloboNews dá muito mais polícia, e a Jovem Pan não tem pudor em mostrar imagens chocantes.
Os dados do Ibope também determinam a duração de entrevistas ao vivo: elas não podem passar de dez minutos, porque o público cansa e a audiência cai. Nos bastidores, há relatos de entrevistas (sonolentas) que foram encurtadas, mas a CNN nega que isso tenha acontecido.
Os profissionais da CNN não estão acostumados a trabalhar sob a pressão de ter que dar audiência, e isso tem gerado inconformismo e desorientação. Os últimos dias foram particularmente tensos.
A estratégia de abrir o noticiário para além de política e economia alavancou o canal em janeiro e fevereiro. Neste mês, no entanto, a Jovem Pan disparou e passou a CNN no Ibope. O canal de notícias bolsonarista deve fechar o mês com 0,2 ponto na Grande SP, o dobro da média da CNN nas 24 horas do dia. Durante a tarde, com o Pânico e o Linha de Frente, a Jovem Pan tem humilhado a CNN.
O crescimento da Jovem Pan criou um quadro "desesperador", segundo um profissional ouvido pelo Notícias da TV. Para quem precisa crescer no Ibope para continuar vivo, perder para a rival de extrema direita é inadmissível. Os nervos ficaram à flor da pele na Redação da CNN. Há relatos nos bastidores de ordens urgentes para trocar de assunto ou de entrevistado.
A reação na programação da CNN deve ser anunciada nos próximos dias.
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