OPINIÃO
REPRODUÇÃO/GNT
Fala de Xuxa para Taís Araujo durante Superbonita, programa do GNT, repercutiu na internet
Pobre Xuxa. Aos 58 anos recém-completados, a eterna Rainha dos Baixinhos não pode mais abrir a boca que vira polêmica e logo é defenestrada sem piedade nas redes, em que todo mundo parece ser santo e politicamente correto.
É óbvio que a apresentadora anda falando demais, e às vezes até diz o que não deveria, sobretudo quando levada em conta a sensibilidade do mundo atual para certos temas.
Assim, ao abrir a boca sem pensar, Xuxa acaba pagando o preço de ser espontânea. O que funcionaria em uma roda de amigos já não funciona quando levado às redes, onde sempre há alguém à espreita, ávido por um "deslize" que renda muito "engajamento". E Xuxa sempre rende.
brunno rangel/globo livros
Artista lançou suas memórias em 2020
Xuxa já havia inaugurado a fase dona de sua voz há algum tempo. E a consolidou com sua autobiografia, Memórias, lançada em 2020 pela Globo Livros, na qual resolveu assumir as rédeas da própria história. Até aí ela se saiu muito bem, inclusive revendo, pela ótica de uma mulher madura, os respectivos aprendizados com o passado.
Porém, quando Xuxa quis se meter em histórias que não lhe competiam diretamente, foi aí que ela tomou alguns tombos diante da opinião pública (sobretudo a do Twitter, rede que está a anos-luz de representar o que pensa o brasileiro médio, é preciso ressaltar).
E este 2021 não tem sido fácil para Xuxa neste sentido. Os primeiros ataques nas redes vieram por sua fala sobre presidiários, quando disse que eles deveriam servir de cobaias para testes científicos que ajudassem a combater a Covid-19.
Realmente, a fala foi infeliz em todos os sentidos possíveis, sobretudo por ser ela uma pessoa pública e não apenas uma mãezona quase avó que beira os 60 anos em uma reunião de família. Tanto que ela precisou pedir desculpa publicamente. Pensou com calma, viu que errou, pediu perdão e vida que segue.
Agora, a moda da vez é vociferar contra Xuxa porque esta revelou o desejo de ser uma mulher negra em uma futura encarnação, quando questionada por Taís Araujo no programa da atriz no GNT, o Superbonita.
É importante aqui fazer um breve parênteses e questionar: até quando a Globo, que tanto dinheiro ganhou com a apresentadora no passado, vai obrigar Xuxa a peregrinar como uma novata pelas atrações de seu conglomerado até a graça alcançada de um novo programa próprio?
Feita a pergunta, sigamos com a polêmica e voltemos ao desejo de Xuxa em ser uma mulher preta em uma vida futura.
A fala não é nenhuma novidade. Quem acompanha a apresentadora sabe que ela já falou isso inúmeras vezes, inclusive já disse exatamente a mesma coisa anos atrás para Gloria Maria, sem que ninguém a odiasse por isso ou o tema virasse polêmica.
Mas, o mundo mudou. E bem rápido. Sobretudo a internet e, ainda mais, seu recorte chamado Twitter. Assim, a fala de Xuxa mal chegou às redes e logo foi contestada com virulência. Lembraram até que seu programa não tinha paquitas pretas --nome inclusive de uma ótima e irônica canção da cantora Simone Magalhães, Por Que Não Tem Paquita Preta?.
O povo da internet só se esqueceu de lembrar que Marlene Mattos era a diretora da atração, abaixo do então todo-poderoso Boni, ambos também com culpa nesse cartório de falta de "representatividade" no Xou da Xuxa.
Aliás, Xuxa foi rebatida, e com certa veemência, pela própria Taís Araujo, que ficou visivelmente irritada com o sonho de Xuxa, demonstrando não ter gostado da resposta que ouviu à própria pergunta, entrando em enfrentamento com a entrevistada, algo pouco comum neste tipo de programa feminino de entretenimento.
Neste caso, Xuxa não pediu desculpa. Muito pelo contrário, reafirmou seu sonho de ser mulher negra em suas redes e deu uma cutucada nos detratores: "A outra vida é minha... E o desejo é meu, quem não gostar? Vai ler um livro (eu acabei de escrever alguns)", postou.
Na visão de Xuxa, o Twitter não tem o direito de censurar seus sonhos em futuras reencarnações. Ou será que tem?
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MIGUEL ARCANJO PRADO é jornalista pela UFMG, pós-graduado em Mídia, Informação e Cultura pela ECA-USP e mestre em Artes pela Unesp. É crítico da APCA, criador do Prêmio Arcanjo de Cultura e coordena a Extensão Cultural da SP Escola de Teatro. Passou por Globo, Abril, Folha, Record, Band e UOL. Clique para ver mais textos do Miguel e conheça também o Blog do Arcanjo
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