'TRABALHO ÚTIL'
REPRODUÇÃO/TV GLOBO
Debora Bloch em cena de Vale Tudo; atriz considera professora como personagem mais marcante
No ar atualmente como Odete Roitman no remake de Vale Tudo, Debora Bloch revelou que a vilã não é seu papel mais marcante. A atriz considera a professora Lúcia, da série Segunda Chamada (2019-2021), como a personagem que transformou sua vida.
"Esse trabalho mexeu muito comigo. Foi um mergulho profundo na vida dessas professoras de estudos para adultos na periferia, os EJAS [Educação de Jovens e Adultos], em lugares muito precários, desde as instalações das escolas até a vida dos alunos", contou no videocast Conversa Vai, Conversa Vem, do jornal O Globo.
"As professoras têm uma jornada de trabalho enorme, trabalham de dia numa escola e à noite vão dar aula para esses adultos. O comprometimento delas é uma coisa linda, admirável. O pouco que ganham... Ao mesmo tempo, essa segunda chance da pessoas que já vêm de uma precariedade do país, que não tiveram a chance de estudar na idade que deveriam estar na escola", analisou.
"Entrei em contato com esses alunos que, às vezes, fazem uma jornada inteira de trabalho e, no final do dia, cansados pegam uma condução para chegar numa escola de EJA e aprender a ler. Como isso transforma a vida das pessoas. É uma realidade que a gente sabe na teoria. Nós, pessoas que nascemos com todos os nossos privilégios, estudamos e somos conscientes, mas não vivemos esse cotidiano", afirmou.
"Gravamos durantes cinco meses em comunidades, ocupações, onde as pessoas vivem de forma cruel. A segunda temporada foi com pessoas em situação de rua. Gravávamos embaixo de um viaduto em São Paulo. Fizemos um mergulho profundo com pessoas da cracolândia que se recuperaram ou estavam em recuperação", recordou.
Entrar em contato com isso no cotidiano foi transformador para mim. E muito duro. Porque eu passava o dia com as pessoas naquela realidade e depois voltava pra minha casa, deitava na minha cama, limpa, né. E eles continuavam debaixo do viaduto.
"Ver como a sociedade trata com tanta crueldade... Basta ver o padre Júlio Lancelotti. Como uma pessoa é capaz de agredi-lo? É uma realidade que eu tinha consciência, mas não tinha vivido. Passei a ter mais admiração ainda pelos professores, que deveriam ser a profissão mais valorizada de uma sociedade, deviam ganhar mais que todo mundo", reforçou.
"Eu e Joana Jabace [a diretora], a Carla Faour e a Julia Spacaccini [autoras] tínhamos uma grande preocupação para que essas pessoas se sentissem realmente representadas. Que não fizéssemos um trabalho estereotipado, caricato sobre esses professores ou alunos", contou.
"E aí, o maior prêmio da minha vida, foi quando a série foi ao ar na TV aberta, eu andava pelos lugares e professores e professoras vinham falar comigo e me agradecer por se sentirem representadas. Aí eu falei: 'Ai, que bom, meu trabalho sendo útil, sabe?'", valorizou.
Mesmo aclamada pela crítica e pelo público, Segunda Chamada não teve uma terceira temporada encomendada. O último episódio deixou em aberto a possibilidade de uma continuação, já que culminou no protesto dos alunos contra o fechamento da Escola Carolina Maria de Jesus.
A trama conquistou o público por expor a cruel realidade do ensino público brasileiro, focando no curso noturno para jovens e adultos concluírem o Ensino Médio.
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