TIRO NO AR
REPRODUÇÃO/RECORD
Sérgio Aguiar convocou a repórter Daniela Salerno para trazer os dados dos processos que envolvem a MRV
DANIEL CASTRO e GABRIEL PERLINE
Publicado em 20/9/2019 - 19h56
Atualizado em 21/9/2019 - 6h59
A Record encerrou a semana que perdeu o jornalista Reinaldo Gottino para a CNN Brasil com um ataque ao sócio investidor do novo canal de notícias, o construtor Rubens Menin. Em reportagens exibidas no Jornal da Record, na sexta-feira (20), a emissora acusou a construtora MRV, principal negócio de Menin, de ser alvo de mais de 50 mil processos na Justiça de São Paulo e de levantar prédios de baixa qualidade no Paraná.
A primeira reportagem, no boletim vespertino do JR, ocupou 1 minuto e 16 segundos. A repórter Daniela Salerno apareceu ao vivo na frente do escritório da construtora em São Paulo para trazer alguns dados em tom alarmante.
"O nome da construtora aparece em pelo menos mais de 50 mil processos quando a gente faz uma consulta no banco de dados da Justiça de São Paulo. Pelo menos 6 mil desses casos são de clientes que alegam danos materiais, ou seja, eles se sentiram lesados após o recebimento das chaves dos imóveis. [Em] Outros 3,3 mil casos os clientes pedem reparos por práticas abusivas", aponta a repórter.
Pelos textos de Daniela e do apresentador Sérgio Aguiar, os dados foram levantados por profissionais da Record, não foram divulgados por alguma instituição. Ou seja, a Record criou a notícia.
Na principal edição do Jornal da Record, às 21h30, a emissora voltou a atirar na MRV. Uma reportagem de quase cinco minutos mostrou que Ministério Público do Paraná está processando a MRV por falhas graves na construção de 11 prédios do programa Minha Casa Minha Vida em Londrina (PR).
A emissora fez questão de lembrar que a construtora se "beneficiou" do Minha Casa Minha Vida, uma plataforma do governo Lula, e exibiu imagem do ex-presidente ao lado do dono da MRV e sócio da CNN Brasil.
"Para os moradores desse conjunto do programa Minha Casa Minha Vida em Londrina, Paraná, o que era a realização de um sonho se transformou imediatamente em um pesadelo, sem fim", informou o repórter Fábio Menegatti, de São Paulo. "Para essas famílias, o fruto de anos de esforço e sacrifício [foi] jogado no lixo", completou.
"A qualidade das habitações é tão baixa que o Ministério Público do Paraná teve de entrar no caso para tentar devolver a esperaça às milhares de pessoas que compraram uma coisa e receberam outra completamente diferente", completou o jornalista.
A reportagem do horário nobre corrigiu uma informação da edição vespertina: são "mais de 40 mil", e não 50 mil, os processos contra a MRV na Justiça de SP.
Nos bastidores da emissora, não há dúvida de que as reportagens foram encomendadas, como uma vingança pela contratação de Reinaldo Gottino, um dos principais nomes do jornalismo da emissora.
A Globo também perdeu profissionais para a CNN Brasil, mas não reagiu com reportagem apontando um ponto fraco do sócio da concorrente.
O Notícias da TV procurou a Record para comentar a veiculação desta reportagem, mas a emissora não comentou. CNN Brasil e MRV também não se manifestaram.
Assista à reportagem exibida no boletim do Jornal da Record:
Abaixo, a edição completa do JR das 21h30 de ontem. A reportagem contra a MRV começa aos 31min17s:
Engenheiro, Rubens Menin é dono da construtora MRV e do banco Inter, empresas que investem no patrocínio de clubes de futebol. Ele entrou para a lista dos bilionários da revista Forbes, com uma fortuna de quase US$ 2 bilhões (R$ 8,3 bilhões), turbinado pelos contratos do programa Minha Casa, Minha Vida, um cartão de visitas do PT. Mas não esconde seu apoio e torcida ao presidente Jair Bolsonaro.
Na CNN Brasil, Menin é apenas sócio investidor. Ele não participa do dia a dia do novo canal, que só deve começar a operar em março do ano que vem. O comando da CNN Brasil é do CEO Douglas Tavolaro, ex-vice-presidente de Jornalismo da Record.
Nos últimos meses, a CNN Brasil contratou vários jornalistas da Record, mas todos para atuar nos bastidores, em cargos de chefia. Reinaldo Gottino foi o primeiro nome de vídeo que trocou a emissora pelo novo canal de notícias.
Gottino assinou com a CNN por cinco anos. Ele vai apresentar um programa diário, ao vivo, no fim da tarde e início da noite, antecedendo os telejornais de Monalisa Perrone, ex-Globo, contratada há duas semanas, e William Waack.
O programa de Gottino tratará principalmente de política e economia, com a participação de jornalistas e especialistas, em um projeto multiplataforma que envolverá, além da TV por assinatura, podcast e redes sociais. O telejornal seguirá um formato da CNN Internacional.
Sob seu comando desde 2014, o Balanço Geral SP se consolidou no Ibope da Grande São Paulo. Há dois anos, passou a bater a Globo na faixa das 14h às 15h, com o quadro Hora da Venenosa. De um ano para cá, também virou uma pedra no sapato do Globo Esporte e do Jornal Hoje.
O Notícias da TV apurou que Gottino estava se sentindo desprestigiado na Record. Percebia que a emissora não lhe dava o devido valor, uma vez que paga muito mais a estrelas que dão menos audiência. Faltando menos de 15 dias para o vencimento de seu contrato, a emissora ainda não tinha feito uma proposta de renovação.
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