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ANA HIKARI

Atriz oriental de Malhação repete na ficção racismo sofrido pelos pais

Maurício Fidalgo/TV Globo

Anderson (Juan Paiva) e Tina (Ana Hikari) sofrem com amor alvo de preconceito em Malhação - Maurício Fidalgo/TV Globo

Anderson (Juan Paiva) e Tina (Ana Hikari) sofrem com amor alvo de preconceito em Malhação

LUCIANO GUARALDO e MÁRCIA PEREIRA

Publicado em 15/9/2017 - 15h38

O preconceito sofrido pelo casal Tina (Ana Hikari) e Anderson (Juan Paiva) nos capítulos de Malhação é extremamente familiar para a jovem intérprete: afinal, o namoro entre uma oriental e um negro repete exatamente a situação vivida pelos pais de Ana. Fora da ficção, o romance entre a odontopediatra Makiko Takenaka e o professor de cinema Almir Almas também foi alvo de racismo por quem via o casal junto.

"Minha mãe já foi abordada por estranhos, falaram que ela estava sendo seguida por um cara suspeito, só porque meu pai é negro. São ocorrências cotidianas, situações de racismo e preconceito que acontecem com todo mundo e com frequência até hoje, infelizmente", conta a atriz de 22 anos.

Na novela de Cao Hamburger, Tina e Anderson lidam com o preconceito de desconhecidos e também com o da própria família: Mitsuko (Lina Agifu) e Nena (Roberta Santiago) até se uniram em um plano para separar o casal de adolescentes. Essa barreira não se estende aos pais da atriz. "Ele sempre foi bem aceito na família da minha mãe e vice-versa. Essa é a principal diferença entre eles e a Tina e o Anderson."

Embora os pais não estejam mais juntos, Ana continua presenciando cenas de racismo contra Almas.

"No ano passado, ele foi à farmácia comprar um lenço de papel para mim, porque eu tenho rinite. A gerente pediu para ele se retirar, disse que ele ia roubar a loja. Meu pai tentou se explicar, falou que só ia comprar um lenço, e ela soltou: 'Está na cara que você não tem dinheiro'. Ele até abriu boletim de ocorrência, o processo está em andamento, mas é um marasmo, né?", critica.

Vivenciar o preconceito ajuda a estreante na televisão a entender as motivações de sua personagem: "Em uma cena em que o Anderson foi barrado pelos seguranças na porta do colégio, eu me entreguei por inteiro. Pensei em quantas pessoas que conheço já estiveram naquele lugar, numa situação tão constrangedora. Eu fico me emocionando de verdade pensando no que meu pai e minha mãe passaram".

Ana com o pai, Almir Almas (Reprodução/Instagram)

Filha de um artista, a atriz começou cedo a ter contato com coletivos que escancaravam e debatiam o racismo por meio da arte.

"Com 7 ou 8 anos eu já entendia essas questões porque as via representadas em peças, vídeos... É por isso que estou aqui [em Malhação]. Acredito que a arte pode sensibilizar as pessoas, fazê-las entender que há uma forma mais gostosa de convivência", defende.

Madura para sua idade, a atriz não se furta de colocar o dedo na ferida. "A gente vive em um país que se diz miscigenado. Mas, na verdade, existe muito preconceito, está intrínseco no nosso dia a dia. Acho que o texto do Cao [Hamburger, autor da temporada] é muito feliz por mostrar que as diferenças podem existir e coexistir. Nós precisamos debater. Não adianta falar que somos todos iguais, porque não somos. Somos diferentes, o que vamos fazer a respeito? Conviver ou brigar?", filosofa.

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