Ilze Scamparini quase não fez ao papa pergunta sobre gays que dividiu a Igreja

Ilze Scamparini participa da cobertura da Globo no funeral do papa Francisco (1936-2025), realizado neste sábado (26). Em meio à despedida do pontífice, a jornalista relembrou um dos momentos mais marcantes de sua carreira: a pergunta feita ao argentino sobre a posição da Igreja Católica em relação aos homossexuais, que gerou um dos maiores debates internos da história recente da instituição.

O episódio aconteceu há 12 anos, durante um voo. Ilze contou que entrou na aeronave com uma "espécie de intuição" e se colocou na fila para questionar o pontífice. Mesmo com o braço levantado por muito tempo e após o porta-voz do Vaticano encerrar a entrevista coletiva, Francisco pediu que ela fosse autorizada a falar. "Num gesto com a mão, ele me chamou", relembrou.

Antes de perguntar, ela pediu licença ao papa para tocar "em um assunto delicado". Francisco consentiu, mas ficou visivelmente sério e, segundo Ilze, um pouco nervoso. No entanto, sua resposta entrou para a história. "Quem sou eu para julgar?", disse o papa, ao ser questionado sobre homossexuais.

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A fala, inédita em uma instituição que por séculos julgou de forma impiedosa, causou comoção entre progressistas e revolta entre ultraconservadores. "Oito ou nove horas depois, a gente pousou em Roma e a confusão estava armada. Começou um debate na Igreja que até hoje não terminou", relembrou Ilze.

A jornalista contou que saiu do encontro emocionalmente abalada e foi tranquilizada pelo então porta-voz do Vaticano, padre Federico Lombardi, que apertou seu braço e disse: "Fique tranquila, o papa gostou da pergunta".

Segundo Ilze, embora Francisco tenha agradecido publicamente, ele não sorria mais. "Eu ainda sinto um impacto no meu sistema nervoso quando me lembro daquele momento", confessou.

Francisco passou os anos seguintes tentando abrir a Igreja a temas progressistas e, apenas recentemente, conseguiu autorizar oficialmente bênçãos a casais do mesmo sexo. Para Ilze, apesar da resistência, o gesto foi um "passo enorme" para uma instituição tão marcada pelo conservadorismo.

No funeral do papa, grandes autoridades mundiais prestaram sua homenagem na Praça de São Pedro. Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Donald Trump, Volodymyr Zelensky e príncipe William marcaram presença na despedida de Francisco.