Viciado em trabalho
Divulgação/RecordTV
Milton Neves na Record em 2003: Debate Bola, Roleta Russa, Cidade Alerta e Terceiro Tempo
DANIEL CASTRO
Publicado em 14/11/2017 - 6h16
Rei do merchandising no jornalismo, Milton Neves, 66 anos, já foi uma espécie de Fausto Silva da Record. Em 2003, ele chegou a apresentar quatro programas simultaneamente. Assim como o colega da Globo, ganhava um salário milionário, mas pagava um preço alto: cinco dias por semana, dormia em um quartinho apertado no próprio emprego.
"Eu morava na Record. Eu saía de casa no domingo de manhã e só voltava na sexta-feira à noite. Eu dormi muito tempo na Record, mesmo quando não tinha mais quatro programas", lembra.
Neves foi contratado da Record durante sete anos, entre 2001 e 2007. Em 2003, apresentou os diários Debate Bola e Cidade Alerta e os semanais Roleta Russa e Terceiro Tempo. E também trabalhava na rádio Jovem Pan, onde encarava longas jornadas aos domingos e quartas-feiras. "Foi uma época louca, maluca, mas também foi uma época maravilhosa", diz.
Milton Neves ainda dorme no trabalho. Duas vezes por semana, passa a noite em uma suíte que mantém em seu escritório, na avenida Paulista, na região central de São Paulo. Perto do "quartinho de empregada" em que morava na Record, sem janela e com cama de solteiro, suas instalações atuais são um apartamento, ele mesmo compara.
Hoje, Neves dorme no escritório porque mora longe, em um condomínio na Grande São Paulo, a duas horas e meia do trabalho. Há 14 anos, ele também fugia do trânsito "pesado" de São Paulo. "Eu saía da Jovem Pan às 2 e meia da manhã e tinha gravação na Record às 9h da manhã. Se fosse para o Campo Belo [zona sul, perto do aeroporto de Congonhas], teria de acordar às 6h", lembra.
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Milton Neves no Terceiro Tempo, então na Record: 32 merchandisings por programa em 2006
O jornalista esportivo sempre foi viciado em trabalho. Durante algum tempo, acumulou o trabalho no rádio com a função de escrivão de polícia. O preço foi não ver seus filhos crescerem. E eles acabaram virando são-paulinos, e não santistas como o pai. "Eu saía de casa, eles estavam dormindo. Eu voltava, eles estavam dormindo", conta.
Neves foi muito feliz na Record, mas diz que deve sua carreira na TV à Band. Foi a emissora que o lançou como apresentador, em 1999, com o programa Supertécnico, em que recebia técnicos de futebol para analisar a rodada do domingo.
"Até 1999, eu achava que era um jornalista rico e famoso. Aí percebi que nem tinha começado no jornalismo", constata.
Com a mudança para a Record, dois anos depois, Neves ganhou dinheiro como nunca. Em 2004, quando já não apresentava mais o Cidade Alerta e o Roleta Russa, que, orgulha-se, fez Silvio Santos tirar o Show do Milhão do ar, o jornalista embolsava mais de R$ 1,2 milhão. Era um dos maiores salários da televisão, só competitivo para Fausto Silva, Gugu Liberato e Carlos Massa, o Ratinho.
Neves bateu um recorde de merchandising no Terceiro Tempo. Foram 32 ações durante a Copa de 2006. "Eu cheguei a fazer quatro horas de Terceiro Tempo. Tirei o Boris [Casoy] do ar", festeja. Na época, Casoy apresentava um programa de entrevistas, o Passando a Limpo, depois do esportivo de Milton Neves. Teve de ceder espaço para dar tempo de Neves fazer todos os merchans.
A jornada de Milton Neves na Record terminou porque Roberto Justus o seduziu com uma proposta que o transformaria em um Silvio Santos do futebol. Neves rescindiu contrato com a emissora, mas o projeto de Justus na Band não vingou. O jornalista esportivo, de repente, se viu desempregado. E tratou de processar Justus, que considera o "sujeito mais cruel" que já conheceu.
Hoje, o inspirador do Merchan Neves, personagem do Pânico, se vê fazendo escola. A Globo estuda liberar suas estrelas do jornalismo esportivo, como Galvão Bueno, Cléber Machado e Fernanda Gentil, a fazerem publicidade e ações de merchandising na TV. Se isso acontecer, Neves vai lavar a alma. "Estão enchendo meu saco há 35 anos", recorda.
Reportagem da Veja em 2004 mostrou o quarto em que Milton Neves dormia na Record
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