Vale Tudo traz Odete Roitman atualizada com racismo sofisticado: 'Retrógrada'

Debora Bloch começou a gravar suas cenas como Odete Roitman no remake de Vale Tudo, que estreia no próximo dia 31 na Globo. Ela adianta que a vilã foi atualizada, mas traz muito do que se viu na primeira versão da novela em 1988. Com a ricaça icônica, a trama vai abordar um "racismo sutil e sofisticado" agora, aponta Bella Campos, atriz que interpreta a nova Maria Fátima: jovem negra e extremamente ambiciosa.

"Ela é retrógrada, ultrapassada e racista. Odete é uma personagem muito preconceituosa, classista e que, infelizmente, está muito atual ainda", diz Debora Bloch.

O remake de Vale Tudo tem sido reescrito pela autora Manuela Dias na intenção de conquistar uma nova geração de telespectadores, mantendo a essência dos personagens que marcaram a história da televisão brasileira. Odete é o papel mais emblemático da história.

Por isso, a Odete Roitman de Debora Bloch mantém características que fizeram a vilã inesquecível, como seu comportamento manipulador. Porém, a atriz aponta que a atualidade da personagem vai além da sua personalidade.

"Ela continua preconceituosa, fala coisas horríveis como se fosse a coisa mais normal do mundo. Infelizmente, é uma personagem que está aí ainda, que é atual. Por mais que tenhamos evoluído em muitas questões, o preconceito e o racismo ainda são uma realidade", explica Debora.

Odete vai levar rasteira

Na nova versão, Odete se verá numa situação mais complexa com a personagem Maria de Fátima, porque a releitura do clássico optou por colocar atrizes negras no protagonismo, com Raquel (Taís Araujo) e Maria de Fátima --antes defendidas por Regina Duarte e Gloria Pires, respectivamente.

Para Bella Campos, essa será uma oportunidade única de discutir o racismo de forma sutil e sofisticada, uma questão cada vez mais presente na sociedade. "A Maria de Fátima está ali a serviço de Odete. Ela usa as pessoas para atingir seus próprios objetivos, sempre sob o ponto de vista de que ela sabe o que é certo", afirma a atriz.

Apesar de a vilãzona ser controladora, ela subestimar Maria de Fátima, antecipa Debora. A jovem golpista surpreenderá Odete.

"Ela acha que pode manipular, que a Maria de Fátima é uma pessoa manipulável, mas vai levar uma rasteira. Eu acho que isso vai ser um momento importante para refletirmos sobre como o racismo se disfarça nas relações cotidianas", avisa a intérprete de Odete.

No entanto, Odete abraça uma gama de temas conservadores e ultrapassados. Ela despreza o Brasil, mas suga suas riquezas. Também se mantém presente na saga a luta pelo poder e o lugar da mulher na sociedade.

Debora Bloch destaca que a falta de representação feminina em cargos de poder na vida real contribui para a perpetuação de leis que não atendem aos direitos das mulheres. "No nosso Congresso, a quantidade de mulheres é muito pequena, e enquanto homens continuarem dominando esses espaços, as mudanças não vão acontecer", comenta a atriz.

A expectativa é que o remake de Vale Tudo não apenas traga de volta os velhos dilemas enfrentados no final da década de 1980, mas abra espaço para um debate profundo sobre o preconceito e o racismo que continuam a assombrar a sociedade brasileira.