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LUTO

Ex-ministro da Fazenda, Delfim Netto morre aos 96 anos por complicações de saúde

REPRODUÇÃO/TV GLOBO

Delfim Netto usa uma camisa social e fones de ouvido enquanto encara a câmera

Delfim Netto em entrevista à Globo; o ex-ministro da Fazenda morreu aos 96 anos, em São Paulo

REDAÇÃO

redacao@noticiasdatv.com

Publicado em 12/8/2024 - 8h42

O ex-deputado federal e ex-ministro Antônio Delfim Netto, que já cuidou das pastas da Fazenda, da Agricultura e do Planejamento, morreu na manhã desta segunda (12) em São Paulo. Ele estava internado no Hospital Israelita Albert Einstein por complicações na saúde desde o último dia 5. A família não deu mais detalhes sobre a causa da morte.

O velório será restrito aos amigos e familiares, de acordo com informações divulgadas pelo G1. O ex-ministro deixa uma filha e um neto.

Nascido em 1928, em São Paulo, Netto foi um dos mais longevos ministros da Fazenda do país, tendo ocupado o cargo entre os anos de 1967 e 1974, durante a Ditadura Militar (1964-1985). Na mesma época, foi ainda embaixador do Brasil na França (1975-1977), ministro da Agricultura (1979) e ministro do Planejamento (1979-1985).

Seu período na pasta da Fazenda foi um dos mais marcantes da história do País. Ele comandou as medidas que geraram o "milagre econômico" --período no qual a economia brasileira cresceu cerca de 11% ao ano. 

O então ministro investiu na indústria brasileira, especialmente a de construção cívil. Criou 274 estatais e tomou medidas para atrair empresários, inclusive achatando os salários dos trabalhadores. Costumava dizer que o "bolo precisava crescer para depois ser repartido". 

Para dar conta da produção, Delfim Netto deu ênfase a exportação e facilitou as condições para empréstimos, aumentando a concentração de renda e diminuindo poder aquisitivo do trabalhador mais pobre a longo prazo. O período também foi marcado por um investimento mínimo em saúde, educação e previdência social.

Carreira conturbada

Netto foi um dos votantes a favor do Ato Institucional nº 5 (AI-5), que marcou o período mais duro da ditadura. Em entrevista ao UOL cedida em 2021, ele disse que voltaria a assinar a lei.

"Eu tenho dito isso sempre. Aquilo era um processo revolucionário, vocês têm que ler jornais daquele momento. As pessoas não conhecem história, ficam julgando o passado, como se fosse o presente. Naquele instante foi correto, só que você não conhece o futuro", alegou.

Ele, contudo, chamou de "idiota" quem tentasse promover um decreto semelhante nos tempos atuais. "Hoje nós sabemos para onde queremos ir e aprendemos que só existe um mecanismo para administrar esse país e levá-lo ao progresso, que é o fortalecimento do processo democrático. Isso é um aprendizado", destacou.

Após a redemocratização do Brasil, Netto permaneceu como figura de destaque nos meios econômico e político. Ele participou das eleições em 1986 como candidato à Câmara dos Deputados. O político cumpriu mandatos ininterruptos entre 1987 e 2007 por São Paulo.

Ele manteve relação próxima com o segundo governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), embora tenha sido filiado ao Partido Progressista (PP) e ao Movimento Democrático Brasileiro (MDB) —à época, PMDB.

Aposentado da política, o ex-deputado foi citado durante uma delação na Operação Lava Jato. Foi acusado de ter recebido propina pela construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte e chegou a ser alvo de um mandato de busca e apreensão, em 2018.

O Ministério Público Federal bloqueou sua fortuna de R$4,4 milhões de reais --com o intuito de devolver parte da propina total de R$ 15 milhões que teria recebido.

À época, ele disse que recebeu a fortuna por ter prestado consultoria ao grupo de empresas que venceu o leilão para construir a usina.

Professor emérito da USP

Netto recebeu o título de professor emérito da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA-USP) após construir toda a sua carreira acadêmica na instituição.

Ele tornou-se professor catedrático da USP em 1963 --cargo mais alto em uma carreira docente universitária--, e foi o primeiro ex-aluno da faculdade após a regulamentação da profissão de economista a conquistar o cargo.

Devido ao vínculo, o ex-ministro doou toda a sua biblioteca pessoal para a instituição em 2014. O acervo contava com mais de 100 mil títulos, acumulados em quase oito décadas.

Netto tem mais de dez livros publicados sobre problemas da economia brasileira e centenas de artigos e estudos. Escrevia semanalmente nos jornais Folha de S.Paulo e Valor Econômico e para a revista Carta Capital, além de publicar textos em cerca de 70 periódicos de todo o país.

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