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Manoel Soares

Substituto de Fátima Bernardes é fã de Lázaro Ramos e quer levar Encontro à favela

Sergio Zalis/TV GLOBO

O repórter e apresentador Manoel Soares, que substitui Fátima Bernardes no Encontro - Sergio Zalis/TV GLOBO

O repórter e apresentador Manoel Soares, que substitui Fátima Bernardes no Encontro

FERNANDA LOPES

Publicado em 29/6/2017 - 6h26
Atualizado em 29/6/2017 - 17h36

Após 15 anos de trabalho como repórter na RBS, afiliada da Globo no Rio Grande do Sul, Manoel Soares atingiu um novo patamar na carreira. No último feriado de Corpus Christi (15), o ex-morador de favela e filho de faxineira estreou na apresentação do Encontro como substituto de Fátima Bernardes, ao lado de Ana Furtado e Lair Rennó.

Destaque no programa com reportagens sobre o cotidiano das periferias, ele se inspira em artistas como Lázaro Ramos. E reconhece que, para profissionais negros de origem humilde, o caminho para o sucesso é mais longo.

"Não acho que estamos perto de acabar com o racismo. Eu não posso me ter como ponto de referência porque sou um rapaz que está trabalhando na Globo. A referência é o menino que atende na lanchonete. Como ele é tratado? Precisamos de mais representatividade. Infelizmente eu, o Lázaro, a Taís [Araújo], nós somos ainda anomalias sociais. Não somos a regra, temos muito o que evoluir", afirma.

O jornalista de 37 anos já enfrentou (e denunciou) preconceito nas redes sociais, mas afirma que a exposição na mídia lhe trouxe muito mais experiências positivas e edificantes do que negativas. O recente reconhecimento nacional tem surpreendido o repórter.

"Esperava que tivesse um pouco mais de rejeição, porque toco em temas espinhosos. Mas tem sido superbacana. Quando vou às comunidades, a galera fala: 'Você é o negão da Fátima, né?'. Por mais que ainda não saibam meu nome, tem uma questão de identificação racial e conexão local. Quando eu era criança, minhas referências de negão na televisão não eram legais. Estou aparecendo na TV e não é em condição pejorativa, não é como bandido", explica.

reprodução/instagram

O apresentador Manoel Soares e o ator Lázaro Ramos em encontro após peça de teatro

Repórter da quebrada
Antes de ser contratado para trabalhar na televisão, Soares viu o crime de perto. Nascido em Salvador, ele se mudou para Porto Alegre na infância e cresceu em comunidades carentes. Com seis irmãos, a família enfrentou muita dificuldade. "Chegar aqui é um absurdo. Eu tenho poucos amigos de infância, muitos estão mortos, presos", relata.

Após trabalhar como pedreiro e vendedor, Soares estudou jornalismo e começou a carreira no canal educativo TVE. Ele apresentava um programa sobre hip-hop e chamou a atenção da RBS, que o contratou especificamente para "trazer a favela para a TV": fazer reportagens sobre questões da periferia pelo ponto de vista de um nativo da "quebrada".

O trabalho de Soares foi notado primeiramente por Caco Barcellos, que o levou para o Profissão Repórter. Posteriormente, ele começou a fazer reportagens locais para o Encontro e a ser elogiado ao vivo por Fátima Bernardes.

"[Encontro] É o programa da Globo com que eu mais me identificava, pela capacidade que ele tem de transitar nos assuntos. Fui surpreendido [pelo convite para apresentar o programa], ainda estou me situando no processo. É uma responsa danada, sou um dos primeiros jovens negros de periferia a apresentar na Globo. Então é algo que pesa, você coloca aí toda sua história", reflete.

artur meninea/gshow

Lair Rennó , Ana Furtado e Manoel Soares na edição do programa Encontro do último dia 16

Conexão social
Em paralelo com o emprego na TV, Manoel cuida de vários projetos sociais no Rio Grande do Sul. Ele é coordenador estadual e um dos fundadores da Cufa (Central Única de Favelas), organização que tem iniciativas políticas, esportivas e culturais e busca encontrar soluções que melhoram a vida de moradores de favelas.

Autor de dois livros infanto-juvenis que abordam a influência das drogas na infância e adolescência, Soares também administra, junto com parentes, uma república para moradores de rua e pessoas em vulnerabilidade.

"É um espaço em que a pessoa pode ficar até dois anos e se reconstruir socialmente. A gente procura dar, mais do que estrutura física, uma relação familiar e um padrão de convivência", conta.

Soares acredita que chegou ao posto de apresentador como consequência da relação próxima que tem com a periferia. Agora, ele quer usar a plataforma do Encontro para ampliar a visão social do telespectador.

"Venho de uma parte da cidade muito invisível e estou disposto a fazer o que for necessário para que exista a conexão entre morro e asfalto. Se você me perguntar: 'Manoel, você vai abordar soluções sociais dentro do programa da Fátima?', [vou dizer:] 'Sim'. Não sei como vai ser, estou começando. Sei que tenho uma carga de valores, objetivos de vida, e quero que eles sigam a mesma linha. Pela relação madura que estou tendo com a Globo, acho que vai rolar", torce.

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