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Jogo dos sete erros: SBT tropeça no básico e sentencia nova grade ao fracasso

REPRODUÇÃO/SBT

Patati e Patatá fazem caretas e palhaçadas em um cenário colorido

A dupla de palhaços Patati Patatá comanda o Bom Dia & Cia, que sofre no meio de dois jornalísticos

LUCIANO GUARALDO

luciano@noticiasdatv.com

Publicado em 31/5/2025 - 6h10

O SBT lançou na última segunda (26) a primeira etapa de sua programação para 2025, em um processo escalonado que se estenderá até 9 de junho (se as próximas estreias não forem adiadas novamente). Apesar de a mudança ser recente e ainda estar incompleta, já é possível apontar tropeços graves da direção da emissora no planejamento. Com sete erros difíceis de justificar, a nova grade está fadada ao fracasso.

Logo no seu primeiro dia, Luiz Bacci já levou uma lapada de Eleandro Passaia na audiência: o Balanço Geral SP conseguiu vencer a estreia do Alô, Você sem nenhuma dificuldade. O SBT também passou quase 15 horas seguidas na terceira colocação, mais próximo da Band do que da Record.

O Notícias da TV fez um jogo dos sete erros para apontar por que a nova programação do SBT dificilmente dará certo. Confira:

1) Palhaços como recheio de jornais

A volta do Bom Dia & Cia, por si só, poderia ser destrinchada em um texto de sete erros à parte, mas a ideia de colocar Patati Patatá entre o Primeiro Impacto e o Alô, Você beira o amadorismo. Os espectadores do noticiário matinal não têm nada em comum com o do infantil, e as crianças que veem os palhaços também não desejam assistir ao policialesco de Bacci.

Em pouco mais de duas horas, o SBT tenta promover duas transições completas de seu público, sem nenhum elemento que prenda quem está diante da televisão para continuar vendo a atração seguinte. Não foi por acaso, afinal, que o Bom Dia & Cia criou abismos na audiência da emissora em todas as suas exibições até o momento.

A iniciativa de Daniela Beyruti de retomar a programação infantil é louvável e vai ao encontro de um princípio de Silvio Santos (1930-2024) de criar hoje o público do SBT de amanhã. Contudo, colocar a dupla Patati Patatá jogada no meio de dois telejornais adultos não faz o menor sentido.

2) Reforços no elenco ficam só na Grande São Paulo

Para sua programação deste ano, o SBT realizou duas contratações notáveis: Luiz Bacci e Felipe Macedo, o Macedão da Chinelada (que era um fenômeno de audiência no Paraná e apontado como um novo Ratinho). Mas, em uma decisão questionável --para dizer o mínimo--, os dois apresentadores vão comandar programas exibidos apenas para a Grande São Paulo.

Bacci, apesar de sua tendência ao sensacionalismo e à exploração de dramas em excesso, é dono de um grande apelo com o público nacional --não à toa, conseguia ótimas audiências à frente do Cidade Alerta, da Record. E Macedão, para se tornar um nome conhecido em todo o país, precisa ser exposto para todo o país e não ficar restrito a uma região --por mais importante que São Paulo seja para a Kantar Ibope e para o mercado publicitário.

Aqui vale apontar também o caso de Daniele Brandi, que tem segurado o rojão deixado por José Luiz Datena no Tá na Hora. A âncora tem jogo de cintura, carisma e se sai muito bem na transição do Fofocalizando para o policial. Seu prêmio pelo bom desempenho? Vai ser rebaixada de um programa nacional para o novo Aqui Agora, apenas local --e deixará de ser uma apresentadora solo para dividir o policialesco com Macedão.

3) A Caverna Encantada ganha horário kamikaze

Lançada em julho do ano passado, A Caverna Encantada passa longe de repetir o sucesso de outras tramas infantis do SBT, como Carrossel (2012) ou mesmo As Aventuras de Poliana (2018). Mas isso não justifica o desleixo com que a direção da emissora decidiu tratar a novelinha.

Desde a última segunda, os capítulos inéditos são exibidos às 13h45, com reprise às 21h05. Como Daniela Beyruti explicou, o horário original era tardio demais para o público infantil, mas não faz nenhum sentido colocar a novela no ar em uma faixa em que as crianças estão na escola.

O público adulto que acompanha A Caverna Encantada --e, como o Notícias da TV já apontou, a maior parte dos espectadores da novelinha é formada por mulheres acima dos 60 anos-- também não mudará seus hábitos para prestigiar a história de Anna (Mel Summers) no início da tarde. Afinal, quem exatamente o SBT quer atrair para a frente do televisor nesse horário?

