CRIME
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Samara Felippo com a filha Alícia, de 14 anos; atriz fez boletim de ocorrência por racismo
Samara Felippo registrou um boletim de ocorrência após a filha mais velha, Alícia, de 14 anos, ser alvo de ofensas racistas no colégio na última segunda (22). As duas alunas que cometeram os ataques foram suspensas pela Vera Cruz, escola de alto padrão de São Paulo, mas a atriz exige a expulsão das adolescentes.
A artista relatou ao G1 que duas alunas do 9º ano pegaram um caderno de Alícia, fruto de seu relacionamento com o jogador de basquete Leandrinho. Elas escreveram uma ofensa de cunho racial em uma das páginas, além de terem arrancado algumas folhas.
Mais tarde, o caderno foi devolvido aos achados e perdidos. "Todas as páginas, de um trabalho de pesquisa, elaborado, caprichado, valendo nota, feito por ela, foram arrancadas violentamente. Dentro do caderno havia a frase [racista]", reclamou Samara em uma carta a um grupo de pais da escola.
A atriz, que também é mãe de Lara, de dez anos, ainda não decidiu se vai tirar a primogênita da escola. "Estou digerindo tudo e talvez nunca consiga, cada vez que olho o caderno dela ou vejo ela debruçada sobre a mesa refazendo cada página dói na alma. Choro. É um choro muito doído. Mas agora estou chorando de indignação também", desabafou.
O G1 também obteve o comunicado enviado pela escola aos familiares dos estudantes, no qual o colégio afirma que Alícia procurou a professora e a orientadora após ler as ofensas.
"Imediatamente foram realizadas ações de acolhimento à aluna, de comunicação a todos os alunos da série, bem como a suas famílias. Desde o primeiro momento, mantivemos contato constante com a família da aluna vítima dessa agressão racista, assim como permanecemos atentos para que ela não fique demasiadamente exposta e seja vítima de novas agressões", afirmou o colégio na carta.
Na terça (23), duas alunas assumiram a autoria dos ataques e foram até a escola acompanhadas pelos pais. Elas foram suspensas por tempo indeterminado.
"A suspensão se encerrará quando entendermos que concluímos nossas reflexões sobre sanções e reparações, que ainda seguimos fazendo --fato também comunicado a todas as famílias diretamente envolvidas. Ressaltamos que outras medidas punitivas poderão ser tomadas, se assim julgarmos necessárias após nosso intenso debate educacional, considerando também o combate inequívoco ao racismo", informa o comunicado.
Samara Felippo confirmou ao G1 que exigiu a expulsão das estudantes e reclamou da omissão da escola. "Pedi expulsão das alunas acusadas pois não vejo outra alternativa para um crime previsto em lei e que a escola insiste relativizar. Fora segurança e saúde mental da minha filha e de outros alunos negros e atípicos se elas continuarem frequentando escola. Não é um caso isolado, que isso fique claro", discursou a artista.
Eu sinceramente quero que as pessoas envolvidas, agressoras, né, que são meninas de 15, idade da minha filha, se reabilitem mesmo. Eu quero bem delas, eu não quero mal de ninguém. Eu só quero que não convivam no mesmo espaço, onde poderão futuramente humilhar novamente e ofender e cometer outros atos de racismo contra ela.
A atriz afirmou que a filha demonstrou vontade em conversar com as alunas para entender o motivo dos ataques: "Foi ela que pediu uma reunião com as garotas. Ela foi super bonita, digna, forte, empoderada, entender, né? Tentar olhar na cara delas, entender o motivo daquele ato tão agressivo, tão violento e explicar para elas que isso é crime, que ela sabe que isso é crime".
Samara fala sobre com racismo com as filhas desde que elas eram pequenas. "Eu disse que o racismo poderia, infelizmente, visitá-las na vida delas. E eu acho que quando ela se prontificou para querer estar com as meninas, em uma sala, para entender o motivo que aquelas meninas tinham feito aquilo, eu perguntei na hora se ela estava forte para isso. E ela disse sim", contou.
A artista também relatou que as filhas já foram vítimas de preconceito racial antes. "Ela queria não enxergar. Doía ver, só queria fazer parte de uma turma e era excluída de trabalhos, grupos, passeios, aceitava qualquer migalha e deboche feito pelas mesmas garotas, e seu nome sempre era jogado em fofocas, 'disse me disse' e culpada por atos que não cometia".
Samara pretende levantar um debate sobre as atitudes necessárias para que a escola seja considerada antirracista.
"Tem algumas coisas na escola que eu não concordo. A política de cotas que eles adotam vai só até o quinto ano. Então, um adolescente negro que vai para a escola no sétimo, no oitavo, no nono ano, não vai se sentir representado, vai ser um ambiente hostil, majoritariamente branco. Eu quero levantar um debate assim: o que é uma escola antirracista de qualidade?", explicou.
"Porque essas meninas [que agrediram a filha da atriz] estudam desde sempre no Vera [Cruz], e cometem um tipo de ato como esse. Então, não está fazendo efeito, você não está fazendo efeito. Tem que refazer, tem que repensar, tem que fazer mais", arrematou.
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