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PSICÓLOGA EXPLICA

Traidora, Viola é mais odiada pelo público do que psicopata em Mania de Você

REPRODUÇÃO/TV GLOBO

Gabz caracterizada como Viola e Chay Suede, como Mavi, em cena de Mania de Você; eles estão sérios

Viola (Gabz) e Mavi (Chay Suede) em cena de Mania de Você; eles "inverteram" papéis na novela

SABRINA CASTRO

sabrina@noticiasdatv.com

Publicado em 5/11/2024 - 21h00

Mavi (Chay Suede) manipula Viola (Gabz) desde o início de Mania de Você, deu um golpe em Luma (Agatha Moreira) e foi capaz até de matar o próprio pai. Mesmo assim, o público adora o personagem --os resultados do primeiro grupo de discussão sobre a trama comprovam isso. Com a chef de cozinha, no entanto, o julgamento é bem mais rígido. O crime dela? Ter traído o namorado com Rudá (Nicolas Prattes) logo no início da novela das nove da Globo.

Há explicações para isso. Chay Suede é um ator carismático, que conseguiu encantar o público com o deboche do personagem e suas relações conflituosas com a mãe, Mércia (Adriana Esteves), e com o melhor amigo --e possivelmente irmão--, Iberê (Jaffar Bambirra).

Também há um toque de machismo nessa história. As mulheres sempre são mais vilanizadas quando agem contra um homem, mesmo que ele não seja lá aquelas coisas. Do lado masculino, contudo, a traição é bem mais naturalizada --vide frases como "ele só foi procurar o que não tinha em casa".

Não que o adultério seja sempre rechaçado na ficção. Muitas novelas também têm casais protagonistas que pulam a cerca --Cabocla (2004), exibida na Edição Especial nas tardes da Globo, é um exemplo. Zuca (Vanessa Giácomo) passa boa parte da novela traindo o encrenqueiro Tobias (Malvino Salvador) com Luís (Daniel de Oliveira), o mocinho da trama.

Mas até que ponto o público é capaz de perdoar uma traição? Tudo depende do caso a ser "julgado", explica Marina Vasconcellos, psicóloga, psicodramatista e terapeuta familiar e de casal pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), ao Notícias da TV

"Uma pessoa que de repente está num relacionamento superabusivo e não sabe como sair, porque não consegue, porque não tem condições... E aí trai com outro que é bonzinho. Aí as pessoas perdoam, porque, poxa, está com um cara maldoso, encontra outro que é legal, que trata bem... Tem mais é que ficar com o outro! Então, perdoam essa traição como se fosse algo permitido", diz.

Na vida real, casos como o do ator Arthur Aguiar, do cantor MC Cabelinho e do influenciador Chico Moedas também mostram que a traição, por mais recorrente que seja, também pode ser deixada para trás pelo público. "As pessoas podem se identificar e falar: 'Poxa, foi uma fraqueza, quem nunca, né?'. Uma coisa assim, de entender que é possível dar uma escorregada de vez em quando. E, se você se arrepender e voltar atrás, você pode ter perdão, pode fazer a vida seguir em frente", conta Marina.

Por outro lado, também pode existir um interesse narrativo por parte do traidor. "Porque não pode perder a imagem, né? Então, [o traidor pensa:] 'Deixa eu me retratar publicamente, para as pessoas me desculparem...'. Ou seja: não dá para saber muito se a pessoa é uma sedutora mentirosa ou se é verdadeira. Não dá para julgar", completa a profissional.

Sem motivos para trair

Mas por que o perdão não se estende a Viola? A grande questão é que o público não teve tempo de se identificar com ela nem de comprar sua história antes de ela trair Mavi --que, naquele momento, ainda parecia bonzinho. Toda a trama de Viola e Rudá foi apresentada tão rapidamente que, até hoje, o público não engoliu o casal. O grupo de discussão também mostrou isso.

A justificativa da "paixão avassaladora" não colou porque não houve tempo para que a personagem se mostrasse dividida, com grandes conflitos internos. A impressão que ficou foi a de que a culinarista traiu Mavi apenas por se sentir atraída por Rudá, num ato puramente físico. Portanto, ela teria sido fria o suficiente para não pensar nem no noivo, nem em Luma (Agatha Moreira), sua melhor amiga e namorada do caiçara.

Ou seja: parece que nada a levou para a traição, como em tantos outros casos. "Geralmente, a pessoa não banca uma vida sozinha. Ela não separa porque não tem dinheiro, ou porque não tem coragem mesmo, de como isso seria visto pelos outros. 'Se eu me separar, como vão me ver? Eu vou ficar sozinho, vou ficar sozinha?'", explica a psicóloga.

"Também tem gente que não separa porque... Em geral, o homem, ameaça destruir a vida da mulher e não deixar os filhos terem contato. Então, sim, tem muitas coisas que levam a traição. Não dá para dizer qual o motivo, porque tem muitos. E o julgamento vem de cada religião, estilo de vida, da história de cada um...", complexa.

Ou seja: o público precisa ser muito bem convencido para comprar histórias nesse sentido. O que não deixa de ser um tanto hipócrita, já que oito em cada dez brasileiros em relacionamentos monogâmicos já traíram. Ao menos, é o que aponta a pesquisa Radiografia da Infidelidade e Infiéis no Brasil, realizada em 2022. É o típico caso do "faça o que digo, mas não o que faço".

"Muito do julgamento da infidelidade ainda está em cima ainda de valores cristãos. É pecado. Trair na Igreja Católica é muito condenado, e em outras igrejas também", arremata a terapeuta familiar. 

Por outro lado, os altos índices de traição escancaram também a banalização da intimidade sexual. "A facilidade de acesso a outras pessoas nos aplicativos está levando muita gente a trair. Você está lá, olha, dá um tempo, procura alguém, transa e acabou. As pessoas têm esse sexo consensual de graça. Não precisa pagar uma prostituta, um garoto de programa; vai ter um caso e acabou. Ficou muito fácil, e a pornografia nas telas também."

Mas, voltando ao caso da novela, há ainda mais um agravante: ao que tudo indica, Mavi é um psicopata. E ele tem o poder de convencer o público de sua própria narrativa.

"Psicopatas são extremamente sedutores, inteligentes. Eles mentem para caramba, acreditam nas suas mentiras e persuadem os outros. Então, muita gente cai na manipulação de psicopatas e narcisistas perversos e não tem noção de que está caindo, porque eles são muito queridos. São pessoas que não fazem os outros suspeitarem da maldade que têm por trás, e o público costuma ser seduzido por esses personagens", finaliza.

Mania de Você é escrita por João Emanuel Carneiro. A direção artística é assinada por Carlos Araujo.


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