4) Aqui Agora sem sensacionalismo?

O retorno do Aqui Agora é uma aposta bastante ousada do SBT. Afinal, nos anos 1990, o formato fez história com sua proposta fora da caixinha de jornalismo, para o bem ou para o mal --o programa chegou a exibir uma jovem que tirou a própria vida ao vivo, em um caso extremo de sensacionalismo. 

Fica a dúvida, porém, de como o noticiário vai se encaixar na nova determinação da presidente do SBT, que pediu que notícias policiais e sanguinolentas fossem substituídas por histórias construtivas e vídeos de bichinhos fofos. Que Aqui Agora é esse?

Também vale apontar que, antes da estreia, passaram a circular notícias de que o programa colocará uma pessoa com nanismo para apresentar a previsão do tempo, além de um repórter mudo. A inclusão é sempre bem-vinda, claro, mas, dado o histórico do SBT com pessoas com deficiência, existe alguma possibilidade de isso ser feito de maneira não apelativa?

5) Chaves e Chapolin fora do horário nobre

Desde que voltaram à programação diária do SBT, os mexicanos Chaves (1973-1980) e Chapolin (1973-1979) têm sido responsáveis por algumas das maiores audiências da emissora no horário nobre. Quando a nova grade estiver totalmente implementada, porém, os dois programas perderão espaço. Eles serão exibidos apenas na hora do almoço, só para a Grande São Paulo, e como tapa-buraco de afiliadas que não conseguem sustentar todo o horário local com produções próprias.

Além de uma afronta aos fãs de Roberto Gómez Bolaños (1929-2014), o sumiço das atrações ainda vai prejudicar a audiência do Programa do Ratinho, que tem se dado bem ao surfar no público que sintoniza o SBT para ver os clássicos. Para piorar, a Max estreia em 5 de junho a minissérie Chespirito: Sem Querer Querendo, uma biografia sobre a vida do humorista mexicano, o que deve aumentar o interesse do público por Chaves e Chapolin.

6) Incerteza para o segundo semestre

O SBT já está lançando sua programação para 2025 com atraso --tradicionalmente, as emissoras estreiam suas novidades entre março e abril, depois do Carnaval, quando "o ano começa de verdade no Brasil". Mas, mesmo depois que terminar a terceira etapa de implementação, com programas como o No Alvo e a volta do SBT Repórter, ainda haverá incertezas na grade.

Christina Rocha vai retornar com o Casos de Família, mas apenas quando a reprise de A Usurpadora chegar ao fim. O drama mexicano As Filhas da Senhora Garcia também só será lançado depois que A Caverna Encantada acabar. Quando isso vai acontecer? Ninguém sabe exatamente.

O The Voice Brasil, comandado por Tiago Leifert e anunciado pela emissora em março, também não tem previsão de estreia. A ideia é que ele entre no ar no segundo semestre, mas só depois de ser exibido pelo Disney+.

7) Sensação de constante improviso

É natural e até positivo que uma emissora tenha flexibilidade para ajustar os problemas de sua grade e buscar mais público e receita publicitária, mas o SBT passa uma sensação mambembe, de que tudo é feito no improviso e às pressas. Não dá para sentir confiança em algo construído sem estrutura.

O novo SBT Repórter, por exemplo, vai ser comandado por Cesar Filho e por Silvia Abravanel, mas a filha de Silvio Santos só foi informada de sua escalação para o programa ao mesmo tempo que o público, durante o evento de lançamento da nova programação. Ao ser questionada sobre quem apresentaria a atração, Daniela se virou para a irmã e fez o convite ali mesmo, na frente da imprensa e do público que assistia a tudo pelo YouTube.

A própria presidente do SBT também afirmou, no mesmo evento, que a grade era uma aposta e que tudo poderia ser trocado caso não desse certo. "Se der certo, mantém. Se der errado, troca", resumiu Daniela Beyruti. Que marca vai querer patrocinar um programa que pode acabar amanhã? E quem vai dedicar uma parcela do seu dia a uma história que talvez não tenha conclusão?

O SBT se descreve como "a TV mais querida do Brasil" e há, de fato, um carinho dos telespectadores (em especial os de São Paulo) pela emissora fundada por Silvio Santos. Mas fica difícil defender executivos e diretores que cometem erros tão grandes e com tanta frequência.


